A contratação de safreiros para as indústrias de tabaco e a compra do produto para o beneficiamento se intensificaram nas últimas semanas. Trata-se de um movimento corriqueiro em todo início de ano, mas para esta safra mudou um pouco o formato. Isso porque está em prática a lei que determinou a classificação do tabaco diretamente nas propriedades, em vez de ser nas indústrias, como era feito até então. Ou seja, agora a negociação começa sob o galpão do produtor, onde o tabaco seco fica estocado antes da venda.
Em Linha Bem Feita, interior de Venâncio Aires, a família Overbeck já comercializou três vezes neste ano. Eles vendem para duas tabacaleiras de Santa Cruz do Sul. “Uma empresa veio, garantiu a classe, mas precisei ir negociar o preço lá. A outra garantiu a classe e já definiu o preço também aqui em casa. Acho que assim deveria ser sempre, para facilitar”, avalia Fabio Luís Overbeck, 50 anos. Ele, a esposa Eliane, 45, e o filho mais velho, Lucas, 21 anos, cultivaram 92 mil pés de tabaco. Ano passado a família ainda mantinha a produção leiteira, mas, nesta safra, o tabaco virou a principal cultura, por isso aumentaram a quantidade plantada. Sem o excesso de umidade de 2023, no atual ciclo, o agricultor acredita que terá uma produtividade maior, passando de 9 arrobas por mil pés para até 11 arrobas por mil pés.
Para Fabio, embora a mudança nesta safra, a questão do preço ainda será o determinante para o produtor. “Tem fumo bonito, com boa qualidade. Espero que a valorização venha, porque se não vai ser como ano passado, quando muita gente segurou em casa para tentar um preço melhor no fim.”
Afubra: “Esperamos uma safra quase normal e com boa comercialização para o produtor”
Segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), a safra de tabaco sul-brasileira 2024/25 chegou a 309.982 hectares de área plantada – aumento de 9,08% em relação ao ano passado. Em termos de volume, a expectativa é que alcance mesmo as 696 mil toneladas projetadas anteriormente, cerca de 90 mil toneladas a mais que no ciclo anterior.
“Do volume, por enquanto se mantém essa estimativa, mas ainda precisam ser confirmados os dados finais, já que houve perdas pontuais em algumas regiões devido às questões climáticas. Mas acreditamos que será uma safra quase normal em termos de produtividade e qualidade e com uma boa comercialização para os produtores”, destaca o presidente da Afubra, Marcilio Drescher.
Conforme ele, considerando Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, a colheita já chegou a 96%. “O mesmo percentual pode ser aplicado para Venâncio Aires e Santa Cruz, onde falta pouca coisa para ser colhida.” Sobre a classificação do tabaco diretamente na propriedade, Drescher diz que a comercialização ainda está lenta, mas que está funcionando. “Acreditamos que é para o bem dos produtores. É mais tranquilo para eles com essa pré-classificação em casa. Porque já sai com a classe definida e depois pode se negociar um melhor preço na indústria.”
Relembre
A lei que estabeleceu a classificação do tabaco na propriedade é do deputado Zé Nunes (PT) e foi aprovada em 2022. No entanto, a implementação dela, defendida pelas entidades representativas dos produtores, não teve o mesmo entendimento por parte do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), que alegou inconstitucionalidade, levando o assunto à Justiça em 2023. Em agosto de 2024, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJ-RS) julgou improcedente essa Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelo sindicato. Assim, o novo formato já deveria ser respeitado na safra 2024/25, o que já vem acontecendo.
