Percorrer as propriedades rurais é sinônimo de descoberta. Cada família tem seus hábitos e, muitas vezes, cultiva itens que passam de geração a geração ou são específicos da região ou hábitos culturais. Em Vila Deodoro, na propriedade do casal de agricultores aposentados Iracema Teresinha Maria, 63 anos, e Nestor Maria, 71 anos, basta chegar mais perto da casa que já se percebe o perfume das flores e o aroma de inúmeros chás e temperos cultivados no jardim.
A paixão por cultivar plantas medicinais e diferentes é nítida. Em uma rápida conversa com a agricultora, percebe-se total conhecimento sobre todos os itens cultivados. Chama atenção o conhecimento das propriedades específicas das mais de 30 opções de chás que o casal cultiva. “Eu tenho uma farmácia na minha casa. Quando tem qualquer problema é só ir no pátio e buscar algum remédio natural. Muitos amigos e vizinhos também me procuram quando precisam de algo”, comenta Iracema.
Um dos itens que chama atenção na ‘lavoura’ da agricultora é uma árvore de batata. O casal cultiva a batata yacon, um tubérculo aliado dos diabéticos. “Em um encontro da Emater cheguei a conhecer essa batata. Experimentei e gostei muito. Depois de um tempo achei umas mudas na agropecuária e comprei”, conta.
Apesar de estar morando há três anos em Vila Deodoro, antes, o casal já cultivava o tubérculo em Linha Sexto Regimento, há cerca de 10 anos. “A gente planta para nosso consumo. E usa ela como um lanche”, acrescenta Maria.
Iracema é fã número um da yacon, já o esposo consome-a pelos benefícios. “Eu como porque gosto, acho uma delícia, mas meu marido tem diabetes e como eles falam que ela ajuda, a gente inclui ela na nossa rotina.”
A batata yacon é consumida, na sua maioria, de forma crua. Para isso, é necessário remover a casca. O gosto é semelhante a uma maçã ou pera, tem um leve sabor adocicado. Neste ano, a produtora já colheu um balde de 20 litros cheio do tubérculo. A batata yacon pode ser consumida em saladas cruas ou cozidas, como sobremesa ou lanche. Além disso, também é possível comprar a farinha, que pode ser usada para fazer pão, bolos e biscoitos, por exemplo.
Conforme a extensionista rural social da Emater-RS/Ascar de Venâncio Aires, Viviane Röhrs, no município a batata yacon não é um hábito de muitas famílias. “É algo dificilmente de ser encontrado. Mas nossa proposta é valorizar esses alimentos que não são tão comuns”, salienta.
Viviane também comenta que o produtor que planta a yacon geralmente tem consciência dos benefícios do tubérculo. Conforme a nutricionista Bruna Neves, a batata yacon é benéfica para quem tem diabetes. “Isso se deve pela liberação da glicose. O tubérculo tem baixo índice glicêmico, ou seja, ela vai liberando a glicose para o corpo de uma forma bem lenta, por isso ela é boa para quem tem diabetes. E ela também é interessante de ser incluída em um processo de emagrecimento.”
Arbusto
Diferente das outras batatas, que são rasteiras, a yacon dá um pé na altura de uma pessoa. Os tubérculos ficam embaixo da terra e a colheita é semelhante a outra batata doce convencional. “O interessante é que não precisa tirar tudo de vez. Dá para ir colhendo conforme a gente vai consumindo e dura o ano todo. Depois por cima ficam as mudas, daí é só guardar e plantar de novo no ano seguinte, na mesma época que as outras batatas”, esclarece Iracema.
Saiba mais
- A batata yacon (Smallanthus sonchifolius) é uma raiz nativa da Cordilheira dos Andes, da família Asteraceae, cujo cultivo tem se expandido em outros países, inclusive o Brasil.
- Ela faz um grande sucesso pelas suas propriedades medicinais, principalmente pelo controle de diabetes.
- No Brasil, o maior produtor de batata Yacon é o município de Piedade, em São Paulo. O cultivo dura o ano todo e as mudas vieram do Japão, em 1994.
- Em Venâncio Aires, algumas famílias cultivam a batata yacon apenas para uso familiar. Inclusive, o produto é dificilmente encontrado em feiras e supermercados.
“A gente precisa dar mais valor para as coisas saudáveis, e quem mora no interior precisa plantar de tudo, para conseguir tirar seus alimentos da sua lavoura e saber o que está comendo.”
Iracema Maria -Produtora
Impressões do repórter
O conhecimento da dona Iracema é invejável. Ela sabe as propriedades medicinais de cada planta que tem no pátio. Além disso, ela demonstra uma paixão enorme pelas plantas medicinais. Quando eu, o colega Roni Müller e a extensionista da Emater, Viviane Röhrs, chegamos na casa do casal, logo fomos recepcionados com uma mesa cheia de chás cultivados na propriedade, eram mais de 30 tipos que a Iracema havia colhido naquela manhã. Em uma rápida conversa aprendemos nomes diferentes e para que serve cada planta. Ela ainda nos aconselhou que: “tudo que é planta pode ser um remédio, mas é necessário saber preparar.”
A pesquisa ocorre em livros medicinais que coleciona. Sem dúvida, Iracema tem uma farmácia em casa, assim como inúmeras famílias que a gente já conheceu. O jardim da agricultora é uma referência para os amigos e vizinhos que, quando apresentam algum problema de saúde, já recorrem aos conhecimentos da Maria, como é popularmente conhecida na comunidade do terceiro distrito.