Quem cresceu em região produtora de tabaco deve ter na memória que o plantio geralmente ocorria em agosto. Mas, nos últimos anos, há quem já vinha plantando em julho e, ainda num movimento recente, tem que vai para lavoura em junho ou mesmo fim de maio.
Essa antecipação maior também tem ‘conquistado’ cada vez mais adeptos e o que se vê em muitas propriedades – em semanas onde tradicionalmente os produtores começariam a semeadura nas bandejas – são mudas grandes, que preenchem os canteiros e já estão sendo transplantadas para a terra. É o caso de Gerson Heinen, que na última quarta-feira, 1º, já começou o plantio na propriedade onde mora, na Vila Rica, próximo à Linha Estrela, interior de Venâncio Aires. Essa será a sexta safra com o chamado ‘tabaco do cedo’. “Queremos fugir do calor, isso judia demais da gente e da planta. Mas o principal também é que dá uma folha mais pesada e isso influencia muito na qualidade”, destacou o agricultor, de 48 anos.
A expectativa é ter os 59 mil pés colhidos em outubro, talvez novembro, e vendidos ainda antes do Natal, como aconteceu em 2021. “Tem muito conhecido meu fazendo isso, como na região da Estância Nova e Cerro dos Bois. E eu, depois de cinco safras, foi a melhor escolha.”
Embora especialistas e a própria Emater alertem que sempre há riscos com essa antecipação, devido a possíveis ondas de frio e geadas intensas, Heinen se disse tranquilo. “Se manter a terra limpa, sem capim ou coisas que ‘prendem’ a geada, não vai matar o pé. Aqui está dando certo. A única incerteza é o granizo, mas para isso sempre tive seguro. Prefiro pagar todo ano, do que receber pelo que perdi.”
Para esta safra, Gerson Heinen diminui a quantidade plantada. Nas anteriores, chegou a 80 mil pés, mas, devido à dificuldade em encontrar mão de obra de diaristas e o valor dos insumos, decidiu recuar. Ainda assim, ele está animado para os resultados. “As mudas se desenvolveram bem, estão parelhas. Se continuar nesse ritmo, vai dar uma boa colheita.”
5%
O presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner, revelou que, até o momento, apenas 5% dos produtores já levaram tabaco para as lavouras, o que deve aumentar consideravelmente em 30 dias.
Ainda assim, ele destaca que, proporcionalmente, tem ocorrido aumento na antecipação para junho. “Isso está mais evidente nas últimas três safras, principalmente devido à estiagem na época da colheita. Mas também porque os resultados das safras recentes têm sido melhores para o produtor, com um tabaco de mais qualidade. Claro que sempre é preciso considerar o frio e a geada, que podem prejudicar”, mencionou Werner.
A queda no número de produtores em Venâncio entre as safras 2020/21 e 2021/22 foi de 24%. Em compensação, houve aumento financeiro e a contribuição do tabaco dentro do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA) cresceu quase 10%.
Orientação
A reportagem contatou a China Brasil Tabacos (CBT), uma das maiores empresas de Venâncio Aires, para saber sobre a antecipação do plantio. Conforme a tabacaleira, os períodos ideais para cada região foram determinados ao longo dos anos, com base em pesquisas agrícolas. No caso da CBT, o departamento técnico definiu o período de 15 de junho a 31 de julho como o ideal de transplante para as zonas baixas do Centro do estado.
“Nesses locais, o transplante nesse período, normalmente, garante lavouras com baixa incidência de doenças, o que resultará em folhas mais encorpadas. Além disso, os produtores conseguem encerrar a colheita no máximo até a metade de dezembro, diminuindo o risco de folhas queimadas pelo sol e a colheita ocorrerá em condições climáticas mais favoráveis.”
A empresa informou ainda que, em algumas situações, os produtores resolvem iniciar o transplante de uma parte das lavouras um pouco antes do período ideal. Entre os motivos, fazer um transplante escalonado para melhor administrar a mão de obra disponível na propriedade ou, então, antecipar o semeio de milho ou soja após a colheita do tabaco.
Com o risco de geada, a CBT sugere que os produtores preparem uma reserva de mudas, para o caso de ocorrência de replante acima da normalidade. “Além disso, nesses casos, é muito importante escolher cultivares com ciclo mais longo, para evitar que as plantas de tabaco apresentem florescimento precoce, por ficarem mais tempo expostas à baixa temperatura ao longo do seu ciclo de desenvolvimento.”
Projeção
• A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) ainda não tem uma projeção do que deve ser cultivado na safra 2022/23, mas, pelo que chega de informações gerais na associação é de que deve ter uma redução na produção do Virgínia (5%) e do Burley (6%), considerando que a atual safra deve fechar em cerca de 557 mil toneladas no Sul do Brasil.
• Segundo Benício Werner, embora os preços pagos neste ano tenham animado produtores, isso não deve ser estímulo para aumentar a área plantada. “Já temos orientado que não excedam o plantio, porque provavelmente não teremos a mesmo procura. A tendência é que os países africanos aumentem sua produção, portanto haverá mais tabaco disponível.”
• O presidente também chama atenção para a elevação dos custos de insumos. O aumento do custo de produção vai repercutir agora, devido à grande dificuldade de importação de insumos vindos da China e da mistura de fertilizantes feita na Ucrânia. Então a pandemia e essa guerra impactou na produção e na logística.”
Números em Venâncio, conforme a Emater
Safra – Produtores – VBPA
2020/21 – 3.315 – R$ 177.720.697,50
2021/22 – 2.671 – R$ 196.986.406,80 (parcial)