Em outubro, o encontro foi na casa de Laura Finkler, em Linha Duvidosa, onde fica a farmácia natural do grupo Caminhos da Saúde (Foto: Roni Müller)
Em outubro, o encontro foi na casa de Laura Finkler, em Linha Duvidosa, onde fica a farmácia natural do grupo Caminhos da Saúde (Foto: Roni Müller)

No interior de Venâncio Aires, membros das comunidades católicas São Luiz e São Miguel, ambas de Vila Santa Emília e vinculadas à Paróquia Santa Inês, que tem sede no município vizinho de Mato Leitão, se reúnem mensalmente para trocar vivências e aprender mais sobre saúde popular comunitária. O ponto de encontro dos 13 participantes do grupo Caminhos da Saúde é sempre definido por meio de um rodízio.

Além das pessoas da comunidade, a cada dois meses, o homeopata Marcos André Zerbielli, de Novo Cabrais, participa dos encontros para auxiliar o grupo com informações científicas. Quem também acompanha e ajuda no desenvolvimento das atividades é a assistente social da Diocese de Santa Cruz do Sul, Dianefer Berté Schwendler.

O trabalho busca estimular a integração entre as pessoas e a natureza por meio da homeopatia. Além dos encontros presenciais, os participantes criaram um grupo no WhatsApp para facilitar a troca de informações. No início do ano, sempre é feito o levantamento de ideias e a estruturação dos temas que podem ser trabalhados.

Na relação de assuntos já abordados estão a reflexologia [que estuda a manipulação de áreas reflexas nos pés e nas mão por meio de massagens] e a fitoterapia, que objetiva conhecer os benefícios energéticos das plantas. A partir do conhecimento alcançado por meio de pesquisas e análises, o grupo faz produtos como pomadas, xaropes, sabonetes e elixir para ansiedade, imunidade, triglicerídeos e diabetes, por exemplo.

“Saúde é um direito. O que eles estão fazendo [o grupo Caminhos da Saúde] é exercitar isso. É ter condições de cuidar da saúde de forma natural, a partir de remédios caseiros. É buscar informações, conhecimento e qualidade de vida.”

MARCOS ANDRÉ ZERBIELLI – Homeopata

Produção

Todos esses itens são feitos a partir da tintura-mãe extraída das plantas. Eles já foram comercializados em pequenas feiras realizadas na comunidade, durante a participação em um projeto promovido em Boqueirão do Leão e ainda são procurados por vizinhos e outras pessoas que conhecem a iniciativa. O carro-chefe de vendas é o xarope, muito utilizado para aumentar a imunidade.

Para realizar essas atividades, são utilizadas plantas que os integrantes do grupo têm nas próprias residências. “Buscamos produtos que vão tratar as pessoas na integralidade e procuramos fazer um resgate cultural e ancestral. Esse trabalho também envolve muito estudo e cultura”, comenta Laura Finkler, 60 anos, que integra o grupo.

Participantes do grupo

  • Cleci Freytag, 58 anos, de Vila Santa Emília
  • Laura Finkler, 60 anos, de Linha Duvidosa
  • Delci Fischer, 59 anos, Linha Palmital
  • Jacinta Freitag Schweikart, 71 anos, de Vila Teresinha
  • Leny Halmenschlager, 71 anos, de Linha Duvidosa
  • Lori Weber, 61 anos, de Vila Santa Emília
  • Clécio Weber, 65 anos, de Vila Santa Emília
  • Edilma Florindo Pereira, 42 anos, de Linha Duvidosa
  • Idécia Lermen, 66 anos, de Linha Duvidosa
  • Marlize Becker Schwendler, 68 anos, de Vila Santa Emília
  • Djanira da Rocha, 41 anos, de Linha Duvidosa
  • Cleciane Antony, 40 anos, de Vila Santa Emília
  • Célia Brandt, 71 anos, de Linha Duvidosa

Como o grupo surgiu

  • O grupo surgiu entre o fim do ano de 2017 e início de 2018, depois que representantes das comunidades São Miguel e São Luiz participaram de um curso de 10 módulos, realizado em Mato Leitão pela Paróquia Santa Inês. A formação era focada na saúde popular comunitária.
  • Durante a atividade, financiada pela Diocese de Santa Cruz do Sul, foram abordados conteúdos relacionados à homeopatia. Logo depois que o curso terminou, o grupo foi criado. “Elas captaram a ideia e despertaram o interesse dentro de suas comunidades”, observa a assistente social da Diocese, Dianefer Berté Schwendler.
Pomadas, sabonetes, xaropes e elixir estão na relação de produtos feitos pelo grupo (Foto: Roni Müller)

Base científica e legal para o trabalho

Além de participar dos encontros, o homeopata Marcos André Zerbielli orienta sobre a base científica e legal por trás das ações realizadas pelo grupo. De acordo com ele, se atribui a esse trabalho algumas informações que não verdadeiras. “As três principais são que ele não é uma ciência, que demora muito tempo para dar resultado e que só dá certo por causa da fé. E nós buscamos desmistificar isso”, salienta.

Ele explica que é a partir do álcool de cereais ou da cachaça de alambique que é possível extrair a tintura-mãe – essência da planta que tem propriedades medicinais. “Isso tem base científica. Os fitopreparados dão resultado porque existe uma ciência por trás. Nós pesquisamos sobre as propriedades das plantas para combiná-las”, esclarece. O profissional ainda destaca que a intenção é prevenir, cuidar do ser humano como um todo e evitar o adoecimento.

Quem também abraçou essa iniciativa foi a Diocese de Santa Cruz do Sul. “A intenção é formar lideranças nas comunidades para cuidar da saúde integral. Estimular a ação continuada e o trabalho em grupo. Temos tudo ao nosso alcance, principalmente no interior. Por isso é importante o conhecimento para explorar as plantas e retribuir à natureza o cuidado que ela oferece”, ressalta a assistente social Dianefer Berté Schwendler.

Na Capital do Chimarrão, ainda há grupos semelhantes a esse em Vila Palanque e em Vila Estância Nova. “O trabalho do grupo também envolve o fortalecimento espiritual e comunitário e o respeito. No encontro pode não sair uma receita, mas tem momentos de alegria e de partilha. É no coletivo que está a saída para muitos problemas”, comenta.

Saiba mais

  • O elixir é uma preparação líquida feita com substâncias aromáticas, medicamentosas e terapêuticas.