Um dos protagonistas no prato do brasileiro, o feijão ainda não tem o mesmo ‘status’ nas lavouras de Venâncio Aires. Segundo a Emater local, a média de área plantada é a mesma há cinco anos (250 hectares entre safra e safrinha), mas antes disso foi maior e chegou a passar de 300 hectares.
Além de ser uma cultura que não tem aumentado o plantio nos últimos anos, a safra mais recente foi duramente castigada pelo clima. O excesso de chuva entre o fim do inverno e início da primavera, tempo de plantio, trouxe muitos prejuízos. “O feijão floresceu com chuva e ocorreram muitas doenças. O clima também não permitiu ao produtor conseguir fazer um tratamento adequado contra fungos e bactérias”, observa o chefe do escritório municipal da Emater, Vicente Fin.
De acordo com os dados, na safra foram plantados 200 hectares, que renderam 370 toneladas. Isso porque a média foi de 1,8 tonelada por hectare, mas, numa condição climática mais favorável, poderia ter chegado a 2,2 toneladas. No safrinha, entre dezembro e janeiro, foram plantados mais 50 hectares. Com chuva e sol mais regulares, a Emater estima, pelo menos, 2,1 toneladas por hectare.
Ainda que agora seja uma safrinha, a expectativa dos produtores é de que o diminutivo fique restrito à palavra e não à produção. É o caso de Rudolf Dattein, 35 anos, morador de Linha Marechal Floriano. “Na última não deu nem a metade do que esperávamos”, comenta o agricultor. Na prática, o 0,2 hectare cultivado pela família poderia ter rendido 360 quilos, mas ficou bem abaixo disso. “O excesso de chuva potencializou a antracnose [doença fúngica]. O clima não favoreceu. Mas a safrinha está se desenvolvendo bem. Está bem melhor que o do ‘cedo’ e não deu doença. Então pode dar uma boa colheita”, projeta.
A produção da família é para consumo próprio e venda direta. No caso dos Dattein, uma garrafa PET de dois litros, onde são guardados de 1,8 a 1,9 quilo, é vendida por R$ 15. Conforme Rudolf, não está descartada a possibilidade de plantar mais e pensar numa escala comercial. “Mas para isso teria que ter investimento em colheitadeira, tudo tem custo. Por enquanto aqui a colheita é manual.”
A família tem uma propriedade bastante diversificada e, além do feijão, cultiva aipim, milho, morango e um pouco de arroz. Os carros-chefe são o tabaco e a soja.
550 – é o número de famílias que plantam feijão em Venâncio e, conforme a Emater, cerca de 50 produtores teriam potencial de venda em escala comercial.
Mais caro no mercado
• A queda na produtividade e falta de grãos têm contribuído para um aumento no preço do feijão nos supermercados. De acordo com levantamento mensal da cesta básica feito pela Folha do Mate, em três mercados de Venâncio, o preço médio do quilo vem encarecendo nos últimos meses. Em outubro de 2023, estava em R$ 8,25. A última pesquisa, realizada na última segunda-feira, 11, apontou valor médio de R$ 10,15 – aumento de 23%.
Demanda segue na Cooprova
A maior parte do feijão colhido em Venâncio fica para consumo das próprias famílias ou venda direta em feiras. Para o chefe da Emater, Vicente Fin, embora seja uma cultura rápida e barata para produzir, muitas pessoas preferem não plantar porque não têm segurança na venda. “Penso que se tivesse mais estrutura aqui e a Cooprova não precisasse mandar processar em Boqueirão do Leão, haveria mais interessados em fornecer”, avalia.
Nesse sentido, a presidente da cooperativa, Mônica Moraes, também entende que isso facilitaria o processo, mas exigiria um grande investimento em maquinário para selecionar e embalar o grão. Enquanto isso, uma alternativa seria a instalação de um silo para fazer o armazenamento até o feijão ser levado para o processamento em Boqueirão do Leão. “Hoje nossos produtores não têm local adequado para manter em boas condições. Com um silo, vamos conseguir manter um estoque razoável por mais tempo”, comenta Mônica. Ainda segundo ela “estamos organizando as documentações de uns recursos da Consulta Popular de anos anteriores e vamos ver o que conseguimos montar aqui. Vamos deixar as obras do pavilhão ficarem prontas.”
A presidente da Cooprova afirma ainda que sempre há demanda pelo feijão (um dos produtos embalados com a marca da cooperativa) e que é necessário pensar formas de atrair mais produtores. “Nós pagamos o valor de mercado. Também tem que considerar que o clima ainda coloca muito medo nessa cultura e o espaço de feijão está sendo perdido para soja. Até mesmo a questão de maquinário. Hoje é mais prático o plantio de soja que do feijão.”
Programas
A Cooprova fornece alimentos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) de instituições de ensino municipais e estaduais de Venâncio Aires, para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) de Venâncio, Canoas e Lajeado, para a Penitenciária Estadual de Venâncio (Peva) e para o quartel de Santa Cruz do Sul.
Mas, devido à baixa oferta, o feijão que chega à cooperativa tem sido disponibilizado apenas para o Pnae e para a Peva. Segundo Mônica Moraes, se tivesse uma produção maior, seria possível colocar o produto também nos demais programas. Atualmente, cerca de 10 produtores fornecem o grão.