Um ano após a catástrofe climática, dificuldades do pós-enchente ainda permanecem em localidades onde houve deslizamentos de terra.
Em maio de 2024, as enchentes do rio Taquari e dos arroios Castelhano e Sampaio também impactaram a agricultura em Venâncio Aires. Conforme a Emater, as perdas em lavouras, maquinários, casas, animais, galpões e infraestrutura produtiva somaram um prejuízo de R$ 98 milhões no município.
Na região serrana, houve desmoronamentos, mudando a paisagem em diversos pontos. Tal condição motivou até a vinda do Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais (GPDEN) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que confirmou que geomorfologia nas regiões mais acidentadas é uma condição facilitadora para a ocorrência de movimentos de massa durante períodos de chuvas intensas.
Aviário em Linha Arroio Grande
As localidades mais impactadas por deslizamentos foram as Linhas Arroio Grande, Sexto Regimento, Andréas, Santos Filho, Silva Tavares, Julieta, Cachoeira e América. Além de levar morro abaixo toneladas de terra, árvores e lavouras, destruíram estruturas que, um ano depois, ainda não foram reconstruídas. É o caso de um aviário em Linha Arroio Grande, que cedeu cerca de dois metros. A granja pertence a Fernando Andre Schwingel, 45 anos. Ele é empresário, mantém uma fábrica de móveis planejados, mas, como cresceu no interior, em 2012 adquiriu uma área em Arroio Grande e decidiu diversificar a propriedade. Desde então, também é produtor de aves de corte, um dos setores que mais cresceu em Venâncio nos últimos anos.
Schwingel conta que na propriedade havia duas vertentes, mas que, depois da chuva de 2024, outras sete apareceram com o excesso de água. “Acredito que foi isso que aconteceu embaixo da granja. Com tanta chuva, o solo encharcou demais e o aterro cedeu.” Ainda que seja necessário refazer ‘apenas’ metade do aviário, vai demandar um investimento milionário, que ele encaminhou através de novo financiamento. “Ano passado fomos orientados pelo banco a esperar um pouco, porque se achou que o governo daria algum abatimento ou prolongamento de parcelas. Mas não aconteceu. Agora está tudo encaminhado e acredito que em duas ou três semanas, já teremos condições de começar o trabalho.”
Reconstrução
O aviário que precisará ter parte reconstruída tem 16×150 metros, foi feito em 2022 e Fernando Schwingel também financiou o valor. Mesmo sem conseguir alojar aves há um ano (é integrado à BRF), ele continuou pagando as parcelas e ainda há prestações em aberto. “Deixamos de produzir e gerar imposto. Acho que faltou agilidade do governo e dos bancos para liberar recursos e adiar parcelas. Aqui foi apenas uma granja, mas e os outros produtores, das outras culturas? Imagina se parassem de produzir?”

Solo no pós-enchente
Com a enchente do ano passado, milhares de hectares sofreram com deposição de solo, ou seja, acumulação de material transportado pela água. De acordo com a Emater, serão necessários pelo menos três anos para recuperar o solo nos pós-enchente, o que inclui as áreas que não foram afetadas diretamente pela enchente, mas que com o excesso de chuva e enxurradas sofreram erosão.
O foco passa por revigorar a fertilidade, com reposição de calcário e fósforo, além de recuperar o material orgânico das áreas, com cobertura verde e aplicar as curvas de nível, técnica que funciona como uma espécie de barreira, equilibrando a velocidade da água da chuva, evitando a perda de matéria orgânica.
