Gravar a rotina do dia a dia na roça, editar, fazer um texto e postar no Instagram e Facebook estão entre as tarefas da agricultora e estudante Veridiana Guimarães, 28 anos. Há um ano e meio na ‘lida’, a jovem que nasceu em Ponte Queimada, interior de Venâncio Aires, começou auxiliar o marido, Marcelo Fagundes, na plantação de soja e milho e na criação de gado, em Linha Taquari Mirim, onde residem.
Mesmo sendo natural da área rural, Veridiana, que é jornalista e doutoranda em Letras, nunca tinha trabalhado na agricultura. Na adolescência, ela quis sair do interior e morou alguns anos no centro de Venâncio. Porém, hoje, não largaria a vida da roça. “Cheguei a ter vergonha de morar no interior, de ser colona e hoje já vejo bem pelo contrário. A roça é o que eu gosto e tenho orgulho de fazer.”
Com a necessidade de um ajudante para o marido, no ano passado, ela teve que começar a colocar ‘a mão na massa’ “Fui tudo muito rápido, meu sogro ficou doente, faleceu e eu tinha que fazer. Fui fazendo e aprendendo”, lembra.
Veridiana, que não gosta de dirigir nem carro, se apaixonou por dirigir tratores. “Sempre tive medo. Quando morava com meus pais eles não deixavam eu fazer as coisas da roça, por medo de eu me machucar. Eles sempre incentivaram a estudar. Já meu marido, quando precisou de ajuda, me incentivou a perder os medos. Eu tinha medo de emborcar, mas ele me colocou no trator e ensinou”, conta ela, que hoje anda de trator sem medo algum.
INTERNET
Para incentivar que outras mulheres percam o medo e que valorizem também o trabalho na roça, Veridiana decidiu compartilhar a rotina do campo no Facebook e Instagram. “Eu não tinha nem conta pessoal no Instagram, não conhecia essa plataforma. Estudei para entender como funciona cada uma e arrisquei”, conta.
No dia 1º de maio, nasceu o ‘Ela é da roça‘. Atualmente, no Instagram, são cerca de 730 seguidores e no Facebook em torno de 3,7 mil curtidas na página. A página também recebe e divulga fotos dos seguidores, para mostrar outras mulheres que também atuam na agricultura. “Uma seguidora mandou a foto e pediu para eu postar, assim começou. Agora, eu reposto as fotos de quem usa a hashtag #elaédaroça”, complementa.
“Quero mostrar um pouco do dia a dia da roça, mostrar que mulher também entende disso e que podemos fazer o que gostamos. Eu me sinto bem em cima do trator e é isso que importa.”
VERIDIANA GUIMARÃES
Agricultora
“Eu me sinto livre em cima do trator”, diz agricultora
Mesmo dirigindo trator somente há cerca de um ano, Veridiana ama estar no controle do grande veículo. É em cima dele que se sente livre e realizada. Antes de começar a conduzir o veículo, no entanto, ela participou da escolha de compra de um novo trator para a família. “Fui às feiras com meu marido, comecei a entender melhor as coisas que eles falavam, as questões técnicas e auxiliei nessa compra. Ali já fui gostando, depois que andei me apaixonei. Eu me sinto livre em cima do trator. Não tem explicação”, afirma.
É justamente na ‘direção’ que ela ajuda a plantar e colher soja e milho em cerca de cem hectares. “Temos uma parte em Vale Verde, é mais cansativo quando plantamos lá. Em época de safra é bem corrido, mesmo com dois tratores.” Mesmo assim, ela acredita que a cultura está sendo mais valorizada e, no geral, a agricultura também deve ser. “Temos esperança de sermos reconhecidos, todos da agricultura, como merecemos”, destaca.
Na roda de amigos, a agricultora também expõe suas opiniões sobre os tratores e sobre a roça no geral. “Algumas mulheres que não sabem andar ou não gostam, acham estranho e não entendem, mas cada uma deve investir no que mais gosta”, considera.
AUTOESTIMA
Veridiana reforça que vê poucas mulheres nos tratores, ou até mesmo, tomando a ‘frente’ nas propriedades. “Tento mostrar que a mulher pode dirigir um trator, amar e saber sobre trator e fazer o que ela quiser e gostar”, ressalta.
Nos próximos dias, a página ‘Ela é da roça’ vai lançar um projeto sobre autoestima das mulheres agricultoras, com objetivo de incentivar que elas também cuidem da saúde e se amem. “Tem muito uma visão geral que a mulher da roça não se cuida, não se arruma, que não tem tempo. Mas não é assim, nós podemos tirar um tempo para nós mesmas. Fazer um exercício, usar uma roupa nova, brincos, fazer as unhas.”
Veridiana também relembra que já foi julgada por cuidar da aparência e trabalhar na roça. “Um homem veio aqui um dia e disse ‘nunca imaginei te ver ajudando, porque parece uma patricinha’, mas não é isso, eu ajudo, faço tudo que precisar e também gosto de me cuidar. Todas nós, mulheres, devemos nos sentir bem”, conclui.
Sobre a criadora do ‘Ela é da roça’
- Veridiana nasceu em Venâncio Aires, morou em Picada Mariante e agora reside em Linha Taquari Mirim
- Ela é formada em Jornalismo, Letras e faz doutorado em Letras na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A agricultora planeja, quando concluir o curso, trabalhar meio turno na área da licenciatura e meio turno na roça. “Quero muito conciliar tudo.”
- Veridiana ajuda o marido, Marcelo Fagundes, na plantação de soja, milho e criação de gado.
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