A trajetória de Marina Henckes Frey, 35 anos, bióloga, produtora rural e, agora, coordenadora do mais novo curso oferecido pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) no campus Venâncio Aires, o técnico em Agropecuária, foi de idas e vindas entre a ‘colônia’ e a ‘cidade’.
Natural de Linha Cecília, interior de Venâncio, ela cresceu em meio à criação de gado leiteiro, atividade iniciada ainda pelo avô paterno, Blondo Frey, em tempos que o tabaco já predominava na maioria das propriedades, e que o pai, Irio, trabalha até hoje.
Por incentivo dos pais, o que também aconteceu com as irmãs Mariana e Marinês, Marina foi fazer faculdade logo após terminar o Ensino Médio. Como queria ficar perto de casa, a opção foi a Unisc. “Não fui desmamada [risos]. Meu desejo era Medicina Veterinária, mas o curso só tinha em municípios mais longes. Então optei pela Biologia, que tem muita coisa em comum, e que me permitiu ficar próxima, morando em Santa Cruz”, lembra.
Em 2009, logo após a formatura, Marina volta para Linha Cecília para ajudar os pais, já que a dificuldade para encontrar funcionários sempre existiu. Nesse mesmo ano, iniciou uma especialização em Tecnologia de Alimentos, pela Universidade do Vale do Taquari (Univates), e, em 2010, foi novamente para a Unisc, dessa vez como funcionária na área administrativa.
Nos anos seguintes, sempre na eventualidade de precisar ajudar a família, Marina ficava períodos em Venâncio Aires, dividindo os compromissos com a universidade e com a maternidade (o filho Lucca nasceu em 2013). Até que, em julho de 2018, decidiu ir em definitivo para Linha Cecília para assumir a sucessão da propriedade. “Eu disse pro pai: ‘a partir de agora eu vou ficar, mas nós vamos inovar’. E como o pai sempre foi visionário, como o vô era [foi na propriedade dele a primeira inseminação artificial em Venâncio, há mais de 50 anos], teve consenso na família.”
O que aconteceu depois dessa decisão foi noticiado em junho de 2020 pela Folha do Mate: o início da ordenha robotizada. Com investimentos que chegaram a R$ 3 milhões em equipamentos de tecnologia alemã, os Frey se tornaram os primeiros a implementar o sistema na região dos vales do Rio Pardo e Taquari.
Produção
São atuais 220 animais da raça Holandesa no plantel, dos quais 100 estão em lactação. No ano passado, a ordenha robotizada teve uma média de 37 litros por dia de cada vaca, sendo que antes desse sistema, eram cerca de 25 litros. Tudo é vendido para a Dália.
O sêmen usado na inseminação vem da França, para onde também é enviado material genético das terneiras nascidas na propriedade de Linha Cecília. Através da cartilagem da orelha, a empresa de fertilização faz o mapeamento de cada animal, no qual é possível antecipar informações gerais, como predisposição de doenças ou capacidade de produção de leite.
Novos investimentos
Além do compost barn, que é o estábulo forrado de serragem em compostagem para garantir o conforto dos animais, os Frey planejam, até o fim do ano, comprar uma amamentadora automática para as terneiras – cerca de R$ 150 mil em investimentos.
A estrutura será construída na antiga ‘sala de espera’ dos animais que iam para ordenha. Cada animal terá um ‘brinco’ com chip com informações sobre a necessidade diária de leite. Nenhuma terneira mama diretamente na mãe e elas são alimentadas com leite em pó para bovino, que tem as medidas ideais de proteínas, carboidratos e gordura.
A família, que conta com dois funcionários contratados para o trabalho, também pretende iniciar a comercialização de terneiras, para produtores interessados na raça Holandesa.
A experiência do campo em sala de aula
A formação acadêmica de Marina, somada aos cursos de inseminação artificial em bovinos, dieta de bovinos de leite e melhoramento genético (todos pela Emater), e principalmente a experiência dela como produtora rural que trabalha diariamente com gado de leite, lhe renderam um convite especial: ser a coordenadora do técnico em Agropecuária, o mais novo curso da Unisc Venâncio.
Na prática, ela será professora e poderá ministrar aulas de zootecnia, bovinocultura e tecnologia de alimentos, por exemplo. “Pela minha formação e especialização, posso dar aula. Estou muito feliz, porque a vida novamente me leva para a Unisc. Tenho um grande amor pela instituição, mas principalmente pelo agro, do qual não saio mais.”
Para parceria em futuros estágios dos alunos, a propriedade dos Frey será um dos locais frequentados por estudantes, para acompanhar o manejo e sistema de ordenha, além do Condomínio Suinícola Progresso, em Linha 17 de Junho.
Escolha
A coordenadora administrativa da Unisc Venâncio, Andréia Haas, destaca que a escolha de Marina para coordenar o curso passou pela competência dela como empreendedora rural, experiência na sucessão, confiança como ex-colega de Unisc e capacidade e paixão pelo agronegócio. “Sou muito grata à Mariana e ao seu Irio Frey, pois foram os primeiros a nos escutar quando esse curso era apenas um sonho, há três anos. Foram fundamentais para a autorização do curso, os primeiros a conveniar com a Unisc para a oferta de estágios, mesmo sem o curso existir, apostando que poderia dar certo.”
“Será um grande desafio, mas estou muito feliz em compartilhar experiências e práticas, já que é importante executar o que se aprende na teoria. Acredito que, ter uma coordenadora que decidiu pela sucessão familiar, vai incentivar outros jovens agricultores para seguir com a atividade dos pais.”
MARINA FREY – Bióloga, produtora rural e coordenadora do técnico em Agropecuária da Unisc
As inscrições, pela internet ou presenciais, para o curso técnico em Agropecuária foram prorrogadas até o dia 8 de agosto, quando está prevista a aula inaugural.
Professores do curso técnico em Agropecuária
• Paulo Ricardo Görck – engenheiro civil e topógrafo
• Marcelo Cassol – agrônomo/Emater
• Marcelo Paim – médico veterinário
• Marina Henckes Frey – bióloga/coordenadora do curso
• James Leandro Eisenberger – engenheiro agrícola/Languiru
• Fernando Rodrigo Vogel – Contador/Sicredi
• Rudinei Pinheiro – Técnico agropecuário e biólogo/Emater