Com o encerramento da safra de tabaco 2020/21, é hora de fazer as contas e planejar a próxima. Apesar de terem tido uma safra com bons resultados, produtividade e qualidade, Michelli Fagundes da Silva, 35 anos, e César Augusto da Silva Viana, 37 anos, decidiram reavaliar a ideia de plantarem tabaco nesse ano na propriedade localizada em Linha Taquari Mirim, interior de Venâncio Aires.
“Comecei a fazer as contas da lenha e do jogo de canos para as estufas e decidimos parar por aí”, conta o produtor. A ideia é fazer uma safra teste, onde nesse ano não irão plantar o tabaco. “Vamos apostar em nove hectares de milho e no gado de corte”, complementa Michelli.
Apesar da decisão, a família não descarta voltar a produzir tabaco daqui alguns anos. “É uma safra teste. A gente não diz que dessa água não beberemos mais. Mas, hoje, os custos de produção estão muito altos, não está valendo a pena”, pontua Viana.
Mesmo com esta mudança, a família não se desfez de nada relacionado ao tabaco, e mantiveram as estufas, bandejas e todos os itens para a cultura. “Teve muita coisa que nos desmotivou. A safra foi boa, colheita boa, mas no início da compra levamos o tabaco para a indústria e trouxemos tudo de volta, pois era inadmissível vender nosso trabalho pelo preço ofertado”, explica o agricultor.
Os moradores de Linha Taquari Mirim conseguiram vender uma parte do tabaco no fim da compra, quando o preço estava bom. “A gente fica meio assim. Vários conhecidos perderam muito nessa safra porque no início era um valor muito baixo que pagavam, depois chegaram a comprar no galpão. Isso desmotiva um pouco”, comenta Michelli.
Após muitas contas e conversar entre a família, Michelli e César ‘bateram o martelo’ e mudaram de cultura. “A gente presta serviço com máquina e caminhão na safra de grãos e via que tava bom. É uma safra, é um teste. Mas, por enquanto, vamos parar com o fumo”, destaca o produtor rural que, na safra passada, plantou 45 mil pés.
Custos de produção
A preocupação dos produtores rurais com os custos de produção é o tema de uma pesquisa que a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) está realizando em parceria com as federações da Agricultura (Farsul e Faesc) e dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep) e cada empresa fumageira.
Para o custo de produção para a safra 2021/22, o presidente da Afubra, Benício Werner, explica que a modalidade de apuração foi uma condição da representação dos produtores, ao fim da negociação de preço da safra passada. “Ano após ano, quando chega na época de negociar o preço do tabaco, chegamos ao impasse dos custos de produção apurados por nós, entidades, ter divergência com os apurados pelas empresas. Assim, com a pesquisa apurada em conjunto, as informações prestadas pelo produtor sorteado servem tanto para a apuração do custo pelas empresas, como também, o apurado pelas entidades, evitando, assim, as discussões de valores informados, como era feito em anos anteriores”.
Excepcionalmente para a próxima safra, a primeira e a segunda etapas serão realizadas numa primeira visita, que estão ocorrendo desde o dia 20 de agosto até 15 de setembro. E a terceira e última será realizada de meados de outubro até fim de novembro. “Esta última etapa tem uma importância muito grande, pois é o período que temos o maior uso da mão de obra e, também, o próprio valor da lenha, que são dois itens que pesam muito no cálculo do custo de produção. Por isso que iniciamos a negociação para definir o preço do tabaco para a safra somente em dezembro”, explica Benício, ressaltando, também, que os produtores pesquisados são definidos por meio de sorteio, obedecendo rigorosamente critérios científicos e regras estatísticas de amostragem.
O presidente da Afubra ainda enfatiza que o produtor que tiver alguma dúvida sobre a sistemática da pesquisa sobre o custo de produção pode entrar em contato com o Departamento Técnico da Mutualidade da entidade, tanto na matriz quanto nas filiais.
Safra 2021/22
A estimativa de produção para a safra 2021/22 será finalizada no fim do mês de outubro. Porém, já se projeta uma queda, na área, em média, no Sul do Brasil, de 10%.
Venâncio fecha safra de tabaco 2020/21 em 18.050 toneladas
Após o encerramento da comercialização do tabaco da safra 2020/21, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) divulgou, na última semana, os dados da produção sul-brasileira, que chega a 628.489 toneladas. O município de Venâncio Aires fecha a safra com uma produção de 18.050 toneladas, 17,7% a mais que na safra passada (2019/20), quando a produção chegou a 15.328 toneladas. Todavia, a área de produtividade nesta safra foi menor do que em comparação a anterior. Nesta safra foram 7.966 hectares (ha) contra 8.022 na safra anterior. A explicação, segundo a Afubra, é o clima.
Os números foram apurados pela entidade e são obtidos por meio de pesquisas realizadas durante a safra junto aos produtores de tabaco. Na região sul-brasileira, a variedade Virgínia chegou a 572.732 toneladas; o Burley, 49.260; e o Galpão Comum, 6.497 toneladas.
O presidente da Afubra, Benício Albano Werner, faz uma análise comparativa entre as safras 2019/20 e 2020/21. “Levando em consideração o Sul do Brasil, em termos de área, houve uma redução de 5,9%, ou seja, 290.397 ha na 2019/20 para 273.317 ha. Já a produção caiu 0,7%. Numa análise por estado, o Rio Grande do Sul aumentou a produção em 16,5%. Embora a área tenha caído 2,9%, tivemos um aumento de produtividade de 20%, ou seja, produzimos 243.414 toneladas em 2019/20 e aumentamos para 283.479 toneladas, dando uma participação de 45,1% na produção do Sul do Brasil.”
Werner explica que a grande diferença no Rio Grande do Sul ocorreu na produtividade que, em 2019/20, foi de somente 1.919 kg/ha, uma consequência do excesso de chuva causado no desenvolvimento da planta nos meses de outubro e novembro de 2019. “Na safra que está encerrando, atingimos uma produtividade de 2.302 kg/ha.”
Preço
O preço médio praticado, no Sul do Brasil, na safra 2019/20, segundo a Afubra, foi de R$ 8,86 por quilo e o praticado em 2020/21 foi de R$ 10,54, um aumento de 19%. No Rio Grande do Sul, o preço médio da safra passada foi de R$ 8,73 o quilo e na safra 2020/21 de R$ 10,62, um aumento de 21,7%. Em Santa Catarina, o preço médio foi de R$ 9,18 por quilo na safra passada e de R$ 10,41 por quilo na 2020/21, um aumento de 13,5%. No Paraná, o preço médio da safra passada foi de R$ 8,66 o quilo e nesta, R$ 10,54 o quilo, um aumento de 21,7%.
Werner destaca que os percentuais de aumento no Rio Grande do Sul e no Paraná foram superiores aos de Santa Catarina. “Isso se deve pelos preços mais baixos praticados na safra 2019/20 nestes dois estados. Os preços praticados nesta safra, percentualmente, foram superiores aos percentuais concedidos no aumento na tabela de preço. Isto porque, os preços praticados na safra 2019/20 foram muito baixos, em relação aos percentuais concedidos, na época, no aumento na tabela de preço.”
“Lembramos, mais uma vez, que, embora os percentuais parecem ser favoráveis, temos que ressaltar que os preços praticados na safra 2019/20 foram extremamente baixos. Também não queremos afirmar que os preços praticados na safra 2020/21 foram favoráveis ao produtor, uma vez que tivemos muita insatisfação dos produtores pela rigidez na compra até meados de maio deste ano.”
BENÍCIO ALBANO WERNER -Presidente da Afubra