Não é de agora que se fala que, para manter filhos na propriedade e garantir a sucessão rural, muitas famílias têm procurado apostar em novas atividades. Produções essas, que podem ser mais ‘leves’ na parte física e, ao mesmo tempo, financeiramente interessantes.
Nas andanças pelo interior de Venâncio Aires, por exemplo, essas falas são comuns entre muitos jovens e também é o entendimento de Gustavo Elias Hein, 27 anos, que trabalha com avicultura de corte em Linha Herval.
Ele conta que a principal cultura na propriedade dos pais, Elton e Maria Beatriz, era o tabaco, com um pouco de aipim e milho, quando eles decidiram arriscar pela mudança, em 2008. Assim, houve a construção dos dois primeiros aviários. Essa migração para a nova atividade coincidiu com a formação de Gustavo, que estava cursando o técnico Agrícola integrado ao Ensino Médio na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc). “Notamos no caminhar do estudo que era necessário ter outras culturas. Não necessariamente comerciais, mas as propriedades precisam diversificar. Quem não fizer a diversificação, ficará para trás, porque muitas famílias estão no seu limite.”
Quando fala em ‘limite’, Gustavo se refere a alguns aspectos e destaca o envelhecimento de pais e avós, cuja condição física não suporta durante muito tempo algumas atividades; a falta de mão de obra e a dependência do clima para que uma colheita seja valorizada.
A mudança de atividade foi idealizada inicialmente pelos pais, mas a ampliação dela foi condicionada ao ‘fico’ de Gustavo na propriedade. “Em 2016, tivemos oportunidade de construir mais dois aviários, mas só foi feito porque o pai perguntou da minha permanência ou não. A gente precisa arriscar e mudar, mas sempre pensando no futuro.”
Em 2018, o jovem também se capacitou ainda mais e concluiu a faculdade de Planejamento e Gestão para Desenvolvimento Rural na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Estrutura
Embora entenda que mudanças são necessárias e a diversificação é uma realidade, Gustavo Hein pondera que não é simples iniciar atividades novas dentro das propriedades, principalmente porque muitas requerem altos investimentos.
“Venâncio é basicamente formada por pequenos produtores, que às vezes não têm condição de fazer um investimento milionário. Também é preciso atenção de outras partes, como garantir infraestrutura, com boas condições de estrada, eletrificação e acesso à internet. Esses pontos são levados em consideração na hora de se iniciar novas atividades.”
Estrutura, aliás, é o que pesou na decisão de onde morar. Gustavo é produtor rural, mas reside no perímetro urbano. A esposa Laura trabalha como fisioterapeuta e, para dar uma rotina mais tranquila para a filha Alice, de quase 3 anos, a comodidade da ‘cidade’ foi determinante. “Decidimos que era melhor assim, daí elas não precisariam também estar na estrada todos os dias.”
Avicultura
• Na lista dos 100 maiores produtores rurais por retorno de ICMS em Venâncio Aires em 2020 e divulgada em novembro de 2021, na revista Perfil Socioeconômico, da Folha do Mate, a maioria das primeiras 10 posições é ocupada por quem trabalha com aves de corte.
• No ranking mais recente, são sete da avicultura e, mais uma vez, Elton Roberto Hein, de Linha Herval, pai de Gustavo, ficou em primeiro lugar.
• O Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA) total de 2020 foi de R$ 294.254.775,60 em Venâncio Aires. Só a avicultura de corte representou 15,59% (R$ 45.630.747,02).