O cenário é realmente assustador. As marcas que ficaram ainda impactam quem olha ‘de fora’. Na manhã de sexta-feira, 18, a reportagem da Folha do Mate percorreu algumas localidades do distrito de Vila Estância nova para conferir os estragos causados pelo temporal com granizo que foi registrado na última quarta-feira, 16.
Linha Campo Grande é uma das localidades atingidas pelo granizo no nono distrito. Os moradores ainda contabilizam os prejuízos e começam a pensar em alternativas. Ao passar pela localidade, era comum observar equipes realizando a manutenção dos telhados das residências e galpões. Uma das agricultoras da região cita que a família perdeu aproximadamente 30 mil pés de tabaco que estavam com uma média de 12 folhas ainda. “As pedras eram tão grandes que empossaram. Depois, quando caminhamos por cima, parecia que era gelo da geladeira. Gelava os pés”, relata.
Na propriedade da família Maggioni, a sexta-feira foi reservada para salvar o tabaco que estava armazenado no galpão. O granizo e o vento foram tão fortes que arrancaram parte do telhado e o que ficou foi quebrado com as pedras, com isso, as folhas de tabaco que estavam prontas para serem enfardadas molharam. “É lamentável. Estamos passando o dia mexendo nas folhas, secando elas, colocando no sol para não estragarem mais ainda. Mas já perdemos a classe”, lamenta Zelina da Glória Quintana Maggioni, 58 anos.
“A gente via na TV essa cena das pessoas colocando lonas nos telhados e sempre achava que isso não ia acontecer aqui. Foi assustador. Moro aqui desde que nasci, mas nunca vi pedra tão grande e um estrago tão forte. É triste, muito triste. Não sobrou nada na lavoura”, comenta Deulesio Ornélio Maggioni, 63 anos.
A lembrança dos 10 minutos de terror ainda estão presentes na memória da produtora. “Eu chorei muito, entrei em desespero. Quando vi os vidros das janelas quebrando com a força e grossura das pedras me apavorei mais ainda”, conta Zelina.
Mais de 400 produtores tiveram prejuízos no tabaco e acionaram a Afubra devido o granizo
O tabaco foi novamente uma das culturas mais atingidas. Em diversas localidades de Venâncio Aires, os produtores se encaminhavam para a colheita final, ou seja, a maioria das folhas ainda era do tabaco de melhor qualidade.
Na lavoura de Maggioni essa foi a segunda incidência de granizo na safra. “Na primeira vez foi lá no início. Derrubou uma folha por pé. Agora não sobrou nada, parece que moeram as folhas”, enaltece o produtor. Na lavoura restavam ainda cerca de 4 mil pés, de 10 a 12 folhas por pé. “Nossa expectativa era finalizar a safra com umas 350 arrobas com 27 mil pés. Agora acho que não dá 280 arrobas.”
Além de Linha Campo Grande, as regiões mais atingidas conforme a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) foram Linha Taquari Mirim, Linha Cerro dos Bois, Vila Estância Nova, Linha Mangueirão, Linha Cerro dos Narcisos e a região serrana como Linha Cipó e Linha Julieta.
Conforme o coordenador do Departamento Mutualista da Afubra em Venâncio Aires, André Fagundes, até o fim da tarde de sexta-feira, 18, cerca de 400 produtores haviam comunicado a entidade. “Temos um foco de 100 produtores atingidos na região serrana. O restante foi aqui na parte baixa, como Cerro dos Bois e Campo Grande.” Além disso, 20 produtores relataram o destelhamento da estufa de tabaco.
Fagundes comenta que equipes de outras filiais da Afubra estão vindo para o município auxiliar no levantamento. “Os produtores que tiveram o sinistro precisam comunicar a Afubra e aguardar. Se precisar fazer a colheita do tabaco na lavoura, gradear ou plantar o milho é preciso deixar umas carreiras de amostra para o avaliador”, explica.
O Sistema Mútuo da Afubra cobre os prejuízos causados pelo granizo de acordo com a modalidade que o associado optou no momento de inscrever suas lavouras e é a esperança dos agricultores para auxiliar nas despesas.
Milho
Outra cultura bastante afetada foi o milho. Maggioni se preparava para colher, nos próximos dias, os grãos. “Destruiu tudo. Afetou até a espiga. Foram pedras muito fortes”, conta o agricultor. Segundo o chefe do escritório local da Emater/RS – Ascar, Vicente Fin, a equipe ainda não tem os dados todos apurados, mas frisa que os profissionais possuem uma clareza que teve um prejuízo grande. “Passam de 400 famílias atingidas quando colocamos todas as atividades agrícolas. Temos relatos de famílias que tiveram prejuízos nas residências, estufas, galpões e lavouras”, frisa.
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