Boa colheita e valorização: as expectativas em torno da safra de tabaco

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Gilmar Ferreira cresceu no meio da lavoura de tabaco, em Boqueirão do Leão. Quando se mudou para Venâncio Aires, até trabalhou em empresas, mas o trabalho na agricultura seguia, como ele mesmo definiu, como uma espécie de ‘terapia’.

Em 2021, o agricultor de 35 anos comemora a possibilidade de fazer apenas o que sempre gostou: estar na roça. E não precisa ir longe, afinal a lavoura se espalha já ao redor da casa, em Linha Tangerinas, onde da porta dos fundos a vista alcança 45 mil pés de tabaco em ponto de colheita, que cresceram uniformes. “É uma bênção”, resume Ferreira.

Mas uma lavoura vistosa não é apenas a única razão para se sentir abençoado. É que ela foi plantada nas próprias terras, compradas em abril deste ano. São 2,5 hectares (mais um que é arrendado), buscados estrategicamente. “A produtividade na Tangerinas é uma das melhores da região. Então era um sonho morar e plantar aqui”, conta.

A safra 2021/22 tem, portanto, bons motivos para ser considerada especial para o agricultor: ter a própria terra, as plantas bem desenvolvidas e a expectativa de não haver perdas maiores devido ao clima. “A expectativa é muito boa. A gente só espera que tenha uma valorização do produtor que ainda está ficando no fumo, já que a área e o plantio estão diminuindo.”

A observação de Gilmar Ferreira define o cenário do setor nos últimos anos. Embora em Venâncio Aires houve estabilidade entre 2016 e 2020 (média de 9 mil hectares), ao considerar os três estados do Sul do Brasil, a curva vem descendo no gráfico da área cultivada.

Segundo a Afubra, na safra 2018/19 eram 297 mil hectares e, em 2020/21, passou para 273 mil. “Acompanhando o desenvolvimento e considerando que o clima não afete, ainda assim é provável que a produtividade não seja superior à anterior. Mas é algo posto, já que cada vez mais se produzirá menos, pois precisamos trabalhar conforme a oferta e a demanda”, observou o presidente da Afubra, Benício Werner.

Mesmo com a queda nesses números, Werner entende que o fator ‘qualidade’ é o diferencial. “Não adianta nos preocuparmos com o volume, mas sim qualidade. É isso que as empresas e o mercado consumidor procuram. E como qualidade depende muito do clima, a expectativa é boa.”

Gilmar e a esposa, Ana Paula, plantaram 45 mil pés de tabaco nesta safra (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Valorização

Trabalhar com tabaco foi a opção de Gilmar Ferreira, também, pela questão financeira. Segundo ele, é possível garantir uma boa renda para ele, a esposa Ana Paula Bittencourt, 33 anos, e os filhos Kauã, 10, e Lauany, ainda uma bebê de apenas um ano. “Quem tem área pequena, o fumo dá sim condição de se manter uma boa renda. E é uma produção que me permite ficar perto dos filhos.”

Ferreira revela que, mesmo quando plantava em terras alugadas, conseguiu guardar dinheiro e, por isso, teve condições que comprar a propriedade na Tangerinas e construir um forno tradicional. Para esta safra, também foi construída uma estufa elétrica – esta financiada.

Projetando uma boa colheira, ele espera por maior lucratividade na venda. “Esperamos que a empresa dê valor para o pequeno produtor, aquele que chega janeiro e vai vender fumo para pagar as contas. E não para aquele que tem condições de segurar e vai receber melhor lá em junho.”

Quem também espera uma maior lucratividade para o produtor é o presidente da Afubra, Benício Werner. “Viemos de duas safras onde a lucratividade foi seriamente prejudicada, então esperamos que volte um preço melhor.”

Conforme Werner, é preciso considerar que são muitos países produtores, em hemisférios diferentes, portanto a venda ocorre a cada três meses. “Nós temos a África como forte concorrente, já que os países africanos têm algumas vantagens: a logística, por estar mais perto da Ásia, e uma mão de obra muito barata. Não que aqui se cobra mais, mas lá se ganha pouco.”

Venâncio é o quarto maior produtor do Sul do Brasil

De acordo com dados da Afubra, em cima de números do Sul do Brasil, Venâncio Aires é o quarto maior produtor (veja box), ficando atrás de dois municípios gaúchos e um paranaense. A produção local corresponde a 3,9 mil famílias. Entre os 10 maiores produtores, ainda estão três cidades do Vale do Rio Pardo: Candelária, Vale do Sol e Santa Cruz do Sul.

38% – é o que representou a fatia da indústria de beneficiamento de tabaco no Valor Adicionado Fiscal (VAF) 2019 em Venâncio Aires – R$ 835 milhões.

Empresas

As tabacaleiras também estão entre as líderes nas maiores empresas por Valor Adicionado Fiscal (VAF). Em 2019, o pódio era formado por Alliance One, China Brasil Tabacos e CTA. Entre as 20 maiores, ainda estão a Marasca, a UTC e a Tabacum.

A relevância social e econômica do tabaco será o tema da quarta edição do projeto Gente & Negócios e ocorre na próxima terça-feira, 26, a partir das 20h. O painel é promovido pela Folha do Mate e rádio Terra FM e poderá ser acompanhado ao vivo pelo 105.1 ou em vídeo pelo Facebook dos dois veículos.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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