Após amargurarem quase oito anos com uma baixa valorização com o cereal, produtores de arroz estão com uma maior motivação nesta safra, em Venâncio Aires. O cenário positivo pode ser atrelado à estiagem menos castigadora, à qualidade no grão e ao preço bom na hora da colheita.
A família Gava, de Linha Campo Grande, iniciou a colheita do arroz na tarde da segunda-feira, 1º, em 14 hectares da lavoura em Picada Nova, de um total de 80 que cultivam. Edmilson Gava, 38 anos, ressalta que a safra deste ano ainda não está como o esperado. “A gente veio de uma safra com muito prejuízo e agora ainda tivemos falta de água em algumas lavouras”, explica.
Apesar de, no ano passado, o preço pago ao produtor pela saca do arroz ter dado um salto, Gava comenta que poucos arrozeiros conseguiram aproveitar esse valor. “Quando eu vendi, no início da colheita, o valor não era tão alto. Agora a gente já está um pouco mais confiante pois iniciamos a colheita com um valor bom de mercado.”
Mesmo com o alto custo de produção e a alta nos insumos, a família já projeta uma boa colheita. O arroz colhido nesta semana foi plantado no dia 20 de setembro e será comercializado para Vale Verde e Venâncio Aires.
Colheita do arroz
A colheita inicial dos Gava já traz momentos de esperança. “Vai ser uma safra boa. Em produção vai aumentar um pouco. Nas lavouras em Picada Nova, por exemplo, na safra passada, teve arroz que não cortei pois faltou água, agora a situação se inverteu com outras lavouras. Mas com o preço do arroz, acredito que compense nessa safra.”
No ano passado, a família colheu cerca de 190 sacos por hectare. Gava acredita que, nesta safra, serão apenas 170 sacos por hectare. “A seca esse ano começou mais cedo, faltou chuva em outubro e novembro, fase que o grão se desenvolve. Sem dúvida, nesse ano eu perco na produção em relação do ano passado”, comenta.
Apesar da possível queda na produção, o clima é de ânimo. Após iniciarem a colheita na primeira lavoura, Gava arrisca: “A gente esperava um pouco mais, mas essa lavoura em comparação à do ano passado é animadora, está bem melhor, o grão está bonito.”
Conforme o escritório municipal da Emater-RS/Ascar, a colheita em Venâncio está no início e dura geralmente cerca de 35 dias. Segundo o chefe do escritório, Vicente Fin, a expectativa para a safra no município é de oito toneladas. “Nesta safra estamos com 1.850 hectares de arroz. Em relação à safra passada, temos cerca de 50 hectares a mais”, frisa Fin.
“Estamos em uma época boa. Os preços estão com uma expectativa de alta na hora da colheita”, salienta Fin. Para o engenheiro agrônomo, hoje o município não consegue expandir mais a cultura do arroz devido à falta de reservatórios. “Temos uns mil hectares que estão ‘sobrando’ e só poderão ser reativados quando tiver um reservatório de água significativo.”
De acordo com Fin, a atividade requer um bom parque de máquinas e necessita de operações maiores se comparado com outras atividades rurais. “O produtor de arroz precisa de máquinas fortes e boas pois são operações maiores que em qualquer outra lavoura. E como são muitos cuidados em uma safra, ele precisa de mão de obra”, pontua o engenheiro agrônomo.
Em Venâncio Aires, 60 famílias estão ligadas ao cultivo do arroz. São cerca de 1.850 hectares de arroz cultivados no município e, nesta safra, a expectativa é de produção de oito toneladas em Venâncio.
Uma cultura de gerações
Segundo o chefe do escritório local da Emater-RS/Ascar, Vicente Fin, Venâncio Aires vai na contramão de outras regiões produtoras de arroz. “Aqui, nos últimos anos, se percebe a permanência do jovem no interior e os filhos dos arrozeiros estão ficando. A grande maioria das famílias produtoras vem de sucessão rural e se percebe os jovens na atividade.”
Essa é a realidade da família Gava, na qual todos estão envolvidos com a cultura do arroz. São quatro irmãos – Antônio Henrique, Edmilson, Ednilson e Érique Gava – envolvidos com a lida, além dos filhos de Edmilson, Jean e Jovane.
A família veio de Nova Veneza, Santa Catarina, para Venâncio Aires há cerca de 17 anos para continuar com o cultivo do arroz. “Nossa família se criou no meio do arroz, mas lá era mais fácil, as estradas são melhores e tem menos imposto”, argumenta Edmilson Gava.
Conforme o engenheiro agrônomo da Emater, a permanência do jovem na cultura está atrelada a diversos fatores. “Depois de anos de quebra na safra, a gente percebe novamente um cenário positivo. Tivemos perdas, mas nada tão significativo e generalizado como na safra passada.”
Tanto para o produtor como para Emater, um dos desafios para os agricultores na próxima safra será lidar com o valor dos insumos e diesel. “A gente vai ganhar bem pelo arroz, mas os gastos vão ser maiores também, com o preço que está os insumos é apavorante”, observa Gava.
“Cuidar do arroz não tem segredo, mas são praticamente cinco meses caminhando dentro da lavoura. O clima é nosso principal aliado. Para safra boa precisa ter chuva regular.”
EDMILSON GAVA
Produtor de arroz
Estradas na safra: um problema
Para a família Gava, um dos maiores problemas enfrentados diariamente é a qualidade das estradas no interior. “A gente precisa deslocar as máquinas de uma propriedade para outra pois arrendamos algumas terras. Tem trechos que estão intransitáveis”, pontua Edmilson Gava.
Na segunda-feira, a família levou as máquinas da propriedade em Linha Campo Grande até Linha Picada Nova e reforçou da extrema dificuldade devido às condições das estradas. “Levamos três horas para menos de 15 quilômetros. Um ia na frente limpando a estrada e tinha que ir devagar, pois era buraco atrás de buraco. Isso que estamos no início da safra agora, depois do arroz os outros produtores tiram o milho, a soja, é um grande tráfego”, argumenta Antônio Henrique, ao ressaltar que espera uma atenção do Poder Público para manter as estradas do interior em boas condições para auxiliar no escoamento da produção de inúmeras culturas. “Foi um sufoco chegar até a lavoura hoje [segunda-feira]”, acrescenta.