Irrigação nas lavouras contribui para aumentar a produtividade

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Dados da Emater no estado indicam que há ganho de produção em áreas irrigadas. Em Venâncio, apenas 1% das lavouras de milho e tabaco têm sistema de irrigação.

A necessidade de investimentos para reservação de água e irrigação no Rio Grande do Sul, que nos últimos anos sofreu quebras significativas na agricultura devido à estiagem, volta à pauta em 2024. Ainda que seja um ano de grandes volumes de chuva, inclusive com a maior enchente da história, especialistas defendem que este é o momento de se pensar no assunto, justamente para enfrentar futuros ciclos de seca e diminuir os impactos para a produção agrícola.

A questão até virou bandeira dentro da Assembleia Legislativa (AL) e, no último encontro do RS Sustentável – Cada Gota Conta: Reservação de Água, Irrigação e Piscicultura, em Santa Cruz do Sul, foram apresentados dados relativos ao aproveitamento da irrigação no estado.

Segundo o engenheiro agrônomo e assessor técnico do Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional da AL, José Enoir Daniel, que no dia 27 de setembro participou do evento na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), só no milho, o aumento da produtividade com irrigação poderia girar entre 90% e 200%, considerando a variação de ano normal a ano seco. A partir de dados da Radiografia Agropecuária Gaúcha 2023, Daniel explicou que são 113,5 mil hectares de milho irrigados no estado – apenas 13,7%. “O aumento da área irrigada nas lavouras de milho é estratégico para diminuir a importação do grão pelas indústrias”, comentou.

Ainda conforme os números apresentados pelo engenheiro agrônomo, a soja tem 187,3 mil hectares irrigados (2,8%) e a produtividade poderia aumentar até 82%. No feijão, 14,3% da área é irrigada e o potencial poderia crescer em até 420%. Já no caso do tabaco, são 2,4 mil hectares com irrigação no Rio Grande do Sul (1,6%), no qual o aumento da produtividade poderia girar entre 20% e 35%.

Em Venâncio, 1% das lavouras de milho e tabaco têm irrigação

Até 2023, Capital do Chimarrão sofreu três anos consecutivos de estiagem. Mesmo assim, não são muitos agricultores que contam com açudes ou têm condições de investir em infraestrutura para irrigar uma lavoura. No caso do tabaco, de acordo com dados da Emater local, cerca de 1% dos 8,4 mil hectares cultivados são irrigados e o aumento da produtividade pode chegar a 25%.

Entre os produtores que decidiram fazer irrigação, está Astor Fagundes, 37 anos, morador de Linha Estância São José. Em 2022, a família decidiu instalar um sistema para levar água e fertilizantes (fertirrigação) para a lavoura de tabaco. Entre os equipamentos, tem uma bomba principal que puxa a água de um açude, uma caixa d’água onde são diluídos os fertilizantes, filtros e uma bomba auxiliar para levar a água até a lavoura. Também há canos e estações com registros, além de 32 mil metros de mangueiras de gotejamento. A cada 30 centímetros nas mangueiras, há um pequeno furo que libera cerca de 1,5 litro por hora. O investimento chegou a R$ 94 mil – R$ 15 mil do próprio bolso e R$ 79 mil financiados através da JTI, empresa para a qual a família vende o tabaco, por meio de contrato de produção integrada.

Família dispõe de açudes da propriedade, o que garante a condição de reservar e de onde tirar a água que vai para o meio dos canteiros (Foto: Débora Kist/Arquivo FM)

Avaliação

Há duas safras, o produtor conta que aumentou em cerca de uma arroba (15 quilos) a cada mil pés de tabaco. Pensando no total, a produtividade dele cresceu 10% em 2022. Já no ano passado, houve excesso de chuva, então o sistema não foi aproveitado. Na atual safra, em que plantou 120 mil pés, Fagundes explica que ainda acompanha as previsões climáticas e, se houver realmente confirmação de seca nos próximos meses, vai fazer uso novamente da irrigação. “Considero uma medida importante e uma garantia. Em anos de pouca chuva, pode fazer toda diferença.”

Percentuais possíveis com irrigação

  • Segundo a Emater, atualmente nenhuma área de soja em Venâncio é irrigada e que, se houvesse, a produtividade poderia aumentar até 30%. A indicação seria por aspersão, mecanismo responsável pela pulverização do jato de água e que simula uma chuva artificial.
  • Assim como o tabaco, o milho também chega a apenas 1% de área irrigada no município e o ganho chegaria a 35% na produção. A indicação em ambos seria irrigação por aspersão ou gotejamento.
  • No caso do feijão, não há áreas irrigadas em Venâncio. Nesse caso, a Emater afirma que o aumento da produtividade poderia alcançar 50%. Já o arroz da Capital do Chimarrão é irrigado por inundação.

Reservação com açudes

De acordo com a Emater de Venâncio, 198 famílias têm reservatórios de água e utilizam sistemas de irrigação para culturas como hortaliças, frutíferas, milho, tabaco e arroz. Atualmente, 23 famílias estão na lista de espera para abrir açudes. Em 2023, foram 12 produtores beneficiados com a abertura de açudes.

Painel Gente & Negócios é hoje, ao vivo, da AABB

A irrigação será debatida nesta quinta, 10, quando ocorre mais uma edição do projeto Gente & Negócios 2024, com o tema ‘Água: desafios de reservação e irrigação para as propriedades rurais’. O evento, promovido pela Folha do Mate e Rádio Terra FM, será realizado na sede da AABB, com transmissão ao vivo pelo 105.1 FM e no canal Terra Play (YouTube) e Facebook, das 11h às 13h.

Os painelistas convidados são o presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, o deputado Adolfo Brito (PP); o presidente do Sicredi e Corede Vale do Rio Pardo, Heitor Petry; e o chefe do escritório da Emater Venâncio Aires, Vicente Fin.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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