Nas últimas três semanas, a cotação semanal de preços dos produtos pagos aos produtores rurais no Rio Grande do Sul revela que o preço do feijão preto está subindo e a tendência é subir ainda mais. Conforme a Emater, desde o início do ano, o quilo do feijão pago ao agricultor já apresenta um aumento de 12%. Somente em fevereiro o aumento na saca de 60 quilos foi de R$ 253,33 para R$ 283,75. O aumento também já é um reflexo para o consumidor, afinal, nas gôndulas dos supermercados o quilo do feijão já varia de R$ 8,97 a R$ 10,39.
O preço já anima produtores que sentem uma maior valorização pelo produto. Moradores de Vila Palanque, Gleno Luiz Konzen, 63 anos e Cleonira Rosa Bender Konzen, 58 anos, começaram a apostar na comercialização do feijão há cerca de três anos. “A gente sempre plantava para nosso consumo. Mas há uns três anos começamos a apostar no plantio, pois começamos a vender para a Cooprova e venda direta”, explica Konzen.
Na safra passada foram cerca de mil quilos colhidos e neste ano apenas 400 quilos. “Se tivesse chovido em outubro e novembro teríamos uma baixa safra. Foram dois anos de quebra devido ao clima e nunca tinha feijão de chega, sempre conseguimos vender e se tivesse mais teríamos vendido também, pois a procura é grande”, conta o agricultor.
Apesar da produção não ter sido cheia, o preço já animou o casal. “Ano passado vendemos a R$ 6 o quilo. Esse ano foi pra R$ 8 o quilo. Já sei de gente que vai vender a safrinha a R$ 10.”
Konzen também plantou a safrinha no dia de São Sebastião Mártir (20 de janeiro) e em cerca de 100 dias irá colher, mas esse será apenas para o consumo. “A safrinha ainda é uma loteria, tem anos que tiramos muito pouco, pois é uma fase em que as pragas atacam mais.”
Renda
Para o casal do 6º Distrito, o cultivo do feijão é algo fácil e rápido. “É um ciclo rápido, de fácil cuidado e serve para fazer um dinheiro extra antes do Natal, pois sempre iniciamos a colheita na primeira semana de dezembro”, cita Konzen.
Outro benefício elencado para o agricultor é a rotação de cultura. Eles que cultivam erva e aipim, utilizam o feijão para intercalar o plantio. “São inúmeros benefícios, sem contar que logo depois da colheita já podemos plantar o milho”, comenta Cleonira.
A variedade cultivada pelo casal é a Uirapuru, o feijão preto, uma variedade mais rústica, resistente e produtiva, segundo o produtor.
Agora, o casal ainda guarda as sementes para o próximo ano, o feijão para o consumo e o que será comercializado e embalado pela Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova).
“Quem planta feijão consegue fazer uma boa renda extra e ainda pode fazer uma boa safra de milho depois. Para próxima safra projetamos plantar mais que nos outros anos. Já guardamos 30 quilos de sementes.”
GLENO LUIZ KONZEN
Produtor de feijão
Em Venâncio, maior parte da produção é para consumo próprio
Conforme dados do escritório local da Emater de Venâncio Aires, a maioria dos produtores planta o feijão para consumo da família. “Os que comercializam são para feiras e programas institucionais ou venda direta ao consumidor”, ressalta o chefe do escritório, Vicente Fin.
Em Venâncio são cerca de 320 hectares de feijão, desses, 260 hectares na safra e 60 na safrinha. A produção média gira em torno de 2,100 quilos por hectare.
De acordo com Fin, o feijão em Venâncio sempre teve valores acima do que em outras regiões. “São vários fatores que interferem no preço, como a venda direta, um produto fresco que o agricultor recém tirou da lavoura, um produto com baixíssimo teor de agrotóxicos e o alto custo de produção.”
O aumento no valor do quilo do grão pode ter relação com a estiagem, e o alto valor de mercado dos concorrentes ,como soja e lentilha. Para Fin, as regiões produtoras tiveram grandes perdas na hora da colheita e com isso o estoque armazenado diminuiu.
Hoje, a Cooprova comercializa o feijão dos produtores locais com uma marca própria, mas ainda o embala em outro município pela necessidade do equipamento que envasa. “A gente almeja que a cooperativa tenha uma área específica para envazar esse feijão”, comenta o engenheiro agrônomo.
Apesar da grande maioria dos produtores cultivar o feijão preto, Fin reforça que a ampla variedade de sementes deve ser explorada. “Quanto mais variedades o produtor tem, mais fácil é a venda. O investimento em tipos de feijão pode ser algo mais rentável.”
Base da alimentação
Se no mercado o feijão está mais caro, a dona de casa começa a repensar os hábitos de consumo. Para a nutricionista e pós-graduanda em Nutrição Clínica, Julia Esther Keller, com a alta no preço ela recomenda que se faça uma pesquisa de preço. “Isso auxilia para evitar o desperdício e aproveitar os preços promocionais. Faça uma lista de compras antes
de ir ao mercado e evite comprar o que não está na sua lista e estocar o desnecessário”, aconselha a profissional.
“O feijão é uma excelente fonte de fibras e também apresenta sais minerais, com destaque para o ferro e o zinco, vitaminas e compostos bioativos. Dessa maneira, é muito importante para a manutenção da saúde e a prevenção de doenças”, enumera Júlia. A nutricionista também elenca que o guia alimentar do Ministério da Saúde recomenda a ingestão de arroz e feijão todos os dias, sendo uma porção de feijão para duas de arroz, diariamente. “Ressaltando que não podemos exagerar nas quantidades para não ultrapassar as calorias necessária em uma refeição.”
Entre os benefícios de consumir o feijão, Julia destaca o combate a anemia, fonte de potássio e a melhora da saúde intestinal.
O grão também pode ser substituído por outros alimentos do grupos de leguminosas como lentilha, ervilha, grão-de-bico e soja. “São opções que podem e devem ser utilizadas para variar o cardápio sem perder proteínas, cálcio, ferro, zinco, magnésio, vitaminas, principalmente do complexo B, fibras e carboidratos”, aconselha a nutricionista. “Ressalto que a combinação dessas outras leguminosas com arroz não traz um casamento proteico tão completo como o feijão, mas a substituição ainda é válida.”
Famosa mistura
O feijão forma um par perfeito com o arroz. “Os dois alimentos são fontes de aminoácidos essenciais complementares. Enquanto o cereal é fonte de metionina, que não está presente no feijão, a leguminosa contém lisina e leucina, por exemplo; e que juntas estas formam uma proteína de boa qualidade”, comenta Julia.
A nutricionista também destaca que outra característica comum entre eles é que são isentos de colesterol. “Por isso não recomendo utilizar grandes quantidades de gordura ao cozinhá-lo para não perder esse benefício natural do alimento.”
Preparo do feijão
Conforme a nutricionista, muitos pacientes questionam se devem deixar o feijão de molho antes de cozinhá-lo. “Recomendamos este procedimento por que diminui o tempo de cozimento, além de ocorrer uma redução considerável de taninos e filatos, composto que causa flatulência, formação dos gases intestinais.”
Outro questionamento, segundo Julia, é em relação à água no qual o feijão ficou de molho. “Deixando o feijão de molho boa parte dos compostos (taninos e filatos) vai para a água do molho. Assim, jogando a água do molho fora e colocando uma nova água para cozinhar o feijão, será minimizado, principalmente a causa de flatulência. Entretanto, ao jogar a água fora, uma pequena parte de proteínas solúveis e mineiras também poderão ser perdidos, mesmo assim, o alimento ainda é considerado muito nutritivo.
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