Uma planta muito comum no Rio Grande do Sul, o butiazeiro é uma palmeira nativa do estado e, em Venâncio Aires, está presente em todas as localidades. No município, a Emater-RS/Ascar estima cerca de 4,5 mil butiazeiros adultos e mudas jovens. “Podemos dizer que, desse número, 3,5 mil são árvores adultas”, frisa o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin.
Algumas árvores adultas chegam a ultrapassar um século. Em Linha Herval, a família de Antonio Jacob Henz, 60 anos, ‘coleciona’ no potreiro seis árvores com mais de 180 anos. “Meu pai me contava que uma senhora, naquela época com 50 anos, já falava que colhia os butiás quando ela tinha seis anos e a árvore era grandinha. Pelo que a gente calcula, com base nas informações dos nossos antepassados, essas árvores têm mais de 180 anos”, afirma o agricultor, que é conhecido na localidade como Jacob.
As árvores centenárias são preservadas pela família que tem mais de 20 butiazeiros na propriedade. “A gente gosta muito da fruta e preserva. Todo o canto da propriedade tem um”, acrescenta a esposa de Jacob, dona Fátima Evani Henz, 48 anos.
As árvores centenárias foram trazidas para a propriedade. “A gente não tem muita certeza se algum parente nosso plantou ou até os escravos. Pelas histórias, foram plantadas na época da escravidão ainda”, salienta o produtor.
A tradição do cultivo do butiá vem sendo preservada na família Henz. O filho do casal, Marco Antonio, 23 anos, e a namorada Évelin Julita de Freitas, 21 anos, auxiliam na época da ‘safra’. “Quando começa a dar as frutas, vem tudo meio que de uma vez só”, cita Marco, que é o responsável por ‘apanhar’ os cachos de butiá e tem grandes habilidades para escalar nas árvores.
Neste ano, a família conta que não venceu consumir todas as frutas. “Deu demais. A gente não venceu comer tudo, deixamos para os pássaros e dividimos com quem queria”, comenta Fátima. As principais culturas dos Henz são o tabaco e o aipim. O butiá é uma alternativa para a alimentação.
Durante a entrevista, Fátima e Jacob prepararam um suco de butiá para a reportagem. “Aqui em casa o suco é muito aprovado. É fácil de fazer e muito saudável”, destaca a agricultora.
Jacob aconselha que o fruto mais claro é o ideal para consumir in natura. “Ele é mais doce. Os outros a gente deixa para suco. São muitas variedades.” Em média, cada butiazeiro produz três cachos por safra.
Mercado para butiás
Em Venâncio, conforme a Emater, timidamente alguns produtores estão comercializando os frutos ou geleias, e esse pode ser um mercado em expansão. “Mas a gente sabe que houve uma grande redução da área de butiá no estado e na nossa região. Tivemos uma redução significativa”, reforça Fin.
Butiazeiro pode ultrapassar os 200 anos
Além do consumo das frutas, o butiazeiro faz parte do paisagismo de Venâncio Aires. “Na cidade, quem tem terreno maior cultiva um butiazeiro”, cita o engenheiro agrônomo Vicente Fin. “Estimamos que, somente no perímetro urbano, cerca de 500 pés de butiás são cultivados. É uma planta bonita que serve de embelezamento, consumo familiar e da fauna.”
A palmeira é nativa do Rio Grande do Sul. “Tem um mito que o butiazeiro não vive mais de 40 anos, mas a árvore pode ultrapassar os 200 anos. Porém, claro, quando ele tem uma certa altura pode estar mais suscetível a raios, e pode ser atacado pela broca ou ser sufocado pelas figueiras.”
O butiá também faz parte de expressões regionalistas, como “Me caiu os butiá do bolso” utilizada para demonstrar espanto. A frase, conforme a Embrapa, está relacionada com o fato do gaúcho sempre levar butiás em seu bolso da bombacha e, ao ter um grande susto, os pequenos frutos podem cair.
A fruta é utilizada como acompanhamento da cachaça, em sucos, geleias, sorvetes, bolos, licores e pode ser consumida in natura.
Suco de butiá da família Henz
Ingredientes
- 500 gramas de butiá
- Um litro de água
- Açúcar a gosto
- Gelo a gosto
Modo de preparo
Após lavar o butiá, é necessário tirar o caroço e colocar os ingredientes no liquidificador. Bater até os frutos serem moídos e coar antes de servir.