
Com mudança na lei, compra do tabaco começou com novo formato na safra 2024/25. Saiba o que dizem produtores de Venâncio.
A maioria das tabacaleiras da região de Venâncio abriu a compra de tabaco na primeira e segunda semanas de janeiro. Nos primeiros dias, enquanto já se intensificam as contratações dos safreiros para trabalhar no beneficiamento, as empresas tratam de garantir o fumo seco para abastecer as esteiras. Mas este movimento mudou nesta safra, devido à lei que determinou a classificação do tabaco diretamente nas propriedades, em vez de ser nas indústrias, como era feito até então.
A lei que estabeleceu a mudança é de autoria do deputado Zé Nunes (PT) e foi aprovada em 2022. No entanto, a implementação dela, defendida pelas entidades representativas dos produtores, não teve o mesmo entendimento por parte do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), que alegou inconstitucionalidade, levando o assunto à Justiça em 2023. Em agosto de 2024, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJ-RS) julgou improcedente essa Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelo sindicato. Assim, o novo formato já deveria ser respeitado na safra 2024/25, o que já vem acontecendo, conforme os produtores ouvidos pela Folha.
Vantagens
Em Linha Coronel Brito, Jorge Roberto de Quadros, 42 anos, vende tabaco para duas indústrias de Santa Cruz do Sul. Ele entende que começar o negócio em casa facilita para o produtor. “As vantagens de vender o fumo em casa é que a gente já sai com a classificação certa, sabendo o que vai receber. Sempre tive certo receio dessa mudança, porque não sei se seria tão vantajoso num ano que o fumo não fosse tão valorizado. Mas, como tem tido valorização nas últimas safras, isso facilita para o produtor.”
Quadros destaca que a valorização tem sido para as folhas de ‘meio de pé para cima’. “Meu fumo está bom esse ano, tem qualidade. Ano passado choveu muito e não teve a mesma produtividade.” O agricultor cultivou 60 mil pés na atual safra e espera alcançar até 10 arrobas por mil pés. Na anterior, foram 8 arrobas por mil pés.

Preço mínimo do tabaco
Em Linha Ponte Queimada, também interior de Venâncio, Elisandro da Costa da Silva, 36 anos, e a esposa Deise dos Santos, 32, plantaram 70 mil pés nesta safra. O casal já fez uma venda nesse início de ano. “Acho vantajoso vender em casa, por não precisar sair da propriedade, já sai com o preço garantido de casa. Mas eles poderiam melhorar o sistema, fazer tipo um ‘pacote’, por exemplo, metade BO1, metade TO1 e vai dar um preço X. Mas estão garantindo o preço mínimo, daí precisa ir na empresa negociar e acho que isso não ‘fecha’ muito”, comenta.
Início devagar para o transporte de tabaco
O venâncio-airense Márcio Roberto Goethel, 53 anos, trabalha como transportador de tabaco há 33 anos. Ele observa que, nesse início de safra, o fluxo de viagens está bem mais lento que nas safras anteriores. “Em relação a outros anos, está mais devagar, porque já carregava bastante em dezembro, daí no início de janeiro já tinha uma boa quantidade puxada. Mas está devagar e é geral. Até o dia 25 de janeiro, ‘puxei’ cinco cargas. Em outros anos, já teriam sido umas 15.”
Sobre a negociação do tabaco ocorrer na propriedade, Goethel não esconde que sua atividade será impactada. “Realmente, para mim, ficou mais difícil, porque se não dá o negócio com o produtor, ele não manda [o tabaco] e tenho que aguardar os compradores. Em outros anos era mais ágil, carregava, ia para a empresa e, se não dava, voltava. Claro que isso não é bom para o produtor, mas daí o transportador também fica esperando para carregar. Para a logística piorou, porque precisamos esperar pela compra, pelo produtor aceitar a compra, e daí a gente poder carregar. E tem a questão do preço, que está abaixo do ano passado, então acho que o produtor está segurando mais.”
Goethel leva tabaco para uma empresa de Santa Cruz do Sul, com a qual tem contrato, e carrega para quase 200 produtores de Venâncio Aires e Taquari. Em 2024, transportou 800 mil quilos e a expectativa é que possa chegar a 1,2 milhão de quilos em 2025.

Processo novo
Para a Alliance One Brasil, uma das maiores empresas de Venâncio Aires, a lei da classificação na propriedade, na verdade, muda a dinâmica e o local onde acontece a negociação. A empresa também destaca que promoveu treinamentos com sua equipe responsável pela realização da atividade, composta tanto por técnicos de campo quanto de classificação de tabaco.
Conforme o diretor de Produção da Alliance One Brasil, Samuel Streck, trata-se de um processo novo, onde ainda há uma fase de adaptação, pois se torna mais complexo. “É inegável que as condições para avaliação da qualidade do tabaco nas propriedades variam de produtor a produtor e oferecem desafios que não ocorriam quando o processo era realizado nas unidades de compra da empresa.”
Entre os desafios, conforme a empresa, estão a iluminação e a própria estrutura das propriedades. Ainda de acordo com o diretor de Produção da Alliance One, “adicionalmente, no novo modelo, fica inviável o acompanhamento/fiscalização da Emater em casos de divergência.”