Fé e devoção: Vila Palanque celebra os 60 anos da Paróquia São Martinho

-

Trabalho voluntário, fé e preservação da história. Essas palavras ajudam a sintetizar as seis décadas da Paróquia São Martinho, de Vila Palanque. Neste domingo, os 60 anos serão comemorados com festa do padroeiro. O evento também celebra o centenário da construção da primeira igreja da localidade. A história de fé católica dos moradores do 6º Distrito de Venâncio Aires está intrinsecamente ligada à trajetória e evolução de Vila Palanque, nos seus mais de 130 anos.

A devoção a São Martinho é bem anterior à criação da paróquia, em 1964. Ela veio, literalmente, na bagagem dos imigrantes germânicos que chegaram à localidade a partir da década de 1880. De acordo com informações da Paróquia, em 1889, a família Arenhardt, uma das primeiras colonizadoras, trouxe um quadro com a imagem de São Martinho, que era padroeiro de Bridel (cidade de Luxemburgo, na Europa), de onde migraram. Foi a partir dessa imagem que as famílias da comunidade passaram a exercer sua fé. A imagem do santo é mantida em destaque na igreja – recentemente, recebeu nova moldura.

Naqueles primeiros anos, entretanto, quando os recém-chegados imigrantes davam início a uma nova vida em solo venâncio-airense, as celebrações dominicais eram realizadas na antiga escola capela (onde atualmente está o posto de combustíveis). Em 1924, a comunidade de Palanque iniciou a construção da primeira igreja, que em 1982 foi demolida para dar lugar ao atual templo.


Primeira igreja de São Martinho, construída em 1924, e que seguiu até 1982 (Foto: Arquivo)

Lembranças

Nos quase 60 anos nos quais a igreja foi utilizada pela Comunidade São Martinho, foi palco de celebrações religiosas e outros tantos momentos importantes para as famílias da localidade, como as formaturas escolares e cerimônias de casamento.

Morador de Palanque desde que nasceu, Sergio Paulo Mees, 67 anos, lembra que os matrimônios eram realizados nos sábados pela manhã e um aluno da escola sempre era ‘escalado’ para declamar uma poesia em homenagem aos noivos, em frente à igreja. “Havia muito envolvimento com a escola. Na procissão de Corpus Christi, eram colocados galhos de eucalipto onde eram penduradas as bandeirinhas, no trajeto da igreja até a escola. Depois se aproveitava para a festa junina”, relembra.

Marione Inês Reis, 56 anos, também recorda que, aos domingos, sempre eram realizadas duas missas: cedo e tarde. “As famílias tinham oito, dez filhos, então se dividiam para ir à missa. A estrada ficava cheia de gente, com movimento dos que estavam voltando e os que se dirigiam para a missa”, relata.

Outro fato destacado por Sergio e Marione é que quando houve a demolição da igreja para a nova construção, de 1982 até 1985, as atividades ocorreram de forma provisória no prédio de uma antiga empresa de tabaco, onde hoje fica a Fest Bebidas. “O altar foi transferido para lá, onde aconteciam as missas, formaturas e até mesmo os casamentos”, comenta Sergio.

Sergio Mees e Marione Reis, da diretoria da Paróquia, com a imagem de São Martinho trazida pelos colonizadores (Foto: Juliana Bencke)

O altar da Igreja Matriz da São Martinho é outro patrimônio da comunidade, com quase 100 anos. Ele foi adquirido em 1928, em Novo Hamburgo. Há alguns anos, foi restaurado. Além de São Martinho, no centro, ele conta com as imagens de Santa Teresinha, padroeira dos jovens, e de São José com o menino Jesus.


Foto: Juliana Bencke

Festa neste domingo

A Paróquia São Martinho realiza festa neste domingo, 18, em comemoração aos 60 anos. A programação, organizada pela diretoria, inicia com alvorada festiva. Às 9h30min haverá missa com procissão até o pavilhão, com bênção da saúde. A partir das 11h30min será servido o almoço e, à tarde, será realizada reunião dançante com as badas Embalo Legal e Os Hermanos. Às 20h, ocorre o sorteio da ação entre amigos. Ao longo do dia, o público poderá prestigiar, também, tendas de tudo premiado e de flores e folhagens.

Em 1964, a criação da paróquia

Com sete comunidades da região de Vila Palanque, a Paróquia São Martinho tem cerca de 800 famílias associadas. Gleno Luis Konzen é o atual presidente. Neste mês, foram completadas seis décadas da paróquia: a fundação ocorreu em 8 de fevereiro de 1964 e a posse do pároco e primeira festa foram realizadas no dia seguinte.

Atual secretário e tesoureira da paróquia, Sergio Mees e Marione Reis contam que havia grande mobilização das lideranças da época e expectativa da criação da paróquia em Palanque, especialmente desde 1955, quando dom Vicente Scherer, da arquidiocese de Porto Alegre havia abordado a possibilidade.

Ao longo da história, a Comunidade São Martinho pertenceu, inicialmente, à Paróquia São Sebastião Mártir, do Centro de Venâncio Aires, e a partir de 1941, esteve ligada à Paróquia Santa Inês, de Mato Leitão.

Quando a criação da paróquia se efetivou, o morador da localidade, João Jantsch, doou a residência para que passasse a funcionar como casa paroquial, em uma área de um hectare. O local, que fica ao lado da igreja, serviu de residência para diversos párocos, ao longo dos anos. Atualmente, há atendimento na secretaria. O complexo da comunidade conta também com necrotério, centro de evangelização e ginásio.


Casa paroquial: residência construída em 1930 foi doada pela família Jantsch (Foto: Juliana Bencke)

Referência

Há dois anos e meio, o padre Claudio José Kirst é o pároco da Paróquia São Martinho, que abrange sete comunidades do Distrito de Vila Palanque. Para ele, ter uma paróquia perto das pessoas faz muita diferença. “É um lugar de referência para a localidade e onde, além atendimento e apoio espiritual, se cumpre um papel social”, comenta, ao citar projetos como o futebol com as crianças, a ginástica para idosos e o coral. “Uma paróquia é a sociedade viva.”

Kirst também destaca o quanto os 60 anos da Paróquia São Martinho são construídos por histórias. “Os filhos carregam as histórias dos pais, valores e a fé. Existem muitas histórias heroicas ao longo dessas seis décadas, a começar pela família que doou a casa paroquial, e tantos outros que atuam voluntariamente, encontram tempo para se doar”, ressalta.

“São 60 anos de uma comunidade prestando serviço e cumprindo seu papel, com pessoas que encontram tempo para se doar a Deus, o que mostra que a fé as marcou. Me sinto dentro de uma comunidade viva.”

CLAUDIO JOSÉ KIRST
Pároco

Párocos ao longo da história

  • Cônego João Alberto Hickmann
  • Heriberto Vier
  • Miguel Ody
  • Olívio Heinen
  • José Neumann
  • Zeno Antônio Graeff
  • Francisco Altenhofen
  • Clécio José Henkes
  • Silvino Tarcísio Hammes
  • Carlos André Mueller
  • Claudio José Kirst

Comunidades da paróquia

  • São Martinho, de Vila Palanque (matriz)
  • São João, de Linha Herval
  • Santa Luzia, de Linha Herval
  • São Pedro, de Linha Grão-Pará
  • São Francisco, de Linha Travessa
  • Nossa Senhora Aparecida, de Linha Travessa
  • Nossa Senhora de Fátima, de Linha Palanque Pequeno

Voluntariado, religiosidade e integração comunitária

Na diretoria da Paróquia São Martinho estão líderes comunitários envolvidos com a localidade há décadas e que perpetuam o legado dos pais e avós. É o caso do chapeador aposentado Sergio Mees, que ingressou na diretoria aos 18 anos e segue atuante, aos 67 anos. Já foram 12 anos como presidente.

Em 1989, em uma das gestões, foi iniciada a construção do ginásio, um trabalho que mobilizou um grande mutirão dos moradores. “Até o telhado, foram 6,8 mil sacos de cimento”, cita. “Nunca paramos a construção, foi um grande trabalho voluntário. Se fosse para fazer tudo de novo, faríamos também”, complementa.

Assim como ele, a tesoureira Marione Reis é uma das integrantes da diretoria envolvida em diversas frentes de trabalho, como catequese e grupo de liturgia. Os dois são exemplos de quem ingressou cedo na vida comunitária, por meio do grupo de jovens. “Eu esperei ansiosamente depois da Primeira Comunhão, para chegar aos 15 anos, fazer a Crisma e poder entrar no grupo”, ressalta ela.

Hoje desativado, o grupo de jovens da Paróquia São Martinho chegou a ter 80 integrantes. Entre as atividades estavam encontros semanais, aos sábados à noite, com oração, momento de reflexão e confraternização; além de gincanas, teatro e a promoção de eventos como a escolha da ‘Namorada de Palanque’ e a festa anual de Santa Teresinha, padroeira dos jovens.



Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

Clique Aqui para ver o autor

    

Destaques

Últimas

Exclusivo Assinantes

Template being used: /var/www/html/wp-content/plugins/td-cloud-library/wp_templates/tdb_view_single.php
error: Conteúdo protegido