Rótulo da gazosa
Uma das únicas recordações físicas guardadas por Renato Müller é o rótulo da garrafa de refrigerante fabricada pelo avô (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

As lembranças do agricultor aposentado Renato Müller, 70 anos, contam fragmentos da história da família Bencke. O morador de Centro Linha Brasil é bisneto do primeiro imigrante alemão da localidade, Christian Heinrich Bencke. Müller recorda que a mãe, Amanda, sempre contava que o bisavô instalou o primeiro alambique na comunidade. “Depois meu avô Fernando criou a cervejaria junto da fábrica do Christian. Ainda tenho a lembrança do rótulo da gazosa.”

As garrafas de refrigerante na época, de vidro, eram fechadas com uma espécie de bolinha. “A mãe me contava que as crianças iam no depósito e tomavam o refri escondido. Daí, quando os adultos iam vender, viam que as garrafas já tinham sido abertas”, recorda, aos risos.

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O rótulo do refrigerante fabricado por Fernando Bencke, na época que a localidade ainda era Linha Brasil (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

Casado há 49 anos com Shirlei, Müller relembra que, quando era criança, ele e os amigos encontravam garrafas em galpões e nas casas durante as brincadeiras, mas a fábrica não existia mais. “Lembro que eles mesmos faziam os ingredientes de cascas, sementes, ingredientes próprios para cerveja e o refrigerante.”

Fábrica na picada

Quando a mãe de Müller era pequena, a fábrica já tinha sido extinta, mas o dom pela tradição de fabricar a famosa cachaça de alambique estava na família. Há cerca de 30 anos, vinte membros da comunidade de Centro Linha Brasil e Linha Isabel se reuniram para instalar uma fábrica de cachaça na picada.

Müller lembra como tudo começou. “Estávamos entusiasmados, fretamos um caminhão e fomos comprar mudas de cana-de-açúcar em São Martinho, em Santa Cruz do Sul. Voltamos com ele cheio de mudas e enchemos as terras com cana.”

O interesse em instalar a fábrica levou o grupo a outros municípios como Santa Rosa e Santo Cristo, para visitar agroindústrias. Como na época não existiam opções de financiamento em comparação à época atual, com juros mais baixos e planos acessíveis para o produtor, Müller diz que o projeto não foi para frente. “Compramos máquina, instalamos tudo e a cana estava pronta na roça. Mas não conseguimos tirar o projeto do papel, faltou investimento em máquinas e regularização. Como alternativa, decidimos fazer melado, mas fomos frustrados, pois a cana era específica para alambique, não melado, pois ela era muito doce e ficava um melado escuro.”

A solução encontrada pelos sócios foi ‘abandonar’ o projeto e vender a cana-de-açúcar para alambiques da região. “É uma pena que não deu certo, pois seria um avanço para nossa picada. Imagina se a gente tivesse um alambique na comunidade hoje.”

O desejo de instalar fábrica de cachaça era grande, pois Müller acreditava que o empreendimento iria fortalecer a comunidade e muitos dos sócios tinham o dom e os segredos para preparar uma boa cachaça de alambique. “Naquela época, era tudo manual, mas a gente tinha vontade, só não deu certo pois era a fase do associativismo. Se fosse agora, com a agricultura familiar, teríamos conseguido”, lamenta o agricultor aposentado.

Pauta do leitor

A reportagem sobre a lembrança da história do alambique foi sugerida pela família de Renato Müller, moradora de Centro Linha Brasil e assinante da Folha do Mate.