
Venâncio Aires - A produção animal moderna avançou em tecnologia e produtividade, mas também passou a conviver com cobranças crescentes sobre seus impactos ambientais. No doutorado em Zootecnia defendido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), o pesquisador, produtor rural e também colunista do caderno Folha Rural da Folha do Mate, Felipe Mathias Weber Hickmann investigou como ajustes relativamente simples, tanto na nutrição quanto no manejo dos dejetos, podem reduzir emissões, evitar desperdícios de nutrientes e aumentar a eficiência geral dos sistemas de produção.
O ponto de partida do estudo é o fato de que a ração representa o maior peso ambiental da cadeia. Segundo Hickmann, os principais impactos ambientais estão associados à sua produção, desde o cultivo dos ingredientes até a alimentação dos animais. “A isso se somam as emissões de gases de efeito estufa, a excreção de nutrientes e o risco de contaminação do solo e da água caso os dejetos não sejam manejados de forma adequada”, acrescenta.
PRINCIPAIS CONCLUSÕES
A pesquisa, apresentada em outubro, analisou duas ações principais: melhorar a dieta e melhorar o uso dos dejetos. Segundo Hickmann, as enzimas usadas na alimentação tiveram grande impacto. “A utilização de enzimas exógenas na ração dos animais melhorou o aproveitamento dos nutrientes a ponto de mitigar o impacto ambiental da atividade”, explica. A fitase reduziu a excreção de fósforo, e a β-mananase ajudou a diminuir a quantidade de óleo usada na ração. Ele também destaca que dietas com menos proteína, mas com aminoácidos industriais, reduziram a excreção de nitrogênio.
Na parte dos dejetos, Hickmann menciona que a digestão anaeróbia se destacou como uma das ferramentas mais promissoras para mitigar as emissões de metano e gerar energia renovável. “De modo geral, maiores emissões foram observadas com a utilização de fertilizantes minerais, como a ureia. Por sua vez, o uso de dejetos animais reduziu a volatilização de amônia, sendo uma alternativa econômica e sustentável em relação ao uso de outros fertilizantes. Assim, a escolha da fonte de nitrogênio utilizada influencia diretamente as emissões”, detalha.
“Buscar maior eficiência e melhor a performance dos animais é um trabalho constante.”
Felipe Hickmann também fala a partir da prática. Como produtor rural, ele aplica o que pesquisa. “Buscar maior eficiência e melhor a performance dos animais é um trabalho constante, fundamental para mitigar os impactos ambientais. Para isso, aplicamos diversas estratégias, como o controle da ambiência (temperatura, ventilação e iluminação), além do fornecimento de água limpa e em quantidade adequada, fatores essenciais para manter o consumo e o desempenho”, diz.
A biosseguridade e o manejo sanitário preventivo também recebem atenção constante. “Eles reduzem a incidência de doenças que comprometem o ganho de peso e a eficiência alimentar. Além disso, o ajuste dos comedouros para evitar desperdícios e assegurar acesso uniforme à ração, bem como práticas que minimizem o estresse dos animais, contribuem diretamente para melhores índices produtivos”, explica.
Hickmann afirma que, na prática, já adota diversas estratégias alinhadas ao que a pesquisa aponta como mais efetivo. “A empresa integradora trabalha com dietas otimizadas, conciliando desempenho e impacto ambiental. Além disso, mantemos certo planejamento para a aplicação dos dejetos.” Segundo ele, o maior entrave ainda está no uso de biodigestores. “O principal desafio do setor ainda é a adoção de biodigestores. Apesar dos benefícios ambientais e econômicos, o investimento inicial continua sendo um entrave, tornando indispensáveis linhas de crédito mais acessíveis e políticas públicas que viabilizem sua implementação em propriedades de diferentes portes.”