Um lugar para viajar no tempo, conhecer culturas, entender os antepassados e aprender sobre diversos assuntos. Essa é a biblioteca da Associação de Leitura e Canto Jovialidade, que fica em Linha Andréas, no Vale do Sampaio, interior do município.
A mantenedora da biblioteca é a professora aposentada Iolandi Schmidt. Ela conta que a sociedade foi fundada em 1892 e deu espaço físico para os livros, porém, a biblioteca já existia antes. “Conforme os relatos dos meus avós, ela era itinerante, pois não havia um espaço físico, mas já tinham registros de livros e empréstimos”, explica.
A sociedade mais antiga do interior de Venâncio Aires tem um acervo com cerca de quatro mil livros, todos catalogados. A maioria foi trazida da Alemanha, outros são em português. Iolandi destaca que o material desses livros que vieram da Europa é diferente. “São livros bonitos, com folhas macias, lisos e duradouros. São de qualidade”, observa. Ela também comenta que, conforme pesquisas feitas no local, no acervo, estão muitos livros que não existem mais na Europa, porque se perderam na guerra.
No geral, a biblioteca não recebe muitas visitas. “A maioria das ligações e visitas que eu recebo são de pessoas mais de idade ou que têm algum vínculo ainda com a Alemanha e também estudantes e pesquisadores, porém o povo venâncio-airense procura pouco”, expõe.
O acervo já recebeu turistas de outros países, como Alemanha e da Argentina. “Doutorandos de uma universidade da Alemanha vieram há um ano, estavam fazendo uma pesquisa sobre o alemão que se mantém no interior do estado”, compartilha. Esses turistas foram recebidos pela comunidade e apreciaram o conteúdo da biblioteca. “Foi um dia de muita troca de conhecimento.”
HISTÓRIA
Alguns momentos da história da biblioteca são marcados por tristeza. A professora relata que, durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1938 e 1945, as pessoas eram proibidas de falar e ler em alemão e, por isso, os livros da biblioteca e de todo município que eram da língua e da cultura alemã foram recolhidos. “Eles foram colocados no porão do Judiciário de Venâncio Aires e nessa época teve uma enchente que destruiu os livros, alguns foram restaurados, mas muitos foram perdidos”, lamenta.
Em contrapartida, ela também lembra de momentos bons, como quando, antigamente, os domingos eram dias de ir para a sociedade. “Lembro que meus pais se reuniam ali para ler, cantar, contar histórias e jogar conversa fora. Esse era o hobby deles”, diz Iolandi.
A professora ainda lastima que essa valorização tenha se perdido nas novas gerações. “É difícil ver os jovens indo nas bibliotecas, ainda mais uma que traz livros da cultura alemã. Queria que eles percebessem que esse é um local sagrado, com muito valor”, ressalta.
“Pelo zelo, pelo amor aos nossos antepassados, que vieram do outro lado do oceano e trouxeram livros na bagagem, devemos manter essa riqueza viva.”
IOLANDI SCHMIDT
Mantenedora da biblioteca de Linha Andréas