Os recorrentes episódios de falta de energia elétrica estão tirando o sono dos produtores do interior de Venâncio Aires. Prova disso é que representantes das comunidades de Linha Tangerinas e de Vila Palanque foram à sessão da Câmara de Vereadores, na segunda-feira, 14, para pedir ‘socorro’. João Lenz, morador de Palanque, e Sérgio Moreira, residente em Tangerinas, estavam acompanhados do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), Cláudio Fengler. A entidade foi a primeira a ser procurada pelos produtores e Fengler confirmou engajamento à causa. “O que está ocorrendo é inadmissível”, declarou o presidente.
Ao utilizar a tribuna, João Lenz afirmou que a situação da falta de energia elétrica está se agravando cada vez mais. “Está insuportável. O que as pessoas passam no nosso interior é um grande descaso. E penso que 90% dos casos de falta de energia é por falta de manutenção das redes. A RGE adotou a política do ‘vamos deixar cair o poste para trocar’. Nos dias bons, com sol, a gente passa pela RGE e vê caminhões e funcionários parados, esperando acontecer o próximo temporal. Aí caem 20 ou 30 postes e não conseguem arrumar”, disse.
Lenz levou ao conhecimento dos vereadores que os moradores de Linha Brasil chegaram a ficar 20 dias sem luz, recentemente. De acordo com ele, sindicato, Prefeitura, Câmara e comunidade têm de ser unir e reivindicar melhorias nos serviços prestados. O produtor também destacou que problemas como este desestimulam a sucessão nas propriedades rurais. “Se fala muito sobre o fato de os filhos dos agricultores não ficarem mais no interior. É que a piazada, hoje em dia, pensa muito bem antes de assumir alguma coisa. Eles querem bem-estar e uma vida digna, como todo mundo. Influencia em todos os sentidos”, argumentou.
BUROCRACIA
“Parece que a gente está lidando com um dragão de sete cabeças”, afirmou Sérgio Moreira, morador de Tangerinas, no seu pronunciamento. Ele incentivou as pessoas para que façam registros em caso de prejuízos, para que possam cobrar as perdas na Justiça. “A gente vai deixando, porque não quer ser muito cri-cri, mas a verdade é que essa gente ficou com muito poder e o pessoal do interior está sempre sofrendo”, desabafou ele, que também sugeriu que os parlamentares, quando estiverem pelo interior, devem ficar atentos aos postes podres e outros problemas relacionados às redes de energia elétrica. “Quando eu noto alguma coisa errada, paro e fotografo. Depois aviso a concessionária, só que é muita burocracia”, avalia.
Conforme Moreira, é fundamental que o Ministério Público seja estimulado a cobrar providências. “Tem que ter o apoio da Promotoria. Chega de ver o povo do interior sofrendo. O jovem já não fica mais. Precisamos das autoridades, porque eles (representantes da RGE) já têm uma bagagem para enrolar a gente”, disparou.
O produtor destacou ainda que é natural de Linha Paredão Pires e que os moradores da localidade já chegaram a ficar 10 dias sem luz. “Aliás, a região serrana é sempre a última a ser beneficiada com alguma coisa ou a ter as suas demandas atendidas. Sem a colônia, a cidade não vive. Nos ajudem, porque a colônia está virada só nos cabeças brancas. Jovem não fica mais. O interior está morrendo. A gente vê cada vez mais mato e moradias abandonadas. E a cidade está inchada”, concluiu.
No período em que as lideranças usaram a tribuna, moradores das comunidades permaneceram com cartazes à mostra, no Plenário Vicente Schuck. O presidente da Mesa Diretora, Benildo Soares (Republicanos), afirmou que a Casa está à disposição da comunidade e que vai auxiliar em busca de uma solução.
Presidente do STR destaca prejuízos
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Venâncio Aires, Cláudio Fengler, foi outro a falar na tribuna, durante a sessão de segunda-feira, 14, do Legislativo. Ele compartilhou os relatos que recebeu, recentemente, sobre prejuízos os causados pelas quedas de energia. “Em Linha Brasil, uma agroindústria de embutidos teve muitas perdas em virtude de cinco dias sem luz. Não abriram o freezer para não perderem o que estava dentro, mas o que estava na geladeira foi tudo fora”, relatou.
Ele destacou que os problemas com a energia elétrica estão castigando ainda mais os produtores, que já sofrem com os efeitos da severa estiagem que assola a Capital do Chimarrão há alguns meses.
Fengler lembrou ainda que muitos produtores do interior estão esperando por reforço nas redes de energia. Citou o caso de uma agroindústria de aipim que desde 2013 solicita estas melhorias, que não foram atendidas até hoje. “Já perderam motores por conta disso”, falou.
Segundo ele, a rede hídrica de Linha Herval também enfrenta sérios problemas por falta de energia. “Estamos sem saber o que fazer, por isso estamos buscando ajuda da Câmara, pois aqui estão os representantes da comunidade. Queremos que vocês se unam para servir ao povo, pois foi para isso que vocês foram eleitos”, finalizou o presidente do STR.
RGE Responde
A RGE enviou nota à Folha do Mate após ser contatada, por meio de sua assessoria de imprensa, e informada sobre as queixas levadas aos vereadores. Confira o que diz a concessiária:
• A RGE informa que dispõe de uma área exclusiva para atendimento ao poder público, que está permanentemente à disposição das prefeituras, câmaras de vereadores e demais instâncias.
• Por meio desta área, a RGE participa de reuniões com o poder público e recebe demandas e solicitações, as quais são encaminhadas internamente para posterior retorno aos interessados.
• Já o cliente da RGE tem vários canais de atendimento à disposição, nos quais a empresa disponibiliza mais de 30 serviços como solicitação da segunda via, ligação nova e alteração de titularidade, relato de interrupção no fornecimento de energia, acidentes na rede, dentre outros.
• SMS: Se o problema for falta de energia, envie um SMS com o seu código (que consta na conta de energia elétrica) para o número 27350.
• Há ainda o Whatsapp (51) 99955-0002, o site www.rge-rs.com.br, o aplicativo CPFL Energia (disponível para Android e iOS) e o Call Center 0800 970 0900.
Promotoria
• O promotor de Justiça Pedro Rui da Fontoura Porto afirmou, ontem, que especificamente em relação ao que foi tratado na Câmara, não há expediente aberto no Ministério Público. “Caso chegue a demanda, vamos dar atenção”, garantiu.
• Porto lembrou, no entanto, que há outras situações relacionadas a problemas com a RGE em andamento na Promotoria. “Sempre que temos alguma reclamação mais contundente e notamos que é necessário, buscamos esclarecimentos”, declarou.
• Ele afirmou ainda que soube que o Ministério Público instaurou um inquérito civil em Porto Alegre, para abranger reclamações de todo o estado, já que muitos municípios do Rio Grande do Sul relatam os mesmos problemas.