Chuva trouxe alívio, porém agricultores de Mato Leitão pagam alto preço em razão da estiagem

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Ainda falta cerca de dois meses para Dionizio Luiz Maldaner, 58 anos, iniciar a colheita da soja, prevista para acontecer entre os meses de março e abril, mas ao ir até as lavouras, principalmente nas áreas localizadas em Mato Leitão, ele já tem a certeza de que haverá prejuízo. “Normalmente colhemos 70 sacos por hectare. No ano passado eu consegui 82. Mas este ano pelo que estou vendo vai dar para colher no máximo 20 sacos por hectare. Quando tem estiagem nem gosto de ir na plantação. É uma tristeza só”, lamenta o agricultor.

O morador do Centro tem como carro-chefe da produção agrícola a soja. Além dos 15 hectares distribuídos em áreas localizadas nas margens da RSC-453, na localidade de Duque de Caxias e no Acesso 20 de Março, Maldaner tem áreas de cultivo em Venâncio Aires (130 hectares) e em Cruzeiro do Sul (15 hectares).

Neste ano, ele também plantou 45 hectares de milho para comercializar o grão em áreas localizadas na Capital do Chimarrão. A colheita desse grão já foi feita e também registrou quebra na produtividade. Dos 170 sacos por hectares previstos, foram colhidos apenas 94. “É uma situação lamentável. Só quem planta sabe como é. Mas também faz parte da vida do colono.”

Frustração

Desde que passou a se dedicar especificamente ao setor primário, o produtor planta soja safrinha nas áreas onde colheu o milho. Neste ano, no entanto, desistiu dessa ideia para evitar mais prejuízos. “Ia plantar 55 hectares, mas decidi não arriscar. Já perdemos demais e é muito investimento”, relata.

De acordo com ele, o prejuízo mais expressivo em relação à soja vai acontecer nas áreas localizadas na Cidade das Orquídeas. Ele explica que nas lavouras em Venâncio Aires, se continuar chovendo como na última semana, a perspectiva é de ter um rendimento praticamente normal. “Isso acontece por causa da chuva localizada. Aqui [Mato Leitão] choveu menos”, menciona.

Nas áreas de Mato Leitão, a soja foi plantada entre o fim de outubro e novembro, período comum para iniciar a cultura. Contudo, por causa da estiagem, ele precisou semear duas vezes o grão nos 30 hectares que cultiva o grão na Cidade das Orquídeas e em Cruzeiro do Sul.

Produtor explica que os pés de soja deveriam estar mais altos, praticamente batendo em seu ombro (Foto: Taís Fortes/Folha do Mate)

“A semente não germinou como deveria. Em razão da falta de chuva e das temperaturas altas ela perde o vigor. Precisei investir duas vezes e ainda vou ter perdas”, ressalta, ao compartilhar que são aplicados R$ 6 mil por hectare desde o plantio até chegar na indústria. “Com certeza vou ter prejuízo. Vou colher, no máximo, 30% do que plantei”, acrescenta.

Neste momento, Maldaner explica que a soja está entre as fases de floração e do preenchimento do grão, o que necessita de mais umidade. Para ele, o que mais chama atenção nesta estiagem é que ela iniciou muito cedo – já havia baixos índices de precipitação em novembro do ano passado – e ela está sendo bastante prolongada.

“Isso eu não lembro de ter acontecido em outros anos”, cita. Além disso, as altas temperaturas registradas nas últimas semanas também prejudicam o desenvolvimento da planta. “Temos uma indústria a céu aberto. Investimos o dinheiro sem saber se vamos colher alguma coisa. Por isso, sempre digo que o produtor precisa fazer uma reserva de um ano para o outro”, comenta.

Agricultor mostra como seria ideal que os pés de soja estivessem, mas lembra que faltou altura para todos (Foto: Taís Fortes/Folha do Mate)

Próximas semanas precisam de chuva regular

O chefe do escritório municipal da Emater, Claudiomiro da Silva de Oliveira, destaca que a chuva registrada na última semana foi muito importante e trouxe um certo alívio para os agricultores, principalmente aqueles que plantaram soja.

“Se não fosse essa chuvinha, teria sido bem pior. Teríamos tido bem mais perdas na soja. Embora a gente saiba que o efeito dessa falta de chuva no início possa se mostrar mais para frente”, avalia.

A média de chuva no mês de janeiro foi de 112 milímetros, um pouco abaixo da quantidade comum para o mês, que varia entre 130 e 140 milímetros, mas melhor, principalmente, do que os meses de novembro e dezembro.

Apesar do alívio, Oliveira salienta que as perdas já registradas com o milho e a soja não podem mais ser recuperadas. No milho para grão, a quebra foi de 50% e para silagem de 20%. A soja também contabiliza um prejuízo de 20%.

Para as próximas semanas, o chefe do escritório ressalta que é importante que aconteça chuva regular, com precipitação que varie entre 20 e 30 milímetros semanais. De acordo com ele, isso é importante porque entre o fim de fevereiro e início de março o milho plantado mais tarde estará na época de floração.

“Se faltar mais chuva nesse período, vamos ter quebra novamente”, pontua. Oliveira também lembra que é importante que não haja geada mais cedo, como em abril. “Quando acontece esses períodos de seca se adianta a geada e se as culturas não estão bem prontas para colheita, vai ser complicado”, observa.

A chuva também foi colaborou para a regularização dos níveis de reservatórios usados para saciar a sede dos animais. “Com essa chuva começa a regularizar um pouco. Não digo que soluciona, ainda está muito baixo, mas, pelo menos, ameniza.”



Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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