Área de trigo deve recuar mais de 50% em Venâncio Aires

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Pela primeira vez, nos últimos cinco anos, a área plantada de trigo tende a recuar em Venâncio Aires. De acordo com projeção da Emater local, devem ser cultivados 600 hectares em 2024 – diminuição de 57% em relação a 2023, quando foram plantados 1,4 mil hectares. É a menor área desde 2020, quando Venâncio cultivou 328 hectares do grão, considerado uma alternativa importante como cultura de inverno.

O motivo do recuo está relacionado diretamente ao clima já que, com excesso de chuva registrado na colheita de 2023 e novamente em maio de 2024, quando é iniciado o plantio, prejudicou a produção. “Chuvas, enxurradas e inundações acabaram pegando vários lugares que tinham áreas que seriam destinadas ao trigo. Se plantar trigo agora, vai atrasar depois o plantio da soja. E também é consequência de quem teve prejuízo ano passado, porque teve chuva na colheita, então muitos não vão arriscar em 2024”, destacou o chefe do escritório da Emater, Vicente Fin.

Volume

Em 2023, embora a área tenha sido maior, os 1,4 mil hectares renderam um total de 3,2 mil toneladas, sendo que o projetado, no início do plantio, era chega a 3,78 mil toneladas. Mas com o excesso de chuva no período de colheita em 2023, houve impacto na produtividade e a média por hectare foi de 2,3 toneladas. Para 2024, considerando que o clima colabore daqui para frente, a Emater estima 3,6 toneladas por hectare. Assim, Venâncio alcançaria uma colheita de 2,1 mil toneladas nesta safra – volume que ainda ficaria abaixo do ano passado.

O ganho com cobertura de solo

“Mesmo que tudo dê errado, ainda se ganha com cobertura do solo.” A afirmação é do agricultor Miguel Sérgio Beppler, 64 anos, morador de Linha Herval. Na localidade do interior de Venâncio Aires, ele plantou 40 hectares de trigo neste ano, a média que vem mantendo nos últimos anos.

Atento ao movimento de mercado e às previsões climáticas de 2023, ele conta que optou por não plantar trigo na safra anterior. “Cheguei a encomendar semente. Mas o preço que vinham pagando estava ruim e se tinha previsão de uma produtividade menor devido ao El Niño. Então decidi não plantar. Já em 2024, mesmo com tudo que aconteceu em maio, se tem uma expectativa de um clima mais favorável neste inverno. E como terá uma oferta menor, também devem pagar mais.”

O agricultor destaca que entende a decisão de quem optou por não plantar neste ano. “Tem muito produtor que nem conseguiu corrigir o solo, perdeu muito em erosão esse ano. E atrasando o plantio do trigo, depois vai atrasar o cultivo da soja e isso também é ruim. De qualquer forma, eu entendo que vale a pena seguir com o trigo, porque é uma ótima cobertura de solo, com uma cama de palhada excelente para a soja.”

Para Beppler, também há ‘atraso’ nas políticas públicas. “O governo demora demais com as decisões, como o Plano Safra, que só veio agora. Muita gente desiste na agricultura porque não tem certeza e amparo para se organizar. E o planejamento é fundamental.”

Lavoura de Miguel Sérgio Beppler, de Linha Herval, está no pré-perfilhamento e foi plantada há cerca de duas semanas. Ele é um dos 60 produtores de trigo em Venâncio (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Área plantada em Venâncio

  • 2019: 145 hectares
  • 2020: 328 hectares
  • 2021: 772 hectares
  • 2022: 1.250 hectares
  • 2023: 1.400 hectares
  • 2024: 600 hectares (projeção)

R$ 2,9 milhões – foi a participação do trigo dentro do Valor Bruto de Produção Agrícola (VBPA) de Venâncio em 2023. O valor é quase a metade de 2022, quando alcançou R$ 5,6 milhões.

Projeção no estado

O Rio Grande do Sul deve produzir 4 milhões de toneladas de trigo em 2024, o que representa um aumento de 55,27% em relação a 2023, que totalizou 2,6 milhões de toneladas. Estes dados foram apresentados pela Emater/RS na última semana. A área cultivada de trigo está projetada em 1,3 milhão de hectares, em 407 municípios – 12,84% inferior à área de 2023, que foi de 1,5 milhão.

“Essa redução na área de plantio é justificada pelos baixos preços do cereal, pelos riscos climáticos e pela frustração econômica da última safra”, afirmou o diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera. Quanto à produtividade, a Emater estima 3,1 tonelada por hectare, o que representa elevação de 77%, quando comparada aos 1,7 mil quilos por hectare da safra anterior. No estado, plantio do trigo já atinge 69% da área projetada para esta safra.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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