A produção leiteira na prática: um relato de repórter

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Como forma de homenagear os colonos e vivenciar, na prática, um pouco da rotina deles, a repórter Taís Fortes acompanhou as tarefas dos produtores de leite Gerson e Luciane Horn para esta matéria especial. O casal reside em Vila Santo Antônio, no interior de Mato Leitão e se dedica a esse segmento do setor primário há 19 anos. A visita ocorreu na manhã da quinta-feira, 21.

Durante o tempo em que esteve na propriedade, Taís deixou de lado o bloco e a caneta, tão característicos da profissão de repórter, para colocar, de fato, a mão na massa. “Meu único acessório de trabalho foi a câmera, necessária para fazer registros do trabalho desempenhado pelos agricultores”, explica a jornalista. Confira, na sequência, o relato dela:

Primeira tarefa

Assim como os produtores rurais, na quinta-feira, acordei por volta de 5h30min. Era 6h quando cheguei na propriedade e encontrei o Gerson e a Luciane já se movimentando para dar a largada na ordenha das 24 vacas que estão em lactação no momento. Eles me explicaram que essa é a primeira atividade do dia e que ela dura de 45 a 50 minutos.

Todo o processo é feito de maneira automatizada, ou seja, não é necessário mais tirar o leite manualmente, como acontecia até alguns anos atrás. Minha primeira experiência foi justamente essa: colocar as quatro teteiras nas vacas. Com a mão pequena, foi um pouco difícil para mim segurar o equipamento e ajustá-lo nos tetos ao mesmo tempo. Mas, na terceira vez, já sentia uma certa facilidade.

Todo leite ordenhado vai diretamente para o resfriador, onde permanece até ser recolhido pelo leiteiro e encaminhado para a indústria. No caso dos moradores do interior de Cidade das Orquídeas, o alimento é vendido para a Cooperativa Languiru. A produção diária na propriedade é de 700 litros e a ordenha é feita, também, no fim do dia, por volta das 17h30min.

Depois que todas as vacas são ordenhadas, elas são liberadas para irem a outra parte do galpão, onde têm espaço para dormir e para se alimentar. A partir desse momento, o casal divide as tarefas, para que os serviços sejam executados de forma mais rápida, e eles estejam prontos juntos. Luciane organiza a limpeza da sala de ordenha, que também é feita de forma automatizada, e Gerson se dedica à alimentação dos animais, com a distribuição de ração e silagem de milho.

Gerson e Luciane Horn são produtores de leite há 19 anos e moram em Vila Santo Antônio, interior de Mato Leitão (Foto: Taís Fortes/Folha do Mate)

Segunda tarefa

Minha segunda tarefa na propriedade foi auxiliar na alimentação. Vi o Gerson fazer, com bastante agilidade, a distribuição dos baldes de ração e cestos de silagem. Algo que, com certeza, ele consegue executar com facilidade por causa da experiência que já tem com o segmento. Afinal de contas, são 19 anos se dedicando à bovinocultura de leite ao lado da esposa.

Para mim, porém, a atividade não foi tão fácil assim. Com a ração, não encontrei grandes dificuldades, apenas me preocupei em colocar uma quantidade maior para um animal em relação ao o outro. Aliás, esse é um ponto observado pelos produtores rurais. As vacas que têm produção maior recebem mais alimento. Para que isso aconteça de forma correta, elas são identificadas.

Minha maior dificuldade foi distribuir a silagem. Gerson tomou o cuidado de não encher tanto o cesto, mas, ainda assim, achei ele bastante pesado. Tanto, que quando comecei a colocar o alimento quase deixei o recipiente cair duas vezes. Depois das risadas, consegui me concentrar e finalizar a tarefa com sucesso. Assim eu espero, pelo menos.

Um dos maiores desafios do dia de campo foi o peso do cesto de silagem (Foto: Reprodução)

Assim como os animais em produção, as vacas ‘secas’ e terneiras também são alimentadas. Além do início da manhã, eles recebem comida ao meio-dia e no fim da tarde. Por volta das 7h30min, quando a primeira etapa do dia foi concluída, tomei café junto com o casal – o que já é hábito na propriedade. Depois disso, eles aproveitam o tempo para realizar outros compromissos, dentro e fora da propriedade.

A última atividade que eu acompanhei durante a manhã da quinta foi a soltura das vacas do galpão para o campo. De acordo com Gerson, os animais passam cerca de duas horas diárias na pastagem de azevém e o restante do tempo na pastagem de tifton.

Aprendizado

Eu já imaginava que trabalhar na agricultura não era uma tarefa fácil, mas com esse dia de campo percebi que o trabalho é mais difícil do que muitas vezes pensamos. Pela minha falta de experiência com esse tipo de atividade, na sexta-feira, 22, sentia dor nos braços mesmo com o pouco esforço que fiz durante a visita na propriedade do Gerson e da Luciane.

E como o produtor de leite bem me lembrou, e eu pude sentir durante o pouco tempo que estive lá, a rotina deles é bastante cansativa e ocorre 365 dias por ano. “O difícil sempre é o começo do trabalho com a atividade, até pegar a prática e a experiência”, comentou Gerson. Ele ainda fez questão de comentar o quanto a tecnologia colabora para a realização das atividades. “Hoje em dia é tudo muito mais automatizado, o que facilita a nossa vida. Muita coisa que era manual antigamente, não tem mais hoje.”

Na tarde da quinta-feira, Gerson me enviou um áudio agradecendo pelo nosso interesse, enquanto veículo de imprensa, de acompanhar um pouco do dia a dia do trabalho dele e da esposa. “É importante até para mostrar para o consumidor que a nossa rotina não é fácil e ela é diária”, disse.

Quero aproveitar esse gancho para agradecer a eles por terem aberto as portas da propriedade para nos receber, por terem tido a paciência de me ensinar com calma e leveza como executar cada uma das atividades e por terem me explicado como a rotina funciona. Noticiamos os mais diversos assuntos todos os dias, mas poder escrever sobre algo que experimentamos é enriquecedor e nos faz enxergar o trabalho do outro de outra ótica. Ter esse dia de campo foi um grande aprendizado.

Na propriedade de Gerson e Luciane, a ordenha é feita de forma automatizada (Foto: Taís Fortes/Folha do Mate)

Preço

• O agricultor Gerson Horn também abordou outro assunto que tem gerado muitos comentários nos últimos meses: o valor pago pelo litro de leite. Ele salientou que o aumento no preço do produto exposto nas gôndolas dos mercados não é o mesmo recebido pelos produtores.

• “Ano passado, nesta época, estávamos recebendo R$ 2,20 pelo litro de leite. Este ano, é R$ 3,10. Um aumento de 0,90 para o produtor. No mercado, em junho do ano passado, era cobrado entre R$ 3,50 e R$ 3,60. Este ano, ele custa, em média, de R$ 7”, comparou.



Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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