Assunto de campanha e também nos primeiros dias do governo Eduardo Leite, a concessão de rodovias estaduais converge diretamente à discussão regional. Isso porque uma das três estradas em questão é a RSC-287, no trecho de pouco mais de 150 quilômetros entre Tabaí e Paraíso do Sul.
Considerada problemática por lideranças políticas e usuários, uma das maiores reivindicações de quem passa pela rodovia é a duplicação. A medida, aliás, foi apontada anteriormente pelo Plano Estadual de Logística e Transportes como necessária nos próximos anos, para evitar, conforme o estudo, um ‘colapso’ no trecho entre Tabaí e Santa Cruz. Ou seja, Venâncio Aires – no meio do caminho – é praticamente o ‘olho do furacão’.
Os pedidos pela duplicação voltaram a ganhar força depois do “Duplica 287”, movimento iniciado em agosto de 2018 por entidades empresariais do Vale do Rio Pardo. Um dos líderes desse movimento é o presidente da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz do Sul. Lucas Rubinger afirmou que Eduardo Leite já havia se comprometido com o assunto na campanha eleitoral. “Estivemos com ele novamente em dezembro e nesta semana entregamos um convite, para participar de um almoço da ACI. Até lá esperamos novidades. Mas já ouvimos do próprio governador que a concessão está consumada.”
O almoço no qual Eduardo Leite é esperado está previsto para o dia 11 de março, em Santa Cruz. Até lá, é o prazo estipulado pela própria Secretaria de Governança e Gestão Estratégica para concluir os estudos de avaliação das concessões de rodovias. Além da RSC-287, que é pedagiada, incluem a lista de provável retorno à iniciativa privada as ERSs 324 e 020.
TECLA’ DUPLICAÇÃO’Segundo o presidente da ACI de Santa Cruz, Lucas Rubinger, a duplicação é a tecla mais batida quando o assunto é a 287. “Aumentou muito o número de mortes entre 2017 e 2018. A primeira coisa que se deve levar em conta é preservar vidas e precisamos de rodovias em condições.”
Rubinger diz que espera pela finalização da concessão em até 100 dias. “É a saída. Do jeito que está, não dá. Hoje se paga R$ 7 de pedágio para uma manutenção precária. Se a concessão vier, provavelmente o pedágio aumentará. Mas se tivermos os serviços, acho que tudo bem pagar mais. Claro que para isso é importante realizar audiências públicas com a comunidade.” Os serviços referidos por Rubinger incluiriam manutenção, guincho, ambulância, carro de apoio e o andamento do sonhado projeto de duplicação.
Ao encontro disso está a opinião do prefeito de Venâncio, Giovane Wickert. Para ele, a EGR até tentou, mas o modelo não se mostrou eficiente. “É uma empresa pública, que precisa licitar tudo e acabou demorando demais em muitas coisas. Aí tem os Corepes, que não atuam mais. Infelizmente como está, não dá o retorno necessário.” Wickert disse ainda que defende a concessão, desde que seja um contrato com especificações claras e foque no projeto de duplicação da rodovia.
Mudança divide opinião de usuários
A possível volta da RSC-287 à iniciativa privada tem cercado algumas rodas de conversa na cidade, principalmente entre usuários que encaram a rodovia com frequência. A reportagem ouviu algumas pessoas e não há um consenso. Enquanto há quem diga que as estradas sejam responsabilidade do Estado, outros preferem pagar mais pedágio, desde que haja estrutura.
É o caso do frentista Juliano Fürst, que há cerca de cinco anos trabalha em um posto de gasolina de Venâncio, à margem da rodovia. “Se for para melhorar, tem que privatizar. Anos atrás a gente pagava R$ 7 e tinha retorno. Hoje ainda pagamos o mesmo, mas não tem nada. Então prefiro pagar um pouco mais e ver a estrada em condições.”
E os Corepes?
Instituídos em agosto de 2013, os Conselhos Comunitários das Regiões das Rodovias Pedagiadas (Corepes) praticamente caíram no esquecimento. Antes entidades atuantes e com forte influência sobre a EGR, há cerca de dois anos pouco se leu ou ouviu sobre elas.Na região, o Corepe Trecho 8 foi presidido pelo venâncio-airense Luciano Naue. Segundo ele, em fevereiro de 2017 um decreto do então governador José Ivo Sartori alterou alguns pontos na atuação dos conselhos. “Paramos de atuar porque perdemos função. A EGR não queria prestar contas e não aceitava ser cobrada. Tínhamos decisão e depois ficou só na consulta. Quem perdeu foi o usuário”, afirmou Naue. Entre 2013 e 2016, o Corepe atuou diretamente em alguns projetos na região, como a volta das ambulâncias nas praças de pedágio, o trevo de acesso a Novo Cabrais e o viaduto Fritz e Frida.
“Minha opinião é a mesma do Governo”Enquanto a licitação e a consequente concessão das rodovias estão em estudo, parte da RSC-287 segue sob responsabilidade da EGR. A reportagem contatou o presidente da Empresa Gaúcha de Rodovias, Nelson Lídio Nunes, mas ele pouco comentou sobre o assunto.
Sem entrar em detalhes, Nunes disse apenas que a EGR irá acatar aquilo que o Governo decidir e qualquer questão relacionada às concessões está sob responsabilidade da Secretaria de Governança e Gestão Estratégica. “A minha opinião é a mesma opinião do Governo”, resumiu.
O governo de Eduardo Leite pretende concluir o edital para a concessão das rodovias até a metade do ano. Para fevereiro, está previsto o resultado da análise para licitação das rodovias, realizada pela KPMG – empresa contratada em 2017, na gestão Sartori.