Ampliar o acesso da população a médicos especialistas se coloca como um desafio para o Sistema único de Saúde (SUS). Em Venâncio Aires, sobretudo nas áreas da pediatria e ginecologia obstetrícia, a Secretaria Municipal da Saúde diz que faltam profissionais interessados em atuar no pronto-atendimento. Já nas especialidades de reumatologia e endocrinologia, a informação é de que há apenas um médico para atender os 13 municípios da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde, a qual pertence o município.
De acordo com Rosane da Rosa, que atua como secretária-adjunta da Saúde no Município, a dificuldade não está em atrair médicos para atuar na atenção básica. “A principal dificuldade que a gente percebe é para encontrar profissionais interessados em atuar junto ao serviço de pronto-atendimento, porque esses profissionais podem ser chamados para atuar a qualquer hora e a maioria dos profissionais, hoje em dia, já não quer mais ter essa sobrecarga de atividades, de plantões em fins de semana.” Em função disso, os que se dispõem a atender pelo SUS acabam tendo uma rotina de trabalho mais intensa.
Segundo Rosane, o município conta atualmente com quatro ginecologistas obstetras na rede pública. Já os pediatras também são quatro, mais um que está de licença.
Nas especialidades da reumatologia e endocrinologia, a secretária-adjunta conta que a população só encontra atendimento pelo SUS em Santa Cruz do Sul, sendo apenas um profissional em cada uma das áreas para atender os 13 municípios da 13ª Coordenadoria. Ela explica que até há profissionais atuando em Venâncio Aires nessas áreas, mas eles não atendem pelo SUS.
Para atrair mais médicos, Rosane salienta que o Município tem investido em infraestrutura, realizado concursos públicos e possui um bom plano de carreira. Para tornar os cargos mais atrativos na rede básica, por exemplo, lembra que também se apostou na redução da carga horária de profissionais, mas mantendo o mesmo salário.
POSSíVEIS MOTIVAçõES
Na opinião da presidente da Associação Médica de Venâncio Aires (Amva), Sandra Knudsen, o desinteresse dos médicos por atuar no pronto-atendimento e no SUS como um todo pode estar relacionado a dois fatores: remuneração e estrutura, o que ela acredita ser uma realidade não só em Venâncio Aires, mas em todo o Brasil, havendo situações piores em outros municípios.
Segundo Sandra, a situação é complicada e não envolve somente os médicos, mas todos os demais profissionais da área da saúde. “é por isso que se fala que é complicado para os hospitais atenderem pelo SUS, pois as tabelas de pagamento em todas as áreas estão muito defasadas. Então, realmente, muitas vezes, os médicos e demais profissionais se deparam com os valores que vão receber, fazem os cálculos e percebem que não vale a pena atender pelo SUS. Então, isso é uma coisa que cada um tem o direito de optar se vai atender ou não vai atender.”
Conforme a presidente da Amva, outro questão que sempre preocupa os médicos é a estrutura disponível para atender aos pacientes. Em Venâncio, ela cita que a falta de uma UTI pediátrica pode ser um motivo do desinteresse, visto a necessidade de contar com uma estrutura de retaguarda para casos mais graves. “São situações que angustiam muito o profissional e que não dependem dele.”
UTI
Nesse sentido, ela menciona que a implantação da UTI Adulta junto ao Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) atraiu mais médicos especialistas para o município, melhorando a oferta desses profissionais em comparação com anos anteriores e também com outras cidades e regiões.
“Antes, nós éramos bastante limitados. Como não tínhamos a UTI, mesmo que a gente contasse com especialistas, a gente tinha que encaminhar o paciente para outro local, porque nós não tínhamos esse atendimento de mais complexidade. Mas agora com a UTI, a maioria dos procedimentos nós estamos fazendo aqui mesmo em Venâncio, diminuindo os encaminhamentos para Santa Cruz, Lajeado, Porto Alegre.”