Hovenia: útil nas propriedades rurais, mas uma invasora da mata nativa

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Uma árvore com diversos benefícios para o interior, mas que preocupa pela sua rápida invasão na mata nativa, a uva-japão, conhecida na região como hovenia dulcis tem inúmeras características que favorecem sua rápida distribuição, ao ser comparada com outras espécies.

Segundo dados do escritório da Emater-RS/Ascar, praticamente todo o município tem a presença da hovenia. A estimativa é de 500 hectares de hovenia plantada e área semelhante de forma voluntária. “Regiões de Estância Nova e Vila Mariante são as únicas localidades que não têm a presença da hovenia”, frisa o chefe do escritório, Vicente Fin. “Todo nosso Vale do Rio Pardo se destaca pela presença da árvore. É algo que tem tomado conta”, complementa.

“A hovenia tem uma boa utilização dentro da propriedade rural, mas basta um rápido olhar na nossa mata nativa que já é perceptível que ela está tomando conta, pois trata-se de uma invasora.”

VICENTE FIN

Chefe do escritório local da Emater/RS-Ascar

A árvore se destaca pela competição com a mata nativa. Apesar de ser considerada uma espécie invasora, são muitos pontos positivos para as famílias que as cultivam nas propriedades rurais. “É uma árvore com grande potencial energético. A lenha é muito boa. Dentro da propriedade rural a hovenia tem uma utilização muito boa, mas infelizmente ela acabou se tornando uma invasora”, pondera o engenheiro agrônomo.

Além disso, a hovenia é considerada um bom alimento para a fauna. “Ela tem boa palatividade. Os roedores e ruminantes gostam das folhas.” Outro destaque é para a produção de mel, a uva-japão é considerada uma árvore melífera, dessa forma, as abelhas encontram recursos para a produção de mel.

O agricultor de Linha Arroio Grande, Irani Zagena, 66 anos, plantou cerca de 1,5 mil mudas de hovenia há cerca de dois anos. “Eu queria preservar a água, tem várias fontes, e o eucalipto não ia dar certo. Então pensei na hovenia. É uma árvore mais fácil de cuidar, as formigas não comem e tem uma grande utilidade dentro da propriedade”, comenta o morador do 5º distrito. Zagena frisa que para a família a uva-japão é bastante utilizada para lenha, seja na estufa de tabaco ou no fogão dentro da residência.

500 hectares

é a área plantada da hovenia, em Venâncio Aires. A Emater estima que mais 500 hectares tenham nascido de forma voluntária, ou seja, o município tem cerca de mil hectares da espécie.

Espécie exótica invasora que precisa ser controlada

De origem asiática, a uva-japão foi trazida para o Brasil e seu plantio foi incentivado há alguns anos. Todavia, a espécie é considerada uma invasora e está preocupando pela sua rápida multiplicação e domínio sobre a mata nativa.
Para a professora do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Elisete Maria de Freitas, o grande problema da hovenia é a grande produção de sementes. “Onde a semente cai, ela germina, cresce de forma muito rápida e ocupa o espaço das espécies nativas”, explica.

Dessa forma, a pesquisadora alerta que, nos próximos anos, nas áreas onde ela predominar, muitos animais poderão ficar sem alimento. “Existem alguns municípios que não permitem mais o plantio da uva-japão. Precisamos de ações municipais para salvar a biodiversidade, e de forma urgente. Nosso Vale do Taquari está dominado pela árvore”, destaca.

Elisete cita que algumas medidas podem ser adotadas. “Os municípios precisam incentivar o corte dessas áreas. Em locais que pode afetar outras espécies nativas, o proprietário pode fazer cortes na casca e ela irá morrer lentamente, chamamos isso de anelamento.”

A professora explica que o anelamento é uma técnica de eliminação de árvores para a restauração natural. “Ao fazer o anelamento é retirada a casca do caule e os ramos lenhosos, seccionando o floema, e assim a condução da seiva será impedida de ir até as raízes da planta.”

“Estamos perdendo espécies da nossa biodiversidade, pois as espécies exóticas invasoras, como a hovenia, são uma verdadeira ameaça. Precisamos de um engajamento das Prefeituras em parceria com as universidades para o corte das áreas e a substituição por uma nativa.”

ELISETE MARIA DE FREITAS

Professora e pesquisadora da Univates

Saiba mais

• A hovenia dulcis Thunberg (Rhamnaceae) é uma espécie arbórea de origem asiática e bastante encontrada como invasora em florestas do sul do Brasil, onde compete com espécies nativas.

• Conhecida como uva-do-japão, ela perde todas as folhas no período do inverno, indicando um padrão fenológico estacional que favorece o crescimento no lenho.

• A espécie atinge idade reprodutiva com cerca de quatro anos. O período de floração ocorre de agosto e fevereiro e a frutificação de março a outubro.

• A hovenia se multiplica de forma muito rápida pois não é exigente em solo e, com isso, tem alta capacidade de instalação. Além disso, tem pouco ataque de pragas como a formiga.

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