Agricultoras de Mato Leitão apostam no uso de tecnologias para qualificar produção

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Em Linha Puhl, no interior de Mato Leitão, Leni Ribeiro, 57 anos, e Andréia Letícia Ribeiro, 34 anos, se dedicam à produção limpa de hortaliças, que são utilizadas na merenda escolar das instituições de ensino do município por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), e comercializadas de forma direta aos consumidores.

O trabalho iniciou em 2019, com Leni. Depois, a filha Andréia, que é estudante de Pedagogia e estagiária na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Vó Olga durante seis horas diárias, decidiu auxiliar a mãe com a produção agrícola no turno que tem livre. A partir disso, as duas decidiram ampliar a área de cultivo, que começou com cerca de 300 metros quadrados.

Hoje, são quatro áreas, duas delas cobertas com sombrite, que totalizam quase mil metros quadrados. Nelas, são cultivados alface – que é o carro-chefe da propriedade -, couve-flor, brócolis, repolho, temperos, rúcula, beterraba, cenoura e couve. Além disso, as agricultoras também investem em plantação de milho, aipim, batata-doce e criação de gado, suínos e galinhas.

Além do fornecimento de alimentos para a merenda escolar, Leni e Andréia investiram na criação de um grupo no WhatsApp para divulgar os produtos que têm à disposição, o que funciona como uma feirinha on-line. Depois que as encomendas são feitas, elas organizam as hortaliças em embalagens e entregam na casa ou no trabalho de cada cliente.

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Investimentos

Uma das premissas do trabalho das duas é cultivar produtos de forma ‘limpa’, sem uso de agrotóxicos ou adubo químico. Para isso, elas apostam na utilização de esterco dos animais que criam na propriedade e no controle biológico. Nesse último caso, entre os produtos usados pelas agriculturas estão as cartelas com ovos de vespas para combater as lagartas que causam prejuízos às hortaliças. “Essa é quarta vez que estamos usando. Antes borrifávamos água e vinagre, mas isso demora muito”, comenta Leni.

Produtoras de hortaliças mostram como funciona o sistema de irrigação usado na propriedade (Foto: Taís Fortes/Folha do Mate)

Mãe e filha relatam que apostaram nessa biotecnologia para amenizar os prejuízos. “No primeiro ano perdemos muito da produção, porque ainda não conhecíamos isso e não queríamos usar veneno”, recorda Leni. A agricultora ressalta que aposta por esse método faz parte do objetivo delas de oferecer aos consumidores produtos de qualidade. Hoje, as agricultoras usam as vespas em todas as áreas nas quais têm plantadas as hortaliças.

Outro investimento feito na propriedade foi em relação à irrigação. Leni e Andréia iniciaram o sistema por gotejamento em dezembro do ano passado, depois de terem sofrido com perdas na produção na última safra, quando a estiagem castigou os agricultores em todo estado. “No ano passado perdemos muitas mudas por causa da seca, por isso investimos na irrigação para que isso não aconteça de novo”, explica Andréia.

Elas utilizam a água de um dos açudes existentes na propriedade. Nesse reservatório há um motor que bombeia água para uma caixa d’água de dois mil litros. A partir disso, por gravidade, a água chega até dois reservatórios de mil litros cada instalados nas duas áreas de plantação que recebem irrigação. “Vimos esse modelo em uma produtora aqui do município. Só ligamos a irrigação quando percebemos que é preciso”, observa Leni.

Cartelas com as vespinhas que combatem as lagartas são colocadas nas plantas (Foto: Divulgação)

“O controle biológico é uma tecnologia limpa, eficaz e já consagrada”

Rudinei Pinheiro Medeiros é extensionista da Emater em Mato Leitão (Foto: Taís Fortes/Folha do Mate)

Extensionista rural do escritório municipal da Emater, Rudinei Pinheiro Medeiros destaca a importância da utilização do controle biológico na agricultura. “É uma biotecnologia que está presente nas nossas propriedades e em todo o mundo. Em Mato Leitão, o controle biológico é usado principalmente na área de fruticultura e olericultura”, relata.

Segundo Medeiros, a utilização dessa tecnologia na Cidade das Orquídeas iniciou pela fruticultura, no controle da mosca da fruta, em uma propriedade onde há cultivo de citros. Depois, o uso dessa biotecnologia foi expandido para a produção de morangos.

Há cerca de dois anos, o controle biológico, que pode ser feito por fungos, bactérias e insetos, também é usado nas plantações de erva-mate, para agir contra o besouro, conhecido popularmente como corintiano ou broca-da-erva-mate. “Este ano também vamos trabalhar na produção de grãos. Tem um produtor que apostou no trichogramma

(vespinhas) para uma plantação de 26 hectares de milho”, compartilha.
O extensionista salienta que, cada vez mais, o consumidor busca um produto de maior qualidade e sustentável. “O controle biológico é uma tecnologia limpa, eficaz e já consagrada no mercado mundial e nacional”, avalia. Entre os benefícios apontados por Medeiros está a maior qualidade e sustentabilidade dos alimentos, além da preservação do ecossistema.

Irrigação

Em relação à irrigação, Medeiros compartilha que a maioria dos produtores que trabalham com hortaliças, tanto em estufa quanto a céu aberto, utilizam a irrigação por gotejamento, que tem um uso mais racional e eficiente da água. “Ficar à merce do tempo, hoje, é muito complicado. Tem períodos de estiagem muito grande e se vê prejuízos. O custo da irrigação por gotejamento não é alto e ele é eficiente”, destaca.

Nesse sentido, ele observa que, quando outro sistema é utilizado, pode acontecer um desperdício maior de água. “O gotejamento é adaptado para as hortaliças. A irrigação facilita o trabalho do agricultor, além de colaborar para que os prejuízos econômicos não sejam tão grandes”, menciona. O extensionista também conta que os agricultores recebem orientação técnica sobre os períodos nos quais é melhor irrigar a planta. “Assim é possível se programar e ter uma escala de produção”, complementa.

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Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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