Os desenhos de Bruno Guilherme Kramer, 12 anos, retratam a vida no campo, a vida no interior, mais especificamente máquinas agrícolas. A paixão pelo trator é algo que o garoto compartilha nas tarefas da escola desde o pré. O desenho é livre e o sonho já está bem traçado: “Quando crescer, minha vontade é ser agricultor, trabalhar com trator.”
Bruno é morador de Linha Andréas e promete ser uma das gerações futuras no interior, afinal, o apoio da família está garantido e o gosto pela agricultura já está no sangue. A vontade do guri é ficar o tempo todo na lavoura com os pais, mas, conforme o pai, Maicon André Kramer, 36 anos, a regra é clara. “A gente sempre explica que, mesmo para ser agricultor, precisa estudar. Então, os estudos precisam estar em primeiro lugar.”
O menino, que foi para a escola apenas sabendo falar em alemão, hoje é o líder da turma do 7° ano e se orgulha com as notas boas conquistadas no primeiro trimestre deste ano. Mas ele reconhece que, muitas vezes, o pensamento fica em casa, pois é na agricultura que pretende seguir. “Eu quero ficar no interior, o pai e a mãe sempre me explicam as vantagens que têm de ficar aqui, temos mais qualidade de vida. E vou fazer o que gosto”, enfatiza Bruno.
Ao ver o filho, o pai recorda como era na infância. “Eu era igual. Sempre tive muita vontade de estudar. Lembro que quando era menor, sentava da beira da estrada e ficava olhando as máquinas arrumando a estrada. Depois quando eu era maior o pai comprou um trator e daí mesmo que fiquei no interior”, frisa Kramer.
Ele recorda que, quando ainda morava em Linha Isabel, no auge dos 5 anos, o avô Sebaldo Kramer, 84 anos, tinha um pequeno trator. “Eu adorava ir com o vô. Quando o trator ligava eu estava do lado. E depois vi meu filho fazendo o que eu fazia. Era eu ligar o trator que ele estava do meu lado, pronto para ir junto.”
Quatro gerações no interior
O gosto pela agricultura e por tratores passa de geração a geração. Sebaldo Kramer incentivou o filho Romeu Rudi Kramer, 57 anos. Romeu se casou com Sônia Lori Lahr Kramer, 55 anos, e os dois filhos do casal permaneceram no interior, Maicon é um deles. Ao se casar com Marlise Inês Lenhard Kramer, 32, tiveram dois filhos, Bruno, 12 anos e Sofia, 3 anos. Bruno já tem a convicção de que quer permanecer no campo. Sofia, ainda está em tempo de decidir.
“A gente incentiva muito para que ele fique. É só ele continuar, pois tem tudo para começar.”
MARLISE KRAMER
Agricultora e mãe do Bruno
Maicon e as duas profissões: agricultor e caminhoneiro
Há cerca de 30 anos, Maicon Kramer foi com os pais, Romeu e Sônia, morar em Linha Andréas. “A gente até tentou morar na cidade, mas logo voltamos, não deu certo”, conta. O carro-chefe da família sempre foi o tabaco, aliado à culturas de subsistência, como hortaliças, aipim, feijão, batata, e a criação de animais, o que continua até hoje.
Além de agricultor, Kramer é caminhoneiro. Em 2004, ele adquiriu um caminhão e, na época, transportava o tabaco da família até a indústria. “Chegou uma hora e comecei a levar o fumo dos vizinhos, e quando vê já tinha uma clientela. Depois passei a atender a região.”
A família chegou a ter dois caminhões e construiu um galpão adaptado para fechar as cargas no caminhão maior, enquanto o menor fazia o recolhimento dos fardos. Com o passar dos anos, o número de produtores foi diminuindo e ele sentiu a necessidade de diversificar na propriedade. “Enquanto eu estava transportando o tabaco e os insumos, a esposa e meus pais estavam lidando no tabaco. Eu estava mais na rua e não tínhamos o retorno necessário.”
Em 2015, eles decidiram vender um dos caminhões e adquiriam terras. “Fizemos um investimento em maquinários e apostamos no grão. O milho sempre foi plantado na resteva do tabaco, mas agora ele passou a ser uma cultura de destaque na propriedade”, frisa Kramer. O galpão que abrigava o caminhão maior, foi adaptado e hoje abriga um silo para armazenagem do milho. Além disso, a família adquiriu implementos agrícolas, máquinas e um trator mais potente.
Casados há 14 anos, Maicon e Marlise ainda continuam plantando tabaco, mas este ano apenas 30 mil pés. “A gente sempre trabalha em família. Nós e meus pais”, comenta o produtor. A meta é avaliar a produção dessa safra, apesar de terem todos os recursos necessários para a produção de tabaco, dependendo dos resultados a aposta da família pode ser apenas nos grãos no ano que vem. “Vamos ver o que vale mais a pena”, destaca o agricultor.