A alta no preço dos grãos vem preocupando produtores e o setor da proteína animal. Hoje, a soja e o milho, grãos usados na ração dos animais, representa mais que 60% dos custos de produção de aves, suínos e gado. De acordo com os indicadores econômicos da Emater-RS/Ascar desta semana, o saco de milho de 60 kg está sendo comercializado em R$ 91,74, a soja já chega a R$ 166,59 e de tempos em tempos o valor tem apresentado reajustes.
Como toda produção é um ciclo, o produtor acaba pagando mais para produzir o animal, a carne fica mais cara e o consumidor já sente os reflexos nas gôndolas. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a carne de frango teve alta de 15% ao comparar com os preços de abril de 2020 e abril de 2021. No caso do suíno os valores ultrapassam os 20%. Conforme a Embrapa, essas elevações são maiores quando se fala em custos para o produtor. Os dados do ICP Embrapa mostram que para produzir frango em abril de 2021 está 39,79% mais caro que no ano passado. O mesmo ocorre com o setor de suínos, que já chega a 44,5%.
No setor da política existe uma união de forças em busca de medidas para minimizar os danos gerados ao setor de proteína animal, um dos mais importantes para a economia do Rio Grande do Sul. O governo do Estado deve determinar o adiamento da cobrança de ICMS na importação do milho do Mercosul nos próximos dias. A decisão auxilia diretamente os segmentos de suinocultura, avicultura e de gado leiteiro e corte, que vem acumulando prejuízos causados pelos preços elevados dos grãos, usados na fabricação de ração para os animais.
“Seguiremos trabalhando neste assunto para evitar mais prejuízos aos produtores e a manutenção do emprego e renda gerados por este segmento em nosso Estado, tão essenciais para a retomada da nossa economia.”
EDSON BRUM
Secretário de Desenvolvimento Econômico do RS
O anúncio da medida foi dado pelo chefe da Casa Civil Artur Lemos ao presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária Gaúcha, Elton Weber, e foi comemorado pelo secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Edson Brum. “Estivemos juntos na Casa Civil em uma grande reunião para tratar do assunto com a presença também de outras lideranças. Sabemos da necessidade de uma resposta urgente para evitarmos prejuízos ainda mais drásticos no campo e na indústria”, salientou o secretário Brum.
O tema, aliás, tem sido uma das prioridades da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, já que o contexto faz com que indústrias, cooperativas e produtores que compõem essa cadeia produtiva corram o risco de colapso na produção de alimentos.
O presidente da Languiru, Dirceu Bayer, comenta que todo o segmento será beneficiado, principalmente o avícola. “A medida irá dar um alívio, pois com a entrada do milho do Paraguai e Argentina, teremos um aumento de disponibilidade do grão no país e a tendência é baixar um pouco os valores.”
Suínos
Na granja da família Hackenhaar, em Vila Santa Emília, os reflexos já são sentidos diariamente. Ângelo, 38 anos e o pai Egídio, 76 anos, possuem quatro galpões, um deles construídos recentemente e está no terceiro lote de suínos. “Cada animal consome cerca de 230 quilos de ração por ciclo, o que dura cerca de 90 dias, pois o suíno chega com cerca de 60 dias para a gente”, explica Ângelo.
A cultura do suíno está na família há anos e vem passando de geração a geração. O produtor está desde os 15 anos ao lado do pai tocando a atividade principal na propriedade. “Essa atividade é muito cíclica, tem anos de baixa e depois temos anos melhores. Eu diria que agora apesar dos custos estamos em uma fase muito boa”, comenta Hackenhaar.
O produtor comenta que o consumo interno aumentou pois a carne bovina está mais cara. “A carne suína teve uma maior valorização. Mas o que realmente movimenta nosso setor é a exportação, maioria da nossa carne vai para fora, e essa grande procura fez com que nossa atividade passasse a ser mais valorizada”, cita o agricultor do quarto distrito.
230 quilos
é a quantidade média de ração que um porco consome durante os 90 dias que fica na granja.
A família é cooperada da Dália Alimentos e trabalha com suínos para terminação comercializados com uma média de 140 quilos por animal. “Por trabalharmos em um sistema diferente, não sei dizer o valor exato dos insumos. Mas diria que a alta nos grãos para nós produtores está estável, mas percebemos que o preço da ração está subindo. Mas hoje é mais caro produzir suínos, em compensação a carne também está mais cara e valorizada.”
“Hoje para produzir suíno os custos são maiores. E os altos custos impactam no dia a dia o mercado se mantêm pois nossa carne está sendo exportada. Mas a pandemia travou muita coisa e para se manter na atividade está mais difícil.”
ÂNGELO HACKENHAAR
Produtor de suíno
“O alto custo dos grãos está afetando a produção de carnes”, afirma presidente da Languiru
O aumento de cerca de 100% em um saco de milho trouxe reflexos nas propriedades rurais, nas empresas integradoras e no setor de abates. O presidente da Languiru, Dirceu Bayer, explica que foram adotadas medidas drásticas para diminuir prejuízos no setor de abate de aves, um dos mais afetados. “Estamos tendo um prejuízo enorme por frango abatido”, desabafa.
Uma das alternativas encontradas pela empresa foi suspender um turno de abate. “Nossa média era de 145 mil aves por dia, passamos a abater 75 mil aves por dia. Relocamos alguns funcionários e nossos produtores deixaram de receber os lotes e outros tiveram um intervalo maior entre um alojamento e outro”, detalha Bayer.
Uma das alternativas encontradas pela Languiru, conforme o presidente foi ressarcir os produtores ao invés de alojar mais pintos. “Era mais econômico, pois não tinha mercado”, explica. Para não afetar o ciclo das aves, a cooperativa conseguiu vender os pintos de um dia para outra empresa e o setor de produção como matrizeiros e incubatórios não foram afetados. “Tivemos que adotar medidas, reduzir pela metade nossa produção, e esperar o mercado reanimar.”
Com a melhora dos preços da carne e a falta da carne de frango no mercado, Bayer salienta que a produção irá ser retomada aos poucos a partir da próxima terça-feira, 1º. “O mês de junho tende a ser bom para o produtor de frango e de leite, pois o frango está reagindo bem no mercado e o leite tende a ser mais valorizado.”
“Nas carnes o impacto reflete dentro da empresa, pois somos um sistema integrado. Já o produtor de leite arca com os custos de produção, é um sistema diferente, todavia, ambos os setores sentem os nítidos impactos com a alta no preço do milho e farelo de soja, principais ingredientes da ração.”
DIRCEU BAYER – Presidente da LANGUIRU
Avicultura
A família Stulp, da localidade de São Miguel, na Vila Santa Emília, está há mais de dois anos produzindo frangos para o abate. Em apenas esse período, Marcelo Daniel Stulp, 49 anos, a esposa Raquel, 44 anos, o filho William Gabriel, 20 anos e a nora Ana Carolini Satler, 18 anos, já perceberam que o custo da ração aumentou no mínimo em 50%. Com dois galpões, a produção gira em média de 24 mil frangos por lote. “No início colocamos bem mais, mas nos últimos alojamentos já recebemos menos frango. A gente sente os reflexos com esse aumento dos grãos, mas nossa margem continua a mesma, a empresa não deixou de nos pagar o preço estabelecido inicialmente, afinal somos um sistema integrado”, esclarece Stulp.
A família, que é cooperada da Bom Frango, tem a avicultura e o tabaco como carro chefe cita que em conversa com a empresa perceberam que a medida adotada foi a melhor. “Não deixamos de produzir, mas todo mundo recebeu um pouco menos no lote. Teve a queda no consumo, e menos frango por granja, assim ninguém foi prejudicado.”
O presidente da Languiru, Dirceu Bayer, informou que a empresa está garantindo um preço bom do milho, pois compraram o grão suficiente para abastecer até fevereiro do ano que vem com preços de R$ 70 o saco. “Nós fizemos um bom negócio, temos milho do Paraná e do Mato Grosso em agosto que compramos no ano passado com preço bom. Dessa forma, garantimos um preço muito bom ao produtor.”
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Produtor busca alternativas para manter a produção de leite
A ração é um dos alimentos bases para a dieta das vacas leiteiras. Ela é responsável por repor a proteína e energia necessária e estimular a produção do leite. Cada época do ano tem suas fases e os produtores adaptam a alimentação dos animais de acordo com a disponibilidade de alimentos na propriedade.
Na propriedade do Aloisio Finkler, 54 anos, os reflexos da alta nos grãos refletem na alimentação das vacas. O agricultor salienta que a ração vem subindo mês a mês e que desde dezembro de 2020 o desafio de manter a produção com qualidade e menos custo se tornou mais difícil. “Em seis meses tivemos a ração que subiu cerca de R$ 0,22 e o leite que baixou R$ 0,20. É uma conta que não fecha” salienta.
O produtor realiza um balanço mensal de renda na propriedade de percebe que o setor leiteiro deixou de ganhar no mínimo R$ 0,30 por litro de leite. “A ração é o complemento. Quando a gente trata a vaca com ração a gente consegue aumentar a produção de três litros por animal”, frisa Finkler que é cooperado da Dália Alimentos.
Os custos para a produção de leite aumentaram e Finkler teve que buscar alternativas. “A gente consegue adaptar a dieta das vacas, com o apoio técnico, e utilizar o que temos na propriedade. Eu utilizo silagem feita na propriedade, complemento com pasto verde, ração e caroço de algodão. São opções de baratear os custos para diminuirmos os prejuízos”, comenta.
Um dos segredos conforme Finkler é caprichar na pastagem. “Esse é o trato que tem ótima qualidade e com menos custos. Mas precisamos avaliar que os insumos, sementes, fertilizantes e todo a cadeira teve reajustes, todo dia a gente tem aumento no custo de produção.” Finkler salienta que percebe que alguns produtores estão parando na atividade devido à produção de leite passar a ser inviável. “Não está fácil, os custos para um litro de leite são muitas vezes maiores que o lucro, precisamos tentar adequar a dieta das vacas e buscar alternativas, a gente consegue reduzir custos quando produzimos boa parte dos alimentos das vacas.”