Uma cultura que vem ganhando cada vez mais destaque nas propriedades rurais de Venâncio Aires é a do morango. A cada ano, mais agricultores optam pelo moranguinho como uma atividade para agregar renda. Conforme dados fornecidos pela Emater/RS-Ascar, os morangos são produzidos por 50 produtores familiares do município em escala comercial. A extensionista rural, Djeimi Janisch, cita que essa produção é contabilizada desde 100 até 8 mil pés. “Tem quem plante só para uso na sua agroindústria, e outros que se especializaram somente em morango, têm ele como carro-chefe”, explica.
O número de agricultores interessados vem aumentando nos últimos anos. “Em 2018 tínhamos 20 produtores no município. Este ano, a expectativa era de 40 produtores e já superamos”, complementa Djeimi. Ela observa que, apesar de parecer uma produção simples, “não é uma atividade milagrosa”. “Ela requer investimento inicial, dedicação, cuidados com os tratos culturais, ainda mais quando o objetivo é produzir sem resíduo de agrotóxicos.”
Quem decidiu ‘tirar um sonho antigo da gaveta’ é a agricultora de Vila Palanque, Leni Maria Silva Triedrich, 55 anos. Ao lado do esposo, Walter Triedrich, 65 anos, ela plantou cerca de 700 mudas de três variedades na semana passada. As mudas foram recebidas no fim de março. “Eu sempre tive vontade de fazer uma estufa de morangos”, revela Leni.
O sonho antigo estava sendo potencializado nos últimos anos com as idas a feiras, principalmente na Expoagro Afubra. “Na última que teve a gente foi e eu me encantei ainda mais. Disse pro Walter: ‘vamos fazer uma lá em casa’”, lembra. Após duas safras de tabaco frustradas, o casal conversou e decidiu arriscar. “Um dia a gente estava colhendo tabaco num sol quente, sentamos na roça e decidimos que era hora de investir em outra coisa. Percebemos que era hora de realizar o sonho que eu tinha guardado por tanto tempo”, frisa a agricultora.
O primeiro passo foi procurar a Emater. Logo o casal percebeu que precisaria de um investimento. “A gente não tinha esse dinheiro, infelizmente com o tabaco não sobrou isso. Foi então que ficamos sabendo do Programa Rotativo de Desenvolvimento Agropecuário de Venâncio Aires (Promagro).”
Em setembro do ano passado, o casal se habilitou e conseguiu aprovação do crédito junto ao programa da prefeitura. “Fiquei sabendo que eles estavam incentivando os pequenos produtores e vi que ali tínhamos uma chance. E deu certo”, comemora Leni.
O casal já foi conhecer diversas propriedades que têm o morango como cultura principal. Leni ressalta que com essas visitas e o apoio da Emater passou a perceber que não seria algo muito difícil de cultivar.
A ideia é comercializar o morango em programas institucionais. A família também projeta realizar um colha e pague, futuramente. A propriedade fica a apenas três quilômetros do centro de Vila Palanque e, com os mais de nove hectares, a meta do casal é apostar no morango, em verduras e em melancia irrigada, já que na safra passada colheram mais de mil melancias em 330 pés cultivados.
Aposta nos morangos
Leni sempre se encantou com as estufas de morango e comenta sobre a realização em conseguir construir a primeira na propriedade com capacidade para 1,2 mil mudas. “Vamos mudar nosso jeito de pensar e cultivar as coisas. Estamos apostando em uma coisa nova e vamos entregar todo nosso carinho e dedicação, afinal estamos produzindo alimentos.”
A realização e o contentamento são perceptíveis no semblante da agricultora que já encaminhou sua aposentadoria. “Com nossa aposentadoria, vou ter mais autonomia, para mim é uma liberdade. Cultivar o morango veio na hora certa, vai ser uma terapia. Eu diria que cuidar dos moranguinhos vai ser um remédio, pois eu amo mexer na terra e trabalhar com o que se gosta é gratificante.”
A meta é, na troca de estação, já ter morango para comercialização. Entre as 700 mudas, Leni e Walter plantaram variedades como Albion, San Andreas e Monterrey.
“Cultivar o morango era um sonho de vida. Agora vamos nos dedicar ao cultivo do moranguinho sem agrotóxico e aliar a outras verduras e a melancia irrigada. Se nos dedicarmos como no tabaco vai dar certo, na verdade já está dando.”
LENI MARIA SILVA TIEDRICH
Produtora de morango
Morango: uma opção de diversificação
Assim como na propriedade de Vila Palanque, a extensionista rural Djeimi Janisch, que realiza a assistência técnica aos produtores de morango, frisa que a produção do morango vem crescendo pois os produtores estão vendo uma possibilidade de diversificação na propriedade. “Sem contar que o morango é uma atividade que consegue ser liderada por mulheres e jovens. Isso também é uma das razões para que a cultura venha se expandindo.”
Apesar de, tecnicamente, Venâncio Aires não estar localizado em um clima ideal para o morango, pois a planta não gosta do calor, os produtores estão conseguindo driblar essas questões e apostando no mercado local. “O morango gosta do sol, temperaturas amenas e noites frescas. Nós não conseguimos atingir o máximo de potencial, pois estamos em uma região úmida e não temos como competir com a Ceasa em termos de preço, por isso, o foco dos nossos produtores é realizar venda direta e isso tem inúmeras vantagens para o consumidor”, destaca Djeimi.
Cada produtor tem seus mercados, como padarias, restaurantes, mas, segundo a extensionista, ainda tem um grande mercado a ser explorado. “O morango é atrativo por ter uma boa aceitação no mercado e é uma cultura que gera renda toda semana e isso é satisfatório pois consegue ajudar na manutenção dos custos familiares”, acrescenta.
A maior parte dos produtores cultiva os morangos pelo sistema de substrato em slebes suspensos em bancadas de madeira e uma cobertura – um abrigo – tipo guarda-chuva. “Não é uma estufa, pois a gente não tem o foco de proteger do frio, mas sim da chuva”, comenta a extensionista.
1,2 hectare
é o número aproximado de área produzida de morango comercial.