Com presença de representações de agricultores e indústrias, a Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo da Assembleia Legislativa realizou, nesta quinta-feira, 1º, audiência pública virtual para discutir a comercialização de tabaco na safra 2020/2021, que atingiu 30% no final de março com preços frustrantes para as mais de 70 mil famílias na atividade.
O presidente da Afubra, Benício Werner, reafirmou que não houve negociação de preço e que os valores pagos ao produtor foram impostos pelas empresas. Os participantes criticaram ainda a falta de diálogo com as federações para a composição do custo e manifestaram descontentamento com a classificação do produto.
Proposição conjunta dos deputados Elton Weber e Zé Nunes, a audiência reforçou a necessidade urgente de retomada do levantamento de custo conjunto e da negociação de preço com o SindiTabaco. Desde o ciclo 2007/2008, a negociação deixou de ser setorial e passou a ocorrer diretamente com cada indústria. Segundo pesquisa da Afubra, na variedade Virgínia, o preço médio praticado nesta safra é de R$ 10,18. Já o custo de produção por quilo é de R$ 10,09, ou seja, 0,89% de lucratividade. A entidade salienta, contudo, que o custo de produção é o apurado pelos representantes dos fumicultores.
Vice-coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos Produtores de Tabaco da Assembleia Legislativa, Weber insistiu na retomada do sistema em vigor até a safra 2006/2007 no Rio Grande do Sul e criticou a ausência do sindicato das indústrias no debate. “Quando um segmento que participa de um setor não quer discutir, não é um bom sinal. Estou falando aqui do SindiTabaco. Quero fazer um apelo: precisamos voltar a ter um custo de produção conjunto, voltar ao sistema de negociação de preços. Não podemos deixar que tudo que foi construído no passado se perca. Nosso tema de casa é ampliar o diálogo e a negociação, como se fazia, e melhorar nosso relacionamento. Se não, corremos o risco de nos fragilizar”.
Zé Nunes lamentou que, mais uma vez, algumas empresas tenham se negado a participar do debate, e acredita que a Assembleia deva viabilizar este diálogo de alguma forma. “Temos um trabalho organizado na Frente Parlamentar em Defesa dos Produtores de Tabaco, acompanhamos o processo e os desafios da comercialização da safra. Temos discutido com todos os envolvidos, buscando uma alternativa, já que os produtores estão sendo bastante prejudicados. Tivemos um aumento no custo de produção, e uma comercialização com preços aquém do esperado. É preciso que a legislação federal 13.288 proteja de fato o produtor”, defendeu.
Entidades como a Fetag-RS alertaram para a gravidade da situação não somente nesta safra, mas para o futuro da cadeia produtiva. O presidente Carlos Joel da Silva manifestou ainda seu descontentamento com a falta de diálogo e as decisões unilaterais das empresas. “Não temos dúvida nenhuma, que se não tivéssemos numa pandemia, já teríamos feito mobilizações em frente às indústrias”, disse. Presente à audiência pública, a JTI apresentou dados sobre a redução da demanda em função da queda de consumo de cigarro no mundo e assumiu o compromisso de que os produtores ligados à empresa possam participar da construção do custo produtivo na próxima safra.
Primeira estimativa aponta recuo de área e produção
A primeira estimativa para a safra de tabaco 2020/2021: 606.952 toneladas nos três Estados do Sul do Brasil, o que significa uma redução de 4% comparado à safra passada, que fechou em 633.021 toneladas. Em termos de área, é prevista redução de 6%, passando de 290.397 hectares para 273.356 hectares nesta safra.
LEIA MAIS: