Esquilos estão comendo os pinhões em Vila Deodoro
Ariscos, os esquilos se alimentam dos butiás e das sementes dos coqueiros, além dos pinhões na propriedade da família Becker, em Vila Deodoro (Foto: Divulgação)

O inverno no Rio Grande do Sul, além do frio, é a época do pinhão. As araucárias produzem a pinha recheada, mas, neste ano, na localidade de Vila Deodoro, nas terras de propriedade da família Becker, o produto é destinado apenas para o consumo da família, as pinhas não vieram com tantos pinhões como nas outras safras. Quem diria que a 25 quilômetros da cidade de Venâncio Aires poderia se encontrar esquilos, bugios, tucanos e passarinhos das mais variadas espécies.

São eles, em especial os esquilos, os bugios e as gralhas, que disputam espaço com os humanos na alimentação do pinhão. São eles os ‘ladrões’ de pinhões. Os esquilos são roedores que têm a cauda longa e peluda. Alimentam-se de sementes, nozes, avelãs e pinhões, assim como os bugios e as gralhas que, com o bico cumprido, fazem um buraco nas sementes e comem toda ela deixando apenas a casca.

A descoberta foi na última semana quando os irmãos Donato e Sônia Becker foram no mato da família para ajuntar os pinhões maduros, das menos de dez árvores desta espécie na propriedade, em Vila Deodoro. Sônia conta que estava a ajuntar os pinhões do chão, quando de repente, começaram a cair os pinhões sobre sua cabeça, ou melhor, as cascas da semente e quando olhou deparou-se com esquilos. “Estranhamos que não havia mais pinha e os pinhões estavam comidos no chão, alguns com buracos e outros com a casca aberta, sem a parte interna da semente”, explica.

Pinhão como lanche

Ágeis e espertos os esquilos logo fugiram do ‘lanche’ que faziam. Porém, não se intimidaram com a presença de pessoas em volta da árvore e, escondidos subiram novamente no pinheiro, conforme conta Donato, admirado com a ‘simpatia’ dos animais considerados silvestres. “Para comer, sentam-se nos galhos das árvores e debulham os pinhões com as mãos, separando-os com auxílio dos dentes”, conta ele que ficou observando os animais de perto. A família diz que nem faz questão dos pinhões diante da beleza da natureza e preservação necessária destas espécies. “Temos que dividir, pois este também é o alimento deles”, destaca Sônia defendendo a preservação dos animais.

Diversas espécies em Vila Deodoro

O professor de Ciências aposentado, Gil Jorge Farinhas, que reside em Vila Deodoro, explica que faz anos que animais como os esquilos, os tucanos, bugios, passarinhos de várias espécies habitam o local e dividem o espaço que, antigamente era deles, na natureza, com as pessoas. O motivo, segundo o professor, seria o desmatamento das áreas do Vale do Sampaio, Serra e região, o que faz com que a mata que existia onde era o habitat dos animais, já não exista mais e faz com que eles venham buscar alimentos próximo da zona urbanizada. “Seguidamente se escuta o som dos bugios e os tucanos vêm aqui na frente de casa para se alimentar. É bonito de se ver”, comenta.

Os pinhões, abertos com os dentes dos esquilos, têm a parte interna totalmente consumida. Outras cascas, onde há somente um buraco pequenino dão sinais de que algum pássaro alimentou-se ali. Sônia diz que os esquilos não se alimentam apenas dos pinhões, mas de butiás e de coquinhos. “Os butiás eles cortam em quatro pedaços, quebram o coco e comem a parte interna”, explica dizendo que não percebe esta divisão como prejuízo e, sim, como conservação de uma espécie. “Eles não têm alimento porque não tem mais mato, então, acabam dividindo o espaço conosco, o que é bom, pois, apesar de comerem os frutos, eles encantam os olhos com a beleza e agilidade, em especial dos esquilos”, confirma a professora aposentada.

Caturritas em Vila Deodoro Venâncio Aires
As caturritas fazem ‘festa’ nos galhos da araucária (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

Habitat é deles

A bióloga Priscila Mohr aconselha o menor contato possível com os animais que aparecem nas zonas urbanas. Segundo ela, muitas vezes, em especial os esquilos que se alimentam de sementes, nesta época do ano é o único alimento que eles têm. A profissional explica que, como os humanos invadiram o habitat deles, por meio do desmatamento, eles buscam estes refúgios cada vez mais perto das áreas urbanas e acabam sendo vistos com frequência. O conselho é que não sejam apreendidos e que se deixe eles livres para se alimentar.

“Na verdade, o pinhão é alimento deles, além do que, fomos nós que invadimos o habitat e agora eles não têm para onde ir a acabam dividindo este espaço.”

PRISCILA MOHR – Bióloga

Reportagem

Enquanto a reportagem fazia as fotografias e ficava à espera dos esquilos em Vila Deodoro, o som distante da motosserra confirmava a hipótese lançada pelo professor Farinhas de que os animais estão perdendo espaço. Mesmo que a reportagem ficou de vigília, os esquilos não apareceram no dia para se alimentar.

Veja mais fotos:

O valor nutricional do pinhão

O pinhão pode ser cozido, assado ou usado como ingrediente em pratos típicos. Além das lembranças de diversas épocas da história, o pinhão conquista paladares.

Conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Empreba), o fruto fez parte da alimentação dos indígenas e, hoje tem presença marcante na culinária dos estados do Sul do país. Em contrapartida, as qualidades do pinhão não se resumem às características de sabor e paladar. É preciso levar em conta os aspectos nutricionais do fruto que é rico em calorias. O pinhão pode ser usado para auxiliar no aporte calórico de trabalhadores braçais, atletas, crianças e adolescentes em fase de crescimento.

Rico em fibras, o consumo de pinhão pode auxiliar na prevenção de doenças intestinais. “O pinhão é composto por vários minerais, como cobre, zinco, manganês, ferro, magnésio, cálcio, fósforo, enxofre e sódio. Porém, merece destaque no fornecimento de potássio, mineral que ajuda a controlar a pressão arterial”, explica a Embrapa.

No pinhão também podem ser encontrados os ácidos graxos linoleico (ômega 6) e oleico (ômega 9), conhecidos por contribuírem na redução do colesterol no sangue. Em função disso, podem ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares.