É no barro vermelho, quase ‘caindo’ para Cruzeiro do Sul, que uma localidade virou destaque na produção agrícola. E não foi pelos históricos ervais (a origem do seu nome) ou com o tabaco, ainda o carro-chefe da maioria dos agricultores venâncio-airenses.
Na última lista dos 100 maiores produtores rurais por retorno de ICMS, Linha Herval apareceu nas três posições do pódio. Curiosamente, o trio de ‘vencedores’ é de avicultores e são vizinhos – 1,5 quilômetro separa a primeira da terceira entrada de propriedade.
Elton Roberto Hein, Roberto Milton Mallmann e Juares do Santos são parte de um grupo ainda pequeno (35 famílias produtoras de aves de corte), mas que só no ano passado chegaram a R$ 35,9 milhões em vendas. O valor corresponde a 13% do faturamento total da agricultura em 2019 (R$ 266 milhões). Essa proporção, à primeira vista, parece pequena, mas precisa ser relativizada.
“O setor começou a ter muita expressão e é o que mais cresce. Vai, com certeza, continuar retornando bem para o município nos próximos anos”, destacou o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin. A afirmação dele está baseada nos números: se em 2019 foram R$ 35 milhões, em 2010 eram R$ 5 milhões – cresceu sete vezes em 10 anos.
Avicultura de corte
-35 famílias
-42 aviários em produção
-12 aviários novos em fase inicial ou de finalização
-1 frigorífico
12,7 mil – toneladas é a média atual de aves de corte produzida em Venâncio
12,4% – é o que representa a agricultura no retorno de tributos para o município
Dos acampamentos aos aviários
O primeiro lugar entre os agricultores venâncio-airenses é de Elton Roberto Hein, 55 anos. Durante anos foi produtor de tabaco, aipim e milho, mas resolveu arriscar na nova produção em 2008, depois que um primo comentou de uma reunião com a BRF, frigorífico de Lajeado. “Visitamos, amadurecemos a ideia e surgiu a oportunidade”, conta.
Doze anos depois, Hein mantém quatro aviários que totalizam cerca de 9 mil metros quadrados. A capacidade é para receber até 180 mil cabeças por lote – 1,5 milhão por ano. Para tocar os trabalhos, Hein trabalha com dois funcionários, a esposa Maria Beatriz e o filho Gustavo. O jovem cursou Planejamento e Gestão para Desenvolvimento Rural na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “O mesmo apoio que sempre tive dos meus pais, procuramos passar para o Gustavo e acho isso fundamental para o seguimento da agricultura.”
Feliz ao ver seu nome no topo da lista, Elton Hein diz que o principal não é ser o primeiro, mas saber que sua produção é importante para o município. “Às vezes a produção não precisa ser um exagero, mas ela contribui. E saber desses números, nos ajuda a ter uma clareza sobre o setor. Muito se fala na produção industrial, mas para a indústria produzir, a matéria-prima vem da agricultura.”
Valorização
Quando começou em 2008, Elton Hein foi acompanhado na nova empreitada pelo amigo de décadas e parceiro dos acampamentos, Juares dos Santos, 54 anos. Santos, o terceiro colocado na lista dos 100 mais, também mantém quatro aviários e a produção é praticamente a mesma de Hein.
Sem cultivar tabaco há 10 anos, ele destacou o que é um discurso comum da maioria dos agricultores: a valorização. “O agricultor não precisa de muito. Basicamente uma estrada boa e um pouco de material para quando quiser melhorar um negócio. Atenção e um olhar diferente, porque daí a gente também se encoraja”, afirmou Santos.
‘Galinheiro’ de 1 milhão de dólares
Do trio de líderes do Herval, o novato no assunto é justamente o mais velho, Roberto Milton Mallmann, 61 anos. Ele começou na avicultura em 2015, quando decidiu trabalhar no mesmo ramo da irmã, Susana, que é casada com Juares dos Santos.
Diferente de Hein e do cunhado, Mallmann não fez uma troca de produção, mas uma troca de vida. Por cerca de 30 anos, morou em Porto Alegre, onde trabalhou no mercado de ações e previdenciário. “Sempre quis uma área no interior, mas não uma chácara para passar o tempo. Queria um lugar que produzisse.”
Com quatro aviários e espaço para mais quatro, Roberto Mallmann entende que ainda há muito desconhecimento sobre o setor. “Tem gente que me pergunta: ‘como tá teu galinheiro?’ É que não sabem a necessidade de investimento para isso. Quando comecei, foi um milhão de dólares”, revela.
Parceria
Vizinhos de propriedade e parceiros nos negócios, Elton Hein, Roberto Mallmann e Juares dos Santos mantêm uma mútua ajuda. Quando ocorre a vinda dos lotes de aves, por exemplo, cedem, cada um, seus funcionários para ajudar na descarga. “Assim um ajuda o outro”, resumiu Santos.
Lotes
- Os lotes chegam nos aviários de Linha Herval com pintos de cerca de um dia de vida. A maioria vem do município de Marau.
- Depois de confinados, permanecem no espaço por algumas semanas e saem com 28 a 31 dias, pesando 1,5 kg.
- Os frangos, então, vão para a BRF, o frigorífico de Lajeado no qual Hein, Mallmann e Santos são integrados. A maior parte da produção é exportada para o mercado árabe.
“Quando se falava em diversificação anos atrás, não se dava muito valor. Mas isso agora está efetivo em números e mostra o potencial do segmento da proteína. Nos últimos anos, foram R$ 50 milhões em investimentos para diversificação no setor de aves e na suinocultura.”
ANDRÉ KAUFMANN – Secretário de Agricultura