Entidades do setor agropecuário se reuniram durante a Expointer para manifestar inconformidade com o calendário da semeadura 2023/2024 da soja, que estabelece o período de 100 dias (1º de outubro a 8 de janeiro) para o cultivo da oleaginosa no Rio Grande do Sul. No ciclo 2022/2023, a janela de plantio ocorreu entre 15 de outubro e 28 de fevereiro, totalizando 140 dias.
O período avaliado como ideal seria de 130 dias, entre 1º de outubro e 7 de fevereiro. Um dos argumentos é o fato de o Rio Grande do Sul ter passado por sucessivas estiagens e o calendário mais extenso permitiu ao produtor fazer o cultivo de soja nas últimas safras.
Com isso, será produzido um documento, assinado pelas entidades envolvidas, para ser enviado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). “A partir do posicionamento, vamos encaminhar a manifestação, alertando que o prazo de 100 dias é estreito para o plantio”, destacou o secretário estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Giovani Feltes.
O 1º vice-presidente da Farsul, Elmar Konrad, entende que “se não houver a adequação, haverá redução na área cultivada do milho”, por exemplo. A estimativa é de que haveria uma redução de cerca de 300 mil hectares com o cultivo do grão, essencial para a cadeia da proteína animal. A medida, alertaram representantes do setor, também pode impactar na produção da soja safrinha, na geração de emprego, renda e na arrecadação do Estado.
De acordo com o diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Seapi, Ricardo Felicetti, o Ministério está ciente das dificuldades e vem dialogando em busca de solução. Participaram do encontro em Esteio a FecoAgro, Fetag, Acergs, Aprosoja, Farsul, Sistema Ocergs, Apassul, Agro Effective, Instituto de Ciências Agronômicas (Incia), Sindicatos Rurais de Santo Ângelo e Carazinho, Conab, Emater, Seapi e deputados.
*Com informações AI Expointer.
Vazio sanitário
O chefe do escritório da Emater de Venâncio Aires, Vicente Fin, entende que o plantio entre safra e safrinha não deve passar de 130 dias, porque é preciso dar o devido tempo para o vazio sanitário na lavoura. “Acho interessante o produtor não avançar muito depois do dia 5 de fevereiro porque acaba trazendo problemas para a safra seguinte. Tem lavouras com soja em tudo que é época, alguns não compensa nem colher, e o problema é que acabam reproduzindo doenças, perpetuando a mosca branca, por exemplo, e uma série de problemas que traz quando não faz o vazio sanitário.”
Para o engenheiro agrônomo, o vazio sanitário seria feito entre o fim da colheita de uma safra até o início do plantio da próxima, entre junho e outubro, geralmente. “A orientação é que se plante aveia em março ou se use um produto folha larga para fazer o controle, justamente para evitar plantas voluntárias de soja que acabam reproduzindo ciclos de pragas e doenças”, explicou. A soja voluntária referido por ele tem esse nome quando desenvolve o comportamento de uma planta daninha, ou seja, se torna invasora dentro do sistema de rotação de cultura.
“Cada região tem uma realidade’, avalia produtor
Produtor de soja há cerca de 20 anos em Linha Herval, interior de Venâncio Aires, Edson de Brito entende que, considerando a estiagem dos últimos anos, a possibilidade de ter um calendário maior é interessante. “Muitas vezes não se tem umidade necessária para fazer germinar. Então é interessante ter uma janela de plantio um pouco maior. Mas a minha realidade é uma, diferente de outros produtores, e esse calendário é para o estado inteiro.”
Ainda sobre isso, Brito avalia que, no caso dele, outubro é precoce para semear. “O zoneamento é feito para o estado inteiro e nós temos vários climas dentro do Rio Grande do Sul. Pega as regiões de altitude, tem que plantar mais tarde. Na fronteira, plantam mais cedo e tem ótima produtividade. Na minha região, tenho a opinião de que outubro não se planta, porque é muito cedo. O ideal seria começar em novembro e o fim da janela entre 5 e 10 de fevereiro”, opinou o produtor, que, em 2023/24, vai começar a plantar depois do dia 15 de novembro.
Edson de Brito também defendeu o vazio sanitário, mas diz que não há muitas opções eficientes para fazê-lo. “Eu consigo isso plantando trigo. Não temos tido invernos muito severos e a soja acaba crescendo no meio da vegetação do inverno. Ela não se desenvolve, mas está lá, cheia de doenças. Então o trigo ainda é melhor opção, porque existe um herbicida para o trigo e que razoavelmente controla essa soja que nasce depois.”