O olhar da indústria sobre a alta no preço do arroz

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Nas últimas semanas, o preço do arroz, item primordial da mesa do brasileiro, está no centro de debates econômicos, desde a casa das famílias até o primeiro escalão do Governo Federal. A alta no preço, no entanto, também foi uma surpresa para os empresários do setor, pois o cenário indicava que a indústria teria prejuízos com a chegada de mais uma safra de arroz. A situação? Desanimadora.

Conforme o sócio-proprietário da Arrozeira Santos, Airton José dos Santos, 49 anos, “era o ano que a gente ia trabalhar de graça. O custo de produção aumentava, mas na outra ponta o retorno não era o mesmo. ” Desde 1985 no ramo, Santos não recorda de uma fase em que o valor da saca de arroz subiu rapidamente. “Há 35 anos no ramo, essa foi a maior alta em tão pouco tempo. Sempre subia, mas isso era gradativamente”, cita Santos, que mantém a empresa em Linha Picada Nova, interior de Venâncio Aires. Ele comenta que o produtor vinha perdendo há muitos anos, e muitos estavam se endividando.

Santos elenca uma série de fatores que levou o preço da saca de 50 quilos de arroz a R$ 116. Em março, o valor da saca de arroz foi de R$ 49 a R$ 62. Em agosto saltou para R$ 100. “Lembro que em 2001 um fardo custava R$ 25,50. Se tivesse acompanhado a inflação hoje seria, no mínimo, uns R$ 150.” Além disso, o sócio-proprietário afirma que ocorreu um desestímulo do produtor rural. Dados do Censo Agropecuário sustentam a afirmação: 217 mil propriedades rurais deixaram de produzir arroz entre 2006 e 2017, no país. Isso representa queda de 54% nos estabelecimentos que trabalhavam com o cereal. Com o abandono da atividade, a área plantada de arroz caiu. De 2006 até agora, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o recuo foi de 44%. A produção também diminuiu em 11 milhões de toneladas.

Arrozeira Santos
Na última safra, produtores tiveram quebra na produção na lavoura, mas objetivo da arrozeira Santos foi manter a qualidade do produto para os cliente. (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

Trabalho dobrado

Durante a pandemia, Santos comenta que o trabalho dobrou. “No início a gente trabalhava enlouquecidamente para atender os pedidos. As pessoas estocaram comida por medo de faltar alimento.”

“Hoje, o arroz sai da indústria custando entre R$ 19 a R$ 20. O mercado quando faz a promoção ganha 1% a 2% de lucro. O valor praticado no supermercado para um pacote de cinco quilos deve ser de R$ 22 a R$ 25. A culpa não é do produtor, não é da indústria. Uma série de fatores levou o produto a uma valorização”, reforça Santos.

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“Produtor estava desanimado”

Anos consecutivos de prejuízos, baixa valorização e pouca rentabilidade fizeram com que muitos produtores de arroz migrassem para outras culturas, como a soja. Além disso, a estiagem na última safra desanimou os agricultores. “A gente sentiu aqui na indústria. Teve produtor que não tinha o que entregar. Foi uma quebra grande na produção, pois bem no final da safra faltou a chuva e os rios secaram, faltou água”, relembra Santos. A Arrozeira Santos recebe arroz principalmente de Venâncio Aires, Taquari, Vale Verde e General Câmara e em todas as regiões ocorreu quebra na produção.

Apesar do valor deste ano ser animador para o produtor, muitos não conseguiram mais abrir terras para o plantio do arroz, por isso, o acréscimo de área deve ser menor. Porém, se este cenário se manter na próxima safra, mais agricultores podem retornar ou até mesmo aumentar a produção.

Na Capital Nacional do Chimarrão, segundo dados do escritório da Emater/RS-Ascar, são 60 produtores envolvidos no negócio. A atividade tem boa produtividade e a área quase toda é sistematizada e pré-germinada. Na safra passada foram cultivados 1,65 mil hectares. Nesta safra, a expectativa é de 1,8 mil hectares com uma produção de 60 toneladas de arroz em casca.

    

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