Apesar da chuva registrada na terça-feira, 4, e na quarta-feira, 5, os produtores de Mato Leitão ainda sofrem as consequências do período de estiagem registrado durante o último mês. A principal consequência disso foi o atraso no plantio das pastagens de inverno, usadas para complementar a alimentação do gado leiteiro e de corte, e das hortaliças (olericultura).
De acordo com o extensionista rural da Emater/RS Ascar, Rudinei Pinheiro Medeiros, a falta de chuva interfere no processo inicial do cultivo. Ele ainda comenta que muitos agricultores da Cidade das Orquídeas ainda não têm irrigação, o que colabora para o agravamento dessa situação. Nesse sentido, ele avalia que o uso dessa tecnologia ainda precisa ser melhor trabalhado no município e no estado.
Porém, ele observa que mesmo quem já tem o sistema de irrigação na propriedade também sofre com a estiagem, porque a falta de chuva causa a queda dos níveis dos reservatórios usados na captação de água. Em relação à olericultura, Medeiros ainda compartilha que é notável as consequências da estiagem. “A terra está muito seca. Temos uma deficiência de chuva há um bom tempo, por isso a precipitação de três a quatro milímetros vai ajudar, mas ainda é muito pouco. Chuva entre 30 e 40 milímetros é um bom volume”, avalia.
Produção de leite
Em Vila Santo Antônio, no interior de Mato Leitão, Gerson Luis Horn, 51 anos, e Luciane Maria Horn, 50 anos, são exemplos das dificuldades enfrentadas por causa do período de estiagem registrado em abril. Produtores de leite desde 2003, eles contam que o principal contratempo foi o atraso do plantio do azevém, utilizado pelo casal como pastagem para as 28 vacas que integram o plantel, sendo que 22 estão em fase de produção.
Horn relata que, normalmente, semeia o azevém em três hectares da propriedade, na metade de abril. Contudo, por causa da estiagem, neste ano, o plantio atrasou três semanas. “Ficamos esperando a chuva. Como vimos que tinha previsão nesta semana, arriscamos e plantamos hoje [segunda-feira], mas o certo é primeiro chover”, comenta.
Na segunda-feira, 3, quando conversou com a reportagem, o produtor explicou que seria necessário chover, pelo menos, 30 milímetros para ‘quebrar a dormência’ do azevém’ para que ele possa germinar. “A falta de chuva está atrasando tudo”, destaca. Para Horn, essa situação causará prejuízo para a alimentação dos animais, porque também atinge o desenvolvimento dessa gramínea forrageira.
Se o plantio do azevém tivesse sido feito na época de costume, na metade de abril, seria possível colocar os animais para pastorear no fim deste mês. Agora, o produtor precisa esperar que tenha chuva boa para a gramínea se desenvolver. “Tudo que se planta, se arrisca, porque se não sabe o vai colher”, comenta. Horn lembra que ano passado, o plantio do azevém foi muito positivo. “Consegui semear cedo e teve chuva boa”, recorda.
O morador de Vila Santo Antônio utiliza como base para alimentação do plantel ração e silagem e a pastagem é um complemento. O produtor ainda esclarece que diferente do milho, que com pouca umidade brota, o azevém precisa de uma boa quantidade de chuva para começar a germinar. No mesmo local em que faz a pastagem de inverno, o casal planta milho para silagem entre novembro e março. Eles também têm uma área de pastagem permanente de tifton.
Custos
Segundo o chefe do escritório municipal da Emater, Claudiomiro da Silva de Oliveira, para o bom desenvolvimento das pastagens é necessário que se tenha chuva normalizada. Ele analisa que o principal problema enfrentado é a distribuição da chuva, por que há períodos com grande concentração e outros com estiagem.
Com o atraso do plantio da pastagem de inverno, usada pelos produtores para complementar a alimentação dos animais, ele explica que pode acontecer o aumento no custo de produção, pois será necessário utilizar uma quantidade maior de ração e silagem para compensar a demora para utilizar as pastagens. Por isso, ressalta que é importante o produtor ter reserva de alimentos.
Além disso, ele lembra que, por não ter sido plantada na época correta de cultivo, pode acontecer a queda no volume da pastagem e também há uma tendência pequena de queda na produção. Sobre o gado de corte, ele relata que a situação é semelhante, pois com a falta o uso das pastagens será necessário aumentar o uso dos outros alimentos para que ele atinja o peso ideal.
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