Com 40% da área total projetada nesta safra já plantada em Venâncio Aires, e mesmo com variedades resistentes a temperaturas mais baixas, dificuldades com frio e umidade são sentidas nas lavouras de tabaco.
Julho ainda não terminou, mas cerca de 40% do que se projeta de área de tabaco para a safra 2024/25 em Venâncio Aires já foram levados para a lavoura. Os dados são do escritório local da Emater. Nos últimos anos, essa antecipação vem acontecendo porque muitos agricultores querem evitar o calor de fim de ano na época da colheita. No entanto, mesmo quem tem plantado o chamado ‘fumo do cedo’ e usado variedades resistentes ao frio, tem tido dificuldades neste início de cultivo.
É o caso de Diogo Antonio de Borba, de 35 anos, morador de Linha Herval, interior do município. A organização da família para esta safra é plantar 90 mil pés de tabaco, sendo que 30 mil já foram para a terra em maio, quantidade essa de uma variedade feita para suportar o frio. Mesmo assim, duas geadas no fim de junho e o excesso de umidade associado à falta de sol, já deixaram marcas em parte da lavoura precoce. “É o primeiro ano que estamos fazendo essa antecipação, com uma muda que é para o frio. Mas a geada queimou parte das folhas e a chuva apodreceu o baixeiro. Se não fosse uma variedade resistente às temperaturas mais baixas, tinham morrido todos os pés”, comenta.
O agricultor revela que a ideia de antecipar parte do cultivo é porque existe uma estrutura na propriedade, com área e estufas, que permite esse escalonamento. Além disso, como o tabaco é a principal renda dele, da esposa Pâmela e dos quatro filhos, a escala permitiu aumentar a quantidade plantada. “Também temos milho e aipim, mas para a pequena propriedade, é o tabaco quem paga as contas”, destaca Borba. Somando com as terras do pai, Loreno, a família mantém um total de oito hectares.
O produtor ressalta ainda que, mesmo que sempre precise contar com a sorte, já que se trata de cultivo a céu aberto, qualquer agricultor precisa saber sobre o clima da sua região e manter sempre o solo bem corrigido. “Isso são coisas que levam tempo. Às vezes, não tem como preparar de um ano para o outro. Um solo bem corrigido, bem preparado, é fundamental. Mas, esse ano, por exemplo, com toda a chuvarada que aconteceu e enchente, a organização já ficou prejudicada”, diz. Na propriedade dele, há vários trechos que foram danificados pelo excesso de chuva, causando erosão.
Quanto aos 60 mil pés de tabaco restantes, Borba explica que parte já começou o plantio nesta semana e a maioria irá para lavoura em agosto. Nos canteiros, as mudas também têm sofrido com umidade e falta de sol, o que causa doenças nas folhas.
Avaliação da Emater sobre o frio e a umidade no tabaco
Com um inverno sempre suscetível a geadas e o excesso de umidade que vem desde o outono, a Emater faz algumas orientações aos produtores para o caso de anteciparem o plantio de tabaco. “É sempre um risco, então o produtor precisa escalonar, não arriscar mais de 30% da área nessa fase e dar preferência para variedades resistentes ao frio”, observa Vicente Fin, chefe da Emater local.
Fin diz que é precoce falar em prejuízos em relação à produtividade, já que na média final da produção, o tabaco plantado mais tarde pode compensar uma eventual perda anterior. Ainda assim, ele afirma que as consequências do clima já visíveis nas folhas indicam que tende a acontecer uma redução no peso.
Na prática, a planta precisa de mais sol e calor para se desenvolver bem e, segundo o chefe da Emater, toda vez que a temperatura fica abaixo de 15 graus, é reduzida a produção de fotoassimilados (compostos resultantes da fotossíntese), ou seja, diminui as fontes que condicionam o crescimento. “A folha fica menor e mais leve, porque não tem luminosidade. Impacto no desenvolvimento. A umidade e o frio têm castigado. Abaixo de 10 graus, paralisa totalmente o crescimento e os últimos dias foram assim. Não tem luz, nem temperatura adequada.”
2,25 – toneladas por hectare é a estimativa de produção de tabaco em Venâncio Aires na safra 2024/25, com uma área projetada de 9 mil hectares, conforme dados da Emater.