Enquanto que o comércio e algumas indústrias estão paralisados, o trabalho no interior segue a todo ‘vapor’. A época é de safra e as máquinas não podem parar. Agricultores iniciam a colheita da soja, preparam a silagem, e entre inúmeras tarefas preparam o tabaco para a venda, quando as indústrias tabacaleiras retomarem a compra.
O tabaco seco e estocado nos galpões, é uma das cenas presentes em várias propriedades rurais de Venâncio Aires e região. O clima no interior é de muita dúvida e preocupação. Afinal, as famílias enfrentam uma ‘instabilidade’ pelo mercado ocasionado pelo coronavírus e pela própria estiagem que assola o estado desde o fim do ano passado.
Em Linha Arroio Grande, a família de Angela Maria da Costa, 43 anos e Cléber André da Costa, 41 anos, vive essa incerteza. O casal, junto dos pais de Cléber, já comercializou 200 arrobas de tabaco antes do fechamento das indústrias. “Mas a gente tem umas 600 arrobas em casa ainda. É muita coisa. E já estamos iniciando as preparações para a próxima safra com a limpeza dos canteiros”, conta Costa.
A aflição dos produtores é que além dos prejuízos ocasionados pela estiagem, em meio à crise causada pelo Covid-19, não consigam vender bem a safra. “A gente só espera que isso tudo passe e que a ‘firma’ compre o fumo dentro da classe”, reforça Angela.
Apesar do clima de incerteza, o casal continua enfardando o tabaco que está no galpão. “Sorte que a gente tem água, porque só assim para enfardar o fumo. Com esse clima seco, a gente precisa molhar um pouco a folha para conseguir amaciar ela, e assim, manocar”, explica Costa.
O casal iniciou nessa semana a preparação do canteiro para a safra 2020. Além disso, os trabalhos na propriedade continuam. Finalizaram a silagem, que segundo Costa, apresentou muita quebra. “Esse ano está bem difícil para a gente. É prejuízo de tudo quanto é lado”, acentua o produtor.
FOCO NA PREVENÇÃO
Devido à pandemia do coronavírus a família tem tomado certos cuidados para prevenir a doença. “Aqui a regra é: da casa para o galpão, e do galpão para a casa”, enfatiza Angela. Com cuidados dentro do limite, a família reforça que dentro de casa o álcool em gel está presente. “Mas a gente tem por hábito higienizar bem as mãos. Isso já é rotina”, frisa.
Além dos cuidados com a prevenção, a família evita tomar chimarrão com os vizinhos, algo que fazia parte da rotina, e não sai muito de casa. “Não tem festas, eventos, então a gente segue à risca, ficamos todos em casa.” Angela conta que também reforçou a limpeza da casa, inclusive na troca diária de toalhas e roupas de cama. Sem contar na ventilação do ambiente.
É hora da abertura da colheita da soja
Quem também segue com os trabalhos a todo vapor é a família Gaertner, de Linha Arroio Grande. Na terça-feira, 24, eles iniciaram a colheita da soja dos primeiros nove hectares do grão, de um total de 26 hectares plantados pela família.
Pai e filho, Vani José Gaertner, 65 anos e Maicon André Gaertner, 32 anos, respectivamente, comentam que a primeira soja de 2020 está dentro das expectativas. “Apesar da seca e da estiagem, a gente observa um grão bonito. Acredito que no mínimo uns 50 sacos por hectare a gente tira”, frisa Maicon.
A família planta soja há oito anos, e conta que um fato inusitado ocorreu nos últimos dias. “Os vendedores já estão fazendo o pedido de sementes para a safra do ano que vem. Não é nem pra safrinha, é para a próxima safra. Eu nem colhi minha safra desse ano e já preciso me preocupar com a próxima.”
Maicon explica que isso está ocorrendo pois as lavouras de sementes da soja foram atingidas, com isso pode ser registrada a falta do grão para plantar na próxima safra. “ Querendo ou não, a gente se preocupa. A estiagem está aí, muitas lavouras foram afetadas”, destaca.
Durante o fim de semana a família também trabalhou com a silagem. Vani comenta que por se tratar de uma área mais úmida, a silagem saiu dentro do esperado, sem grandes perdas. “Não adianta, a colônia precisa continuar trabalhando. A gente sabe que o coronavírus está aí, mas não podemos parar”, reforça Vani.
CUIDADOS
Com a família Gaertner não é diferente, os cuidados básicos para evitar o coronavírus também são tomados. “A gente se cuida sim, lava bastante as mãos”, conta Vani. Mas a grande preocupação de Maicon a respeito do coronavírus é com as andanças. “A gente circula por muitos municípios da região, vamos em busca de peças, manutenção das máquinas. A gente tem contato com muitas pessoas, sem contar com o pedágio, a gente pega uma nota de dinheiro que sabe-se lá de onde veio e passa a circular com ela. É complicado evitar isso”.