Ela é uma das flores mais populares no mundo. Suas cores têm, inclusive, significados variados. São usadas para presentear, além de embelezar e perfumar ambientes ou jardins. Artistas se apropriam dela para compor músicas e poemas de amor ou de tristeza (por causa dos espinhos) e seu nome também é nome de cor e de gente. Trata-se da rosa que, além de todas essas atribuições, também pode ser usada na alimentação.

Numa propriedade em Linha Rincão de Souza, interior de Venâncio Aires, as rosas integram o cenário do jardim há décadas. São dezenas de pés de rosas vermelhas, brancas, amarelas, roxas e até laranja. “É minha flor favorita. Acho linda demais e são muito perfumadas”, destacou Rejane Ruwer Hendges, 58 anos. Mas além do embelezamento e perfume, as rosas da agricultora também passaram a ser usadas como ingrediente principal de uma receita de geleia. Rejane conta que quem lhe apresentou a receita foi a extensionista rural social da Emater de Venâncio, Viviane Röhrs. Os primeiros testes aconteceram há cerca de um ano e, de lá para cá, sempre que bate a vontade de provar novamente, faz o preparo.

A receita
Em outubro de 2023, a geleia de Rejane foi degustada por dezenas de mulheres que participaram do 4º Fórum Municipal de Segurança e Soberania Alimentar de Venâncio Aires, promovido pela Emater. Intitulado de ‘Plantas medicinais: cultive virtudes e colha saúde’, o evento trouxe várias informações sobre plantas medicinais, aromáticas e condimentares, além das Pancs (plantas alimentícias não convencionais).
“Gerou muita curiosidade, mas é algo muito simples de fazer”, resume a agricultora. Para fazer 200 gramas de geleia, Rejane colhe cerca de 20 flores, já com as pétalas mais abertas. Depois as lava e as ferve numa panela (de inox, a mesma que usa para fazer os recheios das tortas) com aproximadamente três xícaras de água. Em poucos minutos, as pétalas murcham e soltam a cor, tingindo a água. Depois, o volume é coado e, a essa água avermelhada, acrescenta uma xícara de açúcar. “Vou mexendo no fogo até dar o ponto de geleia e está pronto. Depois deixo na geladeira. Eu gosto muito de comer com rosquinha de polvilho.”


Embora a receita seja incomum, fazer geleia não é novidade para Rejane, já que há anos faz o preparo com outras frutas, especialmente com os morangos que produz em casa. Além disso, também faz melado e schmier, à base de abóbora, melancia de porco, aipim, laranja, mamão, pêssego e pera. Um pouco é vendido diretamente entre conhecidos e familiares, porque basicamente tudo fica para consumo da família.
Outras flores, verduras e frutas
Na propriedade dos Hendges, o carro-chefe sempre foi o tabaco, cultura mantida por Rejane, pelo marido Selomar, 55 anos, e o filho André, de 29. Também plantam milho para silagem e têm alguns animais para criação.
Mas parte da terra também recebe um cuidado e capricho especial para as flores, verduras e frutas. Há aipim, temperos, chás, couve, alface, morango, acerola, laranja, mamão e pêssego, por exemplo. Para as culturas mais sensíveis, foram estruturadas estufas e sombrites. “Todos ajudam a cuidar”, conta Rejane.
Entre as flores, além dos cerca de 50 pés de rosas, tem girassóis, cristas de galo, onze-horas, crisântemos, suculentas e estatísticas, o que garante um colorido especial no entorno da casa, na qual a família mora há 30 anos. As flores de Rejane também costumam ser usadas para enfeitar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, na igreja, em Rincão de Souza, além de a agricultora ajudar a cuidar da floreira no entorno do templo.
Da rosa favorita, apenas a beleza e o perfume
Bem próximo da casa, um pé de rosa plantado há 20 anos (portanto, o mais velho mantido por Rejane) é o favorito da agricultora. De um tom classificado por ela como ‘vermelho-arroxeado’, as flores são apenas para embelezar o jardim ou montar um buquê para enfeitar a mesa nos fins de semana. “Desse pé nunca fiz geleia. Tenho pena”, comenta, entre risos.

Rejane afirma que o perfume das flores do pé favorito é inigualável e é possível senti-lo quando abre a janela do quarto. “Teve uma vez que fiz um buquezinho para deixar no quarto. Meu marido entrou e perguntou se eu estava usando um perfume novo. E era da flor!”
A agricultora conta ainda que essa variedade (rosa colombiana) é a mesma que ficou conhecida como sendo a favorita da apresentadora Hebe Camargo (1929-2012), cujo cenário do programa no SBT geralmente era decorado com as flores. No dia da entrevista à Folha do Mate, aliás, Rejane vestia uma blusa com estampa de rosas, o que ela garante ter sido apenas uma feliz coincidência.
A importância do resgate do uso de plantas
A extensionista rural social da Emater de Venâncio, Viviane Röhrs, que apresentou a receita para Rejane Hendges, destaca que as plantas medicinais, aromáticas e condimentares, historicamente, sempre estiveram presentes, principalmente no interior. “Além de conferir sabor e aroma aos alimentos, contribuem para uma alimentação mais saudável. A Emater, por meio de ações, sempre buscar promover a segurança e a soberania alimentar das famílias rurais, trazendo esse resgate do que está se perdendo. Tem muitos conhecimentos de antigamente que as novas gerações não têm tanto interesse e acho importante resgatar o uso dessas plantas.”
Viviane comenta ainda sobre as plantas alimentícias não convencionais, as Pancs. “Como é o caso da rosa, que se via apenas como embelezamento de jardim. Hoje se sabe que pode ser uma geleia, pode ser alimento também. Não é comum comer, mas é possível. Então essa é uma pauta contínua da Emater, sempre promovendo ações para a saúde das famílias rurais, primeiro por uma alimentação mais saudável, despertando também a curiosidade para receitas com plantas não tão comuns na nossa alimentação.”