Foi a esperança de cura que levou-a ao encontro do amor. A possibilidade de deixar de lado a insulina diária trouxe a artista, também, a Venâncio Aires. E foi aqui, na Capital Nacional do Chimarrão, que Camila Lagoeiro, 31 anos, encontrou a esperança de dias melhores, de uma vida longa e feliz.
Desde que foi diagnosticada com diabetes tipo 1, aos 11 anos de idade, ela segue em tratamento ininterrupto para a doença. Doses diárias de insulina são necessárias toda vez que ingere algum alimento. Os médicos foram enfáticos no diagnóstico: não há cura. Mas Camila queria mais respostas, mais possibilidades. “Eu pensei: não é possível que eu seja obrigada a conviver com isso por toda a minha vida. Eu não nasci para ser condenada ao diabetes”, ressalta.
Natural de Campinas, no estado de São Paulo, Camila morava com a família na cidade natal. Em busca de cura para a doença, em uma pesquisa na internet, encontrou a esperança. O médico Yamil Chihuantito, que atende em São João da Boa Vista (também em São Paulo), estava recrutando pessoas para um retiro de 30 dias. O profissional defende que o diabetes pode ser revertido por meio de uma alimentação vegana, com ingestão exclusiva de alimentos crus.
A possibilidade de cura fez com que Camila não pensasse duas vezes na proposta. Entrou em contato com o médico e foi participar do retiro no local que ficava 124 quilômetros de distância de onde morava. Junto dela, mais duas mulheres com diabetes tipo 2 e uma com obesidade mórbida.
Foi durante o retiro que Camila conheceu o santa-cruzense Régis Silveira, 32 anos, que reside em Venâncio Aires há 24. Ele é enfermeiro e fazia parte da equipe de atendimento às pacientes durante todos os dias de retiro. É por isso que o tratamento alternativo trouxe mais que a possibilidade de cura para Camila, trouxe também o amor. Os dias de tratamento terminaram, mas o namoro continuou. “A minha vantagem é que trouxe o enfermeiro pra casa”, brinca.
Régis foi até Campinas depois do retiro e ficou uma temporada pela região ministrando workshops de culinária crudivegana (alimentação vegana e crua). Foi em dezembro de 2018 que Camila decidiu vir morar em Venâncio Aires. Ela trabalhava havia 10 anos em uma editora, fazendo ilustração de livros infantis, mas com a baixa do mercado editorial nos últimos tempos, o quadro de funcionários precisou ser diminuído. “Meu chefe me chamou para um acordo e eu percebi que era hora de novos rumos”, conta.

Registro da história do município por meio da arte
As habilidades com desenho e pintura surgiram naturalmente, desde a infância. “Sou pintora e desenhista desde que me conheço por gente”, relata Camila. Ela participou de concursos de artes em Campinas e desde o tempo de escola ganhou prêmios. “O videogame e computador que tenho foram prêmios de concurso”, diz.
Em 2006, ingressou na Faculdade de Artes Visuais da Pontifícia Universidade Católica (PUC Campinas). Depois disso, fez também uma pós-graduação na área de artes pela Universidade de Campinas (Unicamp).
Camila já fez exposições de seus trabalhos em salões de arte no Piauí e em Buenos Aires. Suas obras compõem desenhos com traços suaves, pinturas e técnica ‘lettering’, que são letras desenhadas.Desde que chegou ao município, a artista busca referências locais para suas peças. Primeiro, ela pintou a imagem de São Sebastião Mártir, uma peça que estima que levou 25 horas para concluir.
Agora, finaliza o desenho de Venâncio Aires, o jornalista brasileiro e precursor das ideias republicanas e abolicionistas que dá nome ao município. “Minha intenção é ajudar de alguma forma a comunidade com esse trabalho, ter a imagem de quem deu nome ao município”, comenta. Ela diz que ao pesquisar não encontrou imagens realistas de Venâncio.A intenção, agora, é registrar os pontos turísticos da Capital do Chimarrão. “Tem tantos lugares lindos aqui, quero fazer o registro deles”, diz.
PLANOS1 Recentemente, Camila firmou uma parceria para ministrar aulas de desenho no Espaço das Artes. Bailarina de dança do ventre, procura também onde atuar com a modalidade no município.2 Ela quer continuar a produzir e já se informou para adquirir a carteira de artesão e comercializar seus trabalhos em eventos. Hoje, muitas das peças são vendidas por meio da conta na rede social Instagram (camilalagoeiro.art).3 Camila se sente feliz e realizada no lugar que escolheu para viver que, segundo ela, é muito inspirador. “É um lugar que eu sempre sonhei. Em cidade grande parece que a arte perdeu o coração, a essência”, relata. Ela diz que aqui sente que o trabalho feito à mão é valorizado, enquanto que onde vivia a tecnologia predomina.

“Venâncio é uma cidade inspiradora, muito propícia para trabalhar com artes.”CAMILA LAGOEIROArtista plástica
A alimentação para a curaCamila não come carne há oito anos, mas desde que participou do retiro a alimentação passou a ser totalmente vegana e com alimentos crus. O namorado, Régis, também é vegano e come vegetais crus há mais tempo.
Ela conta que as outras pacientes que fizeram o retiro tinham um tipo de diabetes menos agressiva e, com a mudança na alimentação, ficaram inclusive sem utilizar medicamento durante o tratamento. “Eu ainda não consegui deixar de usar medicamentos, mas já percebi uma evolução muito grande”, conta. Ela diz que se sente mais disposta, percebeu melhora na visão e na circulação, pois antes ficava muito inchada. “Minha alimentação é baseada em frutas, vegetais e sementes, tudo cru”, afirma.