Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateFarmacêuticos Anderson e Marlon comentam que é comum depararem com receitas médicas que têm letras difíceis de serem entendidas
Farmacêuticos Anderson e Marlon comentam que é comum depararem com receitas médicas que têm letras difíceis de serem entendidas

Há muito tempo se ouve dizer que letra de médico é difícil de entender. Quem mais percebe isso são os farmacêuticos, que em algumas situações, quase precisam de uma ‘bola de cristal’ – como eles costumam brincar – para adivinhar quais os medicamentos estão sendo prescritos por esses profissionais. Em Venâncio Aires, as letras de alguns médicos chegam até a ser motivo de reclamação.

Médicos que entregam receitas com letra ilegível aos pacientes podem sofrer punições que vão desde advertência reservada, quando apenas o médico tem conhecimento, até uma sanção pública, nos casos considerados mais graves. A medida está no próprio Código de ética do Conselho Federal de Medicina (CFM) e deve ser remetida ao conselho regional respectivo. No Rio Grande do Sul, as denúncias podem ser feitas pelo site do Cremers (http://cremers.org.br).

O farmacêutico Marlon Sidnei Kappaun ressalta que o problema mencionado é bastante comum e, de acordo com ele, cerca de 60% das receitas que chegam à farmácia são compreensíveis, enquanto que 35% é possível entender, “mas com muito esforço”, e 5% das receitas são incompreensíveis. “A pessoa precisa ter bagagem e conhecer os remédios para entender o que os médicos estão pedindo. Nós conhecemos o histórico de alguns pacientes e, por isso, sabemos qual o remédio solicitado”, acrescenta. Kappaun explica, ainda, que em caso de dúvidas extremas, é feito contato com o médico para questionar qual medicamento ele receitou.

Segundo o profissional, a maioria das receitas ainda é entregue à mão para os pacientes. Para ele, digitalizar o documento é uma das formas de evitar transtornos, porque “facilita a vida do farmacêutico”, além de não colocar em risco a saúde do próprio paciente.

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateNesta receita, o medicamento indicado pelo profissional é o Alprazolam, mas fica claro que o entendimento não é nada fácil
Nesta receita, o medicamento indicado pelo profissional é o Alprazolam, mas fica claro que o entendimento não é nada fácil

Troca demedicaçãoA presidente da Associação Médica de Venâncio Aires, Sheila Calleari Marquetto, ressalta que uma receita ilegível pode acarretar o problema de troca de medicação: “Como o farmacêutico não entende o que está escrito, a pessoa pode ir na farmácia e receber outro remédio. Isso já aconteceu”. Conforme ela, a troca de medicamentos não costuma ser comum, porque a maioria dos profissionais das farmácias já entende e conhece as letras dos médicos. “Mas a pessoa tem que se esforçar para conhecer, o que não seria o correto”, pondera.

Sheila sugere que sempre quando surgir alguma dúvida os profissionais entrem em contato com o médico para evitar, assim, qualquer problema. Conforme a profissional, o que justifica o fato das letras da maioria dos médicos serem difíceis de entender está relacionado à quantidade de pacientes, que é muito grande. Em função disso, é preciso escrever de forma rápida os nomes dos remédios para conseguir dar conta de toda a demanda de atendimentos, o que faz a letra nem sempre ficar compreensível.

Conforme ela, o que não pode faltar na receita médica é o nome do medicamento, a quantidade a ser comprada e a forma que deve ser ingerida a medicação. Sheila ainda comenta que em relação aos pacientes que necessitam de medicação controlada, as farmácias precisam dos dados deles ou das pessoas que fazem as compras. Além disso, precisam anotar o lote da medicação que foi vendida para manter um controle. “Porque se a vigilância fizer uma fiscalização, a farmácia precisa ter todas as receitas comprovando que realmente foi feita uma receita médica para os medicamentos”, explica.

VALIDADESe a receita médica for do Sistema único de Saúde (SUS), ela vale seis meses. O prazo de validade das prescrições, laudos ou atestados médicos para retirar medicamentos do Programa Farmácia Popular do Brasil, por exemplo, é de 180 dias, exceto para os anticoncepcionais, que têm validade de 365 dias. Receita branca controlada tem validade de 60 dias, enquanto que a azul e amarela, um mês.

O que diz a lei

O Código de ética diz que a receita e o atestado médico têm que ser legíveis e com identificação. Além disso, nele consta que “é vedado ao médico receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível, sem a devida identificação de seu número de registro no Conselho Regional de Medicina da sua jurisdição, bem como, assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos médicos. (Cap. 3, Art. 11).”

Receita digitalizada

Alguns profissionais já adotaram a receita médica digitalizada. O pediatra de Venâncio Aires, Vilson Gauer, trabalha desta forma desde 1995. Ele conta que tem um sistema online onde lança todos os dados do paciente. Além de fazer uma receita legível, o profissional ressalta que se torna interessante a digitalização, porque é possível criar um banco de dados. “às vezes, a pessoa não lembra o remédio, então eu consigo procurar no sistema e ver”, comenta.

Segundo Gauer, pode dar mais trabalho digitar do que escrever à mão, mas a receita digitalizada vale mais a pena justamente porque se consegue ter um acompanhamento melhor em relação ao paciente.

Já a médica Vera Helfer trabalha há sete anos com receitas digitalizadas. “Uso também a manual, mas sempre com uma letra legível, que facilite o trabalho do farmacêutico na hora de fazer a dispensação dos medicamentos”, comenta.

Na opinião dela, em um mundo onde tanta coisa é digital, torna-se fundamental se adaptar às novas tecnologias que vieram para facilitar a relação entre médico e paciente. A profissional observa que os pacientes aprovam a receita digitalizada: “Também evita-se que o paciente tenha que retornar até o consultório para poder compreender a receita”.