Depois de ter decretado situação de emergência em 30 de dezembro, por causa dos prejuízos sociais e econômicos causados pela estiagem, principalmente no setor primário, o prefeito Carlos Bohn assinou hoje um decreto de racionamento de água em Mato Leitão. A medida levou em consideração a situação crítica causada pela estiagem, que já deixa em alerta o abastecimento de água para a população e para animais. O município é o primeiro da microrregião a decretar o racionamento.
Entre outras medidas, o documento proíbe a utilização de água da rede pública, de mananciais hídricos e de poços artesianos para diversas atividades que não são consideradas essenciais (veja box). O decreto também autoriza as associações hídricas, que são responsáveis pelo abastecimento de água na cidade e no interior da Cidade das Orquídeas, a aplicarem penalidades de advertência e/ou multa.
A Prefeitura deixou limitado o valor da punição para quem descumprir o que está estabelecido pelo decreto em R$ 265. Em caso de reincidência, a multa pode ser acrescida em 100%. Em casos excepcionais, a água proveniente de mananciais hídricos pode ser usada para atendimento de animais em propriedades.
Associações hídricas
Nas últimas semanas, diversas associações hídricas utilizaram as redes sociais e outros canais para alertar os usuários a respeito do uso consciente da água potável. Como o cenário inspira preocupação e não há perspectiva de chuva em quantidade suficiente para suprir as necessidades já existentes, as entidades se preocupam com as capacidades de recursos hídricos ainda disponíveis nos poços artesianos.
Um exemplo disso é a Associação de Abastecimento de Água (Asagua), que atende os moradores da região central de Mato Leitão, totalizando 880 associados. De acordo com o tesoureiro da entidade, Evandro Luis Lenhart, o momento é de muita apreensão e preocupação. “Cada um vai ter que fazer a sua parte”, ressalta.
Segundo o presidente da Asagua, Dirceu Henkes, nessa quarta-feira, 12, foi contratado um carro de som. O veículo começou a circular hoje, com um texto de conscientização e alerta sobre a situação. A mensagem vai ser divulgada pelos próximos dias, sempre a partir das 18h.
“O primeiro passo é o carro de som, a conscientização em um primeiro momento, mas as pessoas estarão sujeitas à multa também, pois estamos amparados pelo decreto da Prefeitura. A situação é de alerta. Usamos poços artesianos e por isso não temos como quantificar a capacidade que eles ainda têm”, salienta.
Lenhart explica que os usuários que forem vistos usando água de forma indevida, em um primeiro momento, serão advertidos por escrito, e se a situação acontecer novamente, serão multados. Ainda há possibilidade de o abastecimento ser interrompido (corte), caso aconteçam sucessivas reincidências. “Pedimos que todas as pessoas colaborem e, inclusive, façam denúncias se for o caso. Tudo ficará no anonimato”, comenta. Situações irregulares podem ser informadas para a Asagua pelo telefone (51) 99703-6979.
Atuam em Mato Leitão as associações hídricas Duque de Caxias, Santo Antônio, São José, Aurora, Sociedade Travessa Boa Esperança Alta e Asagua.
O que está proibido
• Lavagem de veículos automotores de qualquer espécie, exceto para higienização de veículos dos serviços de saúde, de transporte de passageiros e para cumprimento de protocolos sanitários e afins.
• Irrigação de gramados, hortas, jardins e floreiras, bem como qualquer outro uso considerado não prioritário.
• Reposição parcial ou total ou troca de água de piscinas de entidades, associações ou residências.
• Lavagem de calçadas e telhados de prédios comerciais, industriais ou residenciais.
“É preocupante, precisamos poupar a água”, alerta secretário de Agricultura
O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, João Carlos Machry, lamenta a grave situação enfrentada no município. “Os açudes estão salvando as propriedades. Córregos e arroios estão simplesmente secando. A lavoura já foi e agora só chovendo regularmente”, avalia. Na manhã de hoje, Machry acompanhou o trabalho de máquinas da Prefeitura em uma propriedade de Vila Arroio Bonito.
A família de Renato Guindani pediu auxílio para limpar um reservatório de água. “Está secando tudo. Não sei como vai ser com a água para os animais”, resumiu o agricultor. Ao lado da esposa e dois filhos menores, Guindani tira o sustento de cerca de 50 vacas de leite e corte. Um pequeno açude, usado para garantir a água, está praticamente seco e o pouco de água que resta é de péssima qualidade.
Além de auxiliar com serviços de retroescavadeira para limpar um reservatório, a Prefeitura transportará água com um trator/tanque com capacidade de cinco mil litros, o que garantirá o abastecimento por alguns dias para o gado. Essa água está sendo retirada de outros açudes da localidade.
Demanda
O transporte de água para animais já supera 30 mil litros em determinados dias. Já foram atendidas propriedades em Vila Arroio Bonito, Linha São João, Sampaio Baixo, Vila Sampaio e Duque de Caxias. “Recebemos pedidos por serviços a todo instante. A situação é muito preocupante, precisamos poupar a água. Está começando a faltar água para os animais e não temos muitas opções de onde tirar”, lamenta o secretário de Agricultura.
O setor primário acumula prejuízo superior a R$ 15 milhões. “Desde 10 de dezembro já fechamos 164 silos em diversas propriedades. A grande maioria do milho cultivado para vender o grão foi utilizado para fazer silagem”, informa Machry. (Com informações da Assessoria de Imprensa da Prefeitura)