Galinhas, perus, pavões, patos, entre outros, convivem com animais silvestres, como nútrias (ratão-do-banhado), saracuras, galinholas (popular maçarico), aracuãs, no mesmo pátio. “Esta convivência harmoniosa mostra que a natureza é perfeita, somente o homem é quem atrapalha e, muitas vezes, até destrói isto”, observa Inácio Roberto Guterres, morador de Linha Bela Vista, proprietário do local onde os animais domésticos e silvestres ‘se misturam’.
Guterres observa que todas as espécies se alimentam do mesmo tipo de trato, o que segundo ele, é uma das características da cadeia alimentar destes animais. E, ainda, dentro desta cadeia alimentar, há espécies carnívoras, que se alimentam destes animais e que fazem o controle populacional, evitando que se proliferem de forma desenfreada e virem pragas. São exemplos o graxaim, gato-do-mato, mão-pelada (conhecido como guaxinim), lagartos e gambás.
“Isto é um atrativo para as famílias, porque as crianças necessitam da convivência com os animais.”
VICENTE JOÃO FIN – Chefe do escritório municipal da Emater/RS-Ascar
AGRICULTURA FAMILIAR
Segundo o engenheiro agrônomo e chefe do escritório municipal da Emater/RS-Ascar, Vicente João Fin, a convivência destas espécies de animais na mesma propriedade também é uma das características da agricultura familiar. “Os animais domésticos, tanto os de maior quanto os de menor porte, sempre estiveram acompanhando e presentes na vida das propriedades rurais, convivendo com algumas espécies de animais silvestres quando não havia as leis ambientais”, salienta.
Hoje, continua Fin, com o restabelecimento da própria flora e da fauna, estas espécies foram se aproximando das propriedades e, como as famílias têm um grande número de alimentos para os animais domésticos, no momento do trato há sobras para os silvestres. Além disso, os próprios dejetos acabam alimentando os peixes quando estes estão presentes nas propriedades. “Assim, vai se criando um ambiente harmônico e tranquilo onde eles convivem e dificilmente vai ter excesso”, comenta.
No caso de alguns animais exóticos entremeados, segundo Fin, estes acabam se acostumando e trazem junto os nativos, mesmo que não seja indicado alimentar estas espécies. Mas eles se aproximam porque vão ‘meio avizinhados’ com os próprios exemplares domésticos existentes. “Se você não caçar, não maltratar, eles vão permanecer no ambiente do agricultor”, frisa, acrescentando que esta convivência nas famílias que mantêm esta condição, atrai visitantes. Até algum tempo, em cada 100 propriedades rurais, 90 eram desta forma. “Muitas delas perderam este hábito, outras acabaram siando e fixando residência na cidade. Hoje, em muitos lugares, as crianças não mantêm este contato e, onde elas encontram uma família rural que possa receber visita, vão se sentir bem além de ser uma excelente terapia”, complementa.