O que se projetou ao longo de 2021 vem se confirmando na colheita e na comercialização: o tabaco produzido no Vale do Rio Pardo ‘vingou’ quanto à qualidade. A palavra é dita quase em coro por produtores e pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), ao falar das expectativas até o fim da atual safra.
Qualidade que, somada à grande demanda pelo produto nas indústrias, tem garantido uma média melhor de preço na hora da venda. “No Vale do Rio Pardo, onde tem acontecido o plantio mais cedo, tivemos sorte no clima e ajudou na qualidade. Está tendo uma procura grande e realmente o produtor está conseguindo uma média melhor. Tem tudo para ser o melhor período dos últimos 15 anos”, avaliou o presidente da Afubra, Benício Werner.
Parte desse cenário animador se explica por um movimento que até poucas safras atrás ainda era experimental: a antecipação do plantio para junho, ao invés de agosto. “Sabemos de muitas empresas que já estão orientando o plantio antecipado, justamente porque o resultados das safras recentes foi melhor, com um tabaco de mais qualidade. Com certeza, cada vez mais vai aumentar o número de produtores plantando cedo.”
É com o chamado ‘tabaco do cedo’, que muitos produtores têm terminado a colheita entre outubro e novembro. Com isso, poupam a lavoura do sol quente e das altas temperaturas, além de evitar um dos maiores problemas dos últimos verões: a estiagem. “A seca aqui não pegou e por isso vamos plantar cedo de novo”, afirmou Gerson Luis Heinen, 48 anos.
Nas últimas cinco safras, o agricultor que mora na Vila Rica, próxima à Linha Estrela, plantou 80 mil pés por temporada. Da atual safra, ele conta que toda a produção (14 toneladas) foi vendida para a China Brasil Tabacos numa única manhã, no dia 15 de dezembro. Para 2022/23, os canteiros já estão limpos, à espera das bandejas onde 55 mil mudas serão cultivadas a partir de março. Heinen conta que decidiu diminuir a quantidade porque vai plantar apenas nas próprias terras, sem alugar, o que, segundo ele, proporcionalmente é mais rentável.
Quando à venda da atual safra, o agricultor destaca que recebeu, em média, R$ 231 por arroba (15 quilos) na classe BO1, a mesma que, na safra passada, ele chegou a R$ 128. Mesmo com aumento de 80%, Heinen pondera que é preciso considerar o custo de produção (veja abaixo).
Estimativa
Conforme a Afubra, além do preço, as empresas têm intensificado a compra, já que a oferta do produto diminuiu. Uma prova é a estimativa de produção: enquanto em 2020/2021 se chegou a 628 mil toneladas, para 2021/22 a nova projeção está em 504 mil – queda de mais de 20%.
Ainda assim, entre os municípios que integram a Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), Venâncio Aires deve manter a frente em todos os quesitos. Na safra passada, por exemplo, eram 3.926 famílias produtoras, 7.965 hectares plantados e 18 mil toneladas produzidas. “Com certeza Venâncio deve manter esse protagonismo na região”, projeta Benício Werner.
Ranking dos municípios do Sul do Brasil 2020/21
- 1º Canguçu (RS) – 20.944 toneladas
- 2º São João do Triunfo (PR) – 19.087 toneladas
- 3º São Lourenço do Sul (RS) – 18.103
- 4º Venâncio Aires (RS) – 18.050 toneladas
- 5º Rio Azul (PR) – 15.406 toneladas
Custo de produção deve repercutir na safra 2022/23, diz Afubra
Desde o início do ano, o comentário geral em muitas localidades do interior de Venâncio Aires é de que as empresas têm pagado bem pelo tabaco. No próprio exemplo de Gerson Heinen, onde o aumento no preço médio chegou a 80% entre uma safra e outra, o valor surpreendeu.
Ainda assim, para o agricultor da Vila Rica, é preciso relativizar e o principal contrapeso dessa balança é o custo de produção, ou seja, os gastos necessários com insumos. Conforme Heinen, na safra 2020/21 ele pagou R$ 78 para um saco de 50 quilos de adubo e R$ 105 um saco de salitre. Em 2021/22, os valores chegaram a R$ 92 e R$ 149, respectivamente. “Esses R$ 231 pagos de média na arroba foi um aumento, mas para dar uma margem mínima de lucro, deveria ter chegado a R$ 250. Porque outro custo é com a mão de obra de diaristas, que está cada vez mais difícil de encontrar”, comentou o produtor.
Como Heinen novamente cultivará o ‘tabaco do cedo’, ele já comprou insumos para a próxima safra e as notas fiscais assustaram: R$ 202 o saco de adubo e R$ 279 o saco de salitre – aumento de quase 100% somando os dois itens.
O caso do agricultor de Venâncio não será exclusivo e isso já é alertado pela própria Afubra. “O aumento do custo de produção vai repercutir nas safra 2022/23. Está tendo uma grande dificuldade de importação de insumos vindos da China e da mistura de fertilizantes feita na Ucrânia. Com a pandemia houve diminuição de produção e a logística desses itens acaba sendo impactada”, explicou o presidente da associação, Benício Werner.
Conforme Gerson Heinen, que também já garantiu a lenha para manter dois fornos tradicionais de secagem, ela é outro item que deve encarecer em breve. “Eu paguei R$ 80 o metro cúbico, mas logo logo deve chegar a R$ 100, R$ 110. Tudo encareceu, mas sinceramente, para quem tem pequena propriedade, o fumo ainda é o ideal.”