Foto: Roni Müller/Folha do Mate
Foto: Roni Müller/Folha do Mate

Por Rosana Wessling 

Os 12 milímetros de chuva que caíram na última semana, em Vila Santa Emília, no interior de Venâncio Aires, não foram suficientes para amenizar os prejuízos com a safra de milho do produtor Henrique José Ruwer, 29 anos. Com lavouras em Santa Emília, Linha Cecília e Capoeira Grande (divisa entre Linha 17 de Junho e Vila Santa Emília), os prejuízos já chegam a 80% . “Já são três anos seguidos de seca. Três anos de prejuízos. Está ficando difícil, mas a gente não pode desanimar”, desafaba Ruwer.

Ele, ao lado do pai, Ornélio Ruwer, iniciou com a aposta nos grãos em 2010. No ano passado, foram plantados 50 hectares de milho, mas com os impactos da seca, neste ano a área foi reduzida. “Ano passado tivemos 75% de perdas. Mas esse ano é pior. Ano passado tu olhava para a lavoura e achava espigas boas. Esse ano, só de tirar a palha você já percebe 15% de perda, só nesse primeiro olhar”, lamenta.

O grão é o carro-chefe para a família, que comercializa em cooperativas da região. A colheita deve iniciar na primeira quinzena de janeiro. “A minha preocupação é com o ano que vem. Assim como a gente, outros produtores pretendem reduzir a área. Nós vamos reduzir mais 10 hectares. Ano passado eram 50 hectares”, frisa o jovem. O milho safra neste ano foi plantado no dia 5 de agosto. “A estiagem está vindo cada vez mais cedo. Já existem pesquisas e testes e, no ano que vem, pretendemos plantar entre 15 e 20 de julho, sempre de olho no clima”, ressalta Ruwer.

Altos investimentos

Ruwer salienta que entre agosto e setembro a ‘briga’ foi com a cigarrinha. “Ela veio com tudo. Tivemos que fazer duas aplicações de defensivos e conseguimos salvar a plantação”, relembra. “Quando a gente pensou ‘pronto, agora vai dar certo’, faltou a chuva, e quando ela mais precisava vir, no ciclo do pendoamento e enchimento de grão, ela faltou também. Em novembro ainda teve um vento. Como o pé do milho estava fino, muitos tombaram. A lavoura está cheia de reboleiras”, esclarece.

Agora, a alternativa foi acionar o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), que visa atender os pequenos e médios produtores, garantindo a exoneração de obrigações financeiras relativas à operação de crédito rural de custeio, cuja liquidação seja dificultada pela ocorrência de fenômenos naturais, pragas e doenças que atinjam plantações, na forma estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
“A solução é acionar o seguro. Há quatro anos tiramos 196 sacos por hectare. Isso é muito bom, muitos só conseguem em lavouras com irrigação e a gente conseguiu no modo convencional. Esse ano não sei se a gente tira 40 sacos por hectare. Não tem mais o que fazer, mas é triste”, desabafa Ruwer.

O produtor salienta que a cultura do milho requer altos investimentos, sem contar que a família fez a correção do solo com calcário, adubação e o plantio direto encima da palhada. “É uma loteria, se investe muito para ter um retorno que, às vezes, nem empata. É preciso torcer para não sair no prejuízo”, complementa.

A esperança de Ruwer é com a safra de soja. “A gente estava apreensivo, mas essa chuvinha já ajudou, pois está no início do ciclo. Tudo indica que vai dar uma safra boa. O trigo também deu bem. Por, isso decidimos que no ano que vem vamos apostar no trigo e na soja. A tendência é reduzir cada vez mais com o milho”, cita.

Produtor de Capoeira Grande estima prejuízos de até R$ 500 mil nesta safra de milho (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

“Quando a gente pensa em números, a gente se apavora. Os prejuízos com essa estiagem são gigantes. Já estimamos uma perda de até R$ 500 mil nesta safra.”

HENRIQUE JOSÉ RUWER – Produtor rural

A Prefeitura estuda uma maneira de auxiliar os produtores atingidos com a estiagem. O poder público analisa a possibilidade de ajuda os agricultores numa nova safra. Segundo o prefeito Jarbas da Rosa, o assunto ainda está em análise. “Semana que vem podemos ter mais informações”, comenta Jarbas.

Um plantio mais cedo para escapar da estiagem

O produtor de Linha Isabel, Ivo Clécio Bencke, 54 anos, tomou uma medida diferente na atual safra. “A gente achou cedo, mais preferimos arriscar. Plantamos o milho entre os dias 19 de julho e 7 de agosto”, comenta.

O agricultor conta que o milho que foi plantado mais tarde teve mais consequências de perdas. “Esse ano deu uma espiga boa, mas o grão não encheu como deveria, o milho está enrugado”, explica Bencke.

“Mesmo plantando mais cedo, vamos ter lavouras que vão sofrer um pouco. Plantamos cedo para escapar da estiagem, mas não conseguimos 100%”, cita o agricultor. A família plantou 220 hectares de milho nesta safra. “Como plantamos em várias pontas do município, percebemos que foi um ano de chuva muito localizada.”

A família cultiva regiões de várzea, onde ocorrem enchentes, por isso as terras nessas regiões receberam o plantio do milho em novembro. “Milho do cedo é em lavoura seca, que não pega enchente, nessas áreas conseguimos fazer duas safras, milho e soja. Nessas terras temos algumas áreas que estimamos um prejuízo de 40%, mas vamos ter lavouras que vamos colher melhor”, enfatiza.

Ivo Bencke iniciou o plantio do milho em julho e algumas lavouras conseguiram alcançar uma boa produtividade (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

Panorama em Venâncio

• Em Venâncio, segundo a Emater-RS/Ascar, foram plantados 5,2 mil hectares de milho safra. “Sabe-se que há perdas. É difícil de fazer uma média de prejuízos, pois temos lavouras de 5% a 60% de perdas. Algumas áreas ainda vão se recuperar se chover nos próximos dias”, cita o chefe do escritório, Vicente Fin.

• “O milho ainda não está 100% pronto em Venâncio. Muitas lavouras ainda estão em granação. Por isso, para dar um resultado de perdas totais, precisamos aguardar”, comenta Fin.

• Além disso, o engenheiro agrônomo comenta que as áreas que mais sofreram com a estiagem foram as compactadas, sem cobertura de solo e baixa quantidade de matéria orgânica. “Mas temos casos que foi a chuva mesmo. Pois ela foi muito localizada e tem lugares que foi um volume muito baixo.”

• Conforme a Emater, a estiagem poderá afetar lavouras de arroz, pois a cultura necessita de bastante água para produzir. O tabaco também pode ser prejudicado na região serrana do município, todavia, na grande maioria ele já se encaminha para o final do ciclo.

Em algumas lavouras é nítido a falta de chuvas com as grandes rachaduras no solo (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

Na microrregião, Mato Leitão é o município mais atingido

Por Taís Fortes* 

A falta de chuva que tem causado prejuízos para produtores de Venâncio Aires, também atinge os agricultores de cidades próximas. Na microrregião da Capital Nacional do Chimarrão, Mato Leitão é o município mais atingido. Conforme divulgado pela assessoria de imprensa da Prefeitura, são mais de 60 dias com precipitação abaixo do esperado e o resultado disso são perdas significativas para o setor primário.

Na Cidade das Orquídeas, segundo dados do escritório municipal da Emater-RS/Ascar, a cultura do milho para a venda do grão já acumula quebra de 50%. “Desde 25 de novembro, já acionamos o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária, o Proagro, para 32 agricultores. Em alguns casos, a perda no milho chega a 70%”, informa o chefe do escritório local, Claudiomiro da Silva de Oliveira.

Conforme os dados repassados pela Prefeitura, a produção de milho (grão) envolve cerca de 1,5 mil hectares e a expectativa era alcançar até 160 sacos por hectare. Entretanto, com a estiagem a previsão é chegar a apenas 70 sacos por hectare. “Faltou a chuva entre o fim de outubro e no início de novembro. Aqueles 50 milímetros teriam feito toda a diferença para quem previa uma safra cheia”, avalia Oliveira.

No caso do milho para silagem, as perdas devem alcançar 30%. São cerca de 900 hectares de cultivo. Antes, a produção esperada era de 28 toneladas por hectare. Agora, essa quantia deve baixar para 22 toneladas. “A qualidade está comprometida e muitos agricultores anteciparam a produção para evitar mais perdas. Isso sem falar no custo dos insumos que aumentou demais”, ressalta o chefe do escritório local da Emater. Em Mato Leitão, são mais de 200 agricultores que investem no cultivo do milho.

Saiba mais

• Em Mato Leitão, a estiagem também causa problemas para o cultivo da soja. Segundo o chefe do escritório municipal da Emater, Claudiomiro da Silva de Oliveira, cerca de 90% da soja já foi plantada, em aproximadamente 700 hectares. “Até a floração das plantas ainda é possível recuperar. O clima precisa ajudar a partir de agora, caso contrário a situação se complica”, observa.

• A produção de leite também registra perdas, principalmente porque a falta de chuva atrapalha o desenvolvimento das pastagens e as altas temperaturas prejudicam o gado leiteiro, que é a principal atividade para cerca de 70 agricultores com um rebanho de aproximadamente 1,1 mil animais.

• A Secretaria Municipal da Agricultura e Meio Ambiente também acompanha a evolução da situação da estiagem na Cidade das Orquídeas. De acordo com o titular da pasta, João Carlos Machry ainda não aconteceram registros de falta de água para animais.

• “Por enquanto apenas alguns serviços de rotina para limpar e melhorar reservatórios de água. O problema é com o milho que está na lavoura. A produção de silagem foi antecipada e o que estava destinado para grãos terá muita quebra”, comenta.

*Com informações da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Mato Leitão

Perdas na safra de milho em Mato Leitão já chegam a 50% nas lavouras destinadas à venda do grão (Foto: AI Prefeitura)

Vale Verde

Em Vale Verde, de acordo com o engenheiro agrônomo e chefe do escritório local da Emater, João Antônio Leal da Silva, por enquanto, não é possível quantificar grandes perdas na cultura do milho em razão da estiagem. Ele explica que isso acontece porque a maioria dos produtores do município plantam o grão na resteva do tabaco.

“Na grande maioria são pequenas propriedades e os agricultores sempre plantam o milho depois do tabaco, até por causa da pouca área”, relata. Por isso, a maioria dos produtores vai iniciar as lavouras neste mês. “Agora em dezembro o pessoal está terminando de colher o tabaco e vai começar o plantio do milho. Muitos estão aproveitando a chuva dos últimos dias para fazer isso. Então, praticamente não temos lavouras do milho cedo para grão”, informa.

Segundo Silva, quem costuma plantar o milho mais cedo em Vale Verde são os nove produtores que trabalham com gado de leite e utilizam o grão para fazer silagem. “Praticamente não houve grandes perdas do milho. São poucas as lavouras que sentiram a estiagem, porque muitos produtores plantam nesse época”, acrescenta. Até o início da tarde desta sexta-feira, 17, a Emater não tinha recebido nenhum pedido de Proagro.

De acordo com Silva, são cerca de 300 hectares utilizados para o plantio de milho usado na produção de silagem e de 800 a 900 hectares para a venda do grão. O engenheiro agrônomo ainda informa que a falta de chuva acarretou reflexos negativos para as pastagens, que tiveram o crescimento prejudicado. “Interferiu no custo da produção, porque os agricultores tiveram que antecipar a utilização da silagem, além de usar mais ela nesse período.”

Passo do Sobrado

Em Passo do Sobrado, a situação da estiagem é semelhante à de Vale Verde. Segundo o engenheiro agrônomo do escritório municipal da Emater, Wagner Soares, os agricultores também começam o plantio do milho após ser finalizada a colheita do tabaco. Por isso, a estimativa é que a perda na produtividade do grão, até o momento, varie entre 10% e 15%.

“São em lavouras já plantadas e que estão em fase de maturação. Ou seja, que já passaram da etapa de floração, que é a mais delicada em relação à falta de chuva”, explica. A área total para o cultivo de milho em Passo do Sobrado é de 3, 6 mil hectares e a previsão é que até agora 1,4 mil hectares já estejam semeados.

Ele ainda informa que o município registra apenas casos pontuais de perdas. Até o fim da manhã desta sexta-feira, 17, dois produtores haviam acionado o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Ainda conforme Soares, apesar de ter sido abaixo do necessário, a chuva registrada nesta semana em Passo do Sobrado vai contribuir para o plantio do milho nos próximos dias.