Alunos do curso de Direito e uma diminuta plateia assistiu, ontem à tarde, o julgamento de um acusado de tentativa de homicídio. No corpo de jurados, quatro mulheres e três homens foram sorteados para analisar o caso. Seria mais uma sessão normal, não fosse o fato do réu e da vítima, na época dos fatos, terem furtado uma bicicleta para manter o vício no crack. No desenrolar, Diego Dutra, 27 anos, desferiu golpes de faca contra Anderson Cassiano da Silva Ribeiro, 28 anos, que sobreviveu.

O crime foi praticado no entardecer do dia 2 de setembro de 2008, no bairro Coronel Brito. Em plenário, Dutra declarou que naquela época, fumava cerca de 20 pedras de crack por dia. “E cada uma custava R$ 5 e o seu efeito dura um minuto”, disse ele ao juiz João Francisco Goulart Borges, que o interrogou.
Como não trabalhava e também usava maconha, cocaína e álcool, fazia pequenos furtos para manter o vício. Costumava furtar bicicletas e qualquer outro objeto que pudesse ser vendido ou trocado pela droga. Em uma das vezes, revelou em depoimento, ele e a vítima furtaram cadeiras de praia para saciar o vício.
No dia do fato, Dutra e Ribeiro estavam caminhando, quando avistaram uma bicicleta escorada em frente ao prédio de uma farmácia. Não tiveram dúvida: furtaram a bicicleta e fugiram em direção a uma mata, no bairro Coronel Brito. Lá, desmontaram a bicicleta e Dutra saiu com as duas rodas para vendê-las e comprar pedras de crack. O resto do quatro ficou sob os cuidados de Ribeiro e de um terceiro indivíduo.
As horas passaram e Dutra não voltou com a droga e então os dois ‘parceiros’ decidiram vender o resto da bicicleta para comprar crack. Fizeram isso e quando Dutra voltou, se irritou ao saber que eles já tinham vendido o que havia restado da bicicleta.
Armado com uma faca de serrinha – e que estava bem afiada -, Dutra passou a golpear Ribeiro. Segundo disse em plenário, foram cinco facadas. O laudo de necropsia mostrado pelo promotor Sérgio Diefenbach refere que a vítima foi atingida no pescoço, no estômago, no peito e nas costas.
Sangrando, Ribeiro fugiu correndo e se refugiou dentro de um salão de beleza. Uma testemunha, que acionou a Brigada Militar, referiu que ele segurava os intestinos e desmaiou. Dutra foi até a porta do estabelecimento, mas não entrou.Socorrido, Ribeiro permaneceu 15 dias internado, até fugir da casa de saúde. “O vício o fez fugir e procurar pela droga”, referiu o promotor.
PREOCUPADOEm sua manifestação, Sérgio Diefenbach, que atua em Lajeado, mas substituiu o promotor Pedro Rui da Fontoura Porto, mencionou que o crack é o motivador de muitos crimes. Falou da preocupação com os usuários e explicou que a condenação do réu é mais um passo para a sua salvação. “Essa pena pequena é uma ajuda de salvação ao Diego”, disse.
Diefenbach, que pediu a condenação por tentativa de homicídio, entende que podem ser impostas condições para que o réu siga o tratamento que faz no Centro de Atendimento Psicossocial álcool e Drogas (Caps AD) e possa ser acompanhado. Dutra disse que está há cinco meses na abstinência de todas as drogas, tudo graças a sua companheira e por ter se mudado para o interior de Mato Leitão.
Ao final da sessão, Goulart Borges leu a sentença: Dutra foi condenado a 3 anos, um mês e dez dias de reclusão, a serem cumpridos em regime aberto. A defesa do réu foi feita pelo defensor público nomeado, álisson de Lara Romani, de Porto Alegre. A próxima sessão está marcada para o dia 21 de outubro, a partir das 9h. Será analisada uma tentativa de homicídio, praticada há de anos.