A frase pode parecer clichê, já apareceu em campanhas publicitárias e virou até música, mas o fato é que é uma verdade incontestável: mais do que nunca, também em Venâncio Aires, o agro é top, é pop e está ‘na moda’. Claro que não é de agora que a agricultura mostra sua importância para a economia do município, mas em 2022, especialmente, ela alcançou uma marca recorde: mais de R$ 518 milhões no Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA). Meio bilhão de reais em vendas de milhares de produtores e cuja rentabilidade também vira retorno para a Prefeitura.
Nesse valor, o principal carro-chefe é o tabaco que, conforme os dados de janeiro a novembro, o colocavam com mais de 50% de participação no VBPA. Mas, num território onde há mais de 60 atividades primárias, o crescimento ocorre, também, pela diversificação. Grãos, bovinos, suínos, leite, frutas e hortaliças potencializam a cada temporada, mas há um outro setor que tem tido um crescimento realmente ‘vertical’ e cujas projeções futuras continuam indicando subida. Trata-se da avicultura, que já somou R$ 86,5 milhões em 2022 e representa a segunda maior fatia nas receitas do valor da produção agrícola, com 16,7%. Comparada a ela própria, cresceu nada menos que 89% em dois anos – tinha VBPA de R$ 45,6 milhões em 2020.
Para o ano que vem, a expectativa é continuar a escalada, já que a projeção é aumentar quase 50% a produção de aves de corte – mais 5,3 milhões de frangos sobre os atuais 11,5 milhões de animais. Essa capacidade será possível porque o município tem 17 aviários com previsão de entrar em operação, se somando aos 36 hoje existentes. Entre as estruturas novas, há as que já têm verba liberada e outras em construção, como é o caso da família Baierle, de Vila Arlindo.
É numa das subidas no entorno do Cerro do Baú que dois aviários de 2,4 mil metros quadrados cada já estão de pé, à espera, ainda, de instalações para água, comida, energia e cercamento. A capacidade total será de 90 mil frangos. “Acho que tudo fica pronto em março e eles devem entrar em operação entre abril e maio”, projeta Thales Lopes Padilha Baierle, 27 anos. Junto com o pai, Gilmar, eles estão entre os ‘novatos’ com aves de corte, mas a ideia não é tão recente. “O pai já falava de aviário há muitos anos, para diversificar, porque houve momentos que o fumo estava complicado”, relata o jovem, que ainda tem o tabaco como principal atividade na propriedade.
Foi em 2022, então, que fizeram o financiamento de R$ 3 milhões junto à Sicredi e serão integrados à BRF. “O investimento é alto, mas a avicultura está se mostrando rentável e uma alternativa para outras atividades. Acho que principalmente para quem pensa a sucessão rural, que é meu caso com o pai”, complementa Thales.
Histórico
Romper a barreira de meio bilhão de reais de receitas geradas na agricultura Venâncio Aires é histórico e deve ser ainda maior, já que o relatório da Emater dos R$ 518 milhões contabiliza o período de janeiro a novembro.
“É a primeira vez na história que passa dos R$ 500 milhões, mas já era algo que a gente projetava há cerca de 10 anos. Na verdade, com o que ainda tem para entrar em dezembro de notas fiscais, pode chegar a R$ 530 milhões em 2022”, destaca o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin.
O engenheiro agrônomo ressalta ainda a força da avicultura de corte, com a quantidade de projetos de aviários que estão em andamento ou em vias de sair do papel. “Talvez ainda não em 2023, mas é provável que em 2024 vamos romper a barreira dos R$ 100 milhões.”
Liderança no VAF
A avicultura é destaque nos maiores produtores rurais por Valor Adicionado Fiscal (VAF) de Venâncio Aires ano-base 2021. Nas cinco primeiras posições, quatro delas são ocupadas pelo setor, incluindo a liderança, que ficou com o Condomínio Avícola Venâncio Aires.
A estrutura em Linha 17 de Junho, que entrou em funcionamento em 2020, tem oito galpões com capacidade total de 275 mil frangos, sendo seis lotes por ano. São atuais 21 associados, incluindo a própria Dália Alimentos, que também tem sua cota.
Além do Condomínio Avícola, estão entre os cinco primeiros os produtores Roberto Milton Mallmann (segundo), Juares dos Santos (quarto) e Elton Roberto Hein (quinto). Esse trio, aliás, tem suas respectivas propriedades e aviários em Linha Herval.
25% – é o que cresceu o VBPA de Venâncio entre 2021 e 2022.
Tabaco volta a superar os R$ 200 milhões
O VBPA 2022 ainda deve variar até o fim de dezembro, mas no caso do tabaco os valores já estão fechados devido ao período de compra. Assim, já é possível afirmar que os R$ 273,9 milhões também são uma marca histórica.
Isso porque a última vez que o tabaco superou a barreira dos R$ 200 milhões foi em 2010, com R$ 209,2 milhões. “Tem havido redução de área e de produtores, mas está com boa qualidade e as empresas pagaram bem na última safra”, avalia Vicente Fin. Com isso, a valorização do tabaco também puxou para cima as receitas e a atividade deve alcançar 50% de representatividade, a maior fatia do VBPA no ano.
A valorização também foi atestada por Thales Baierle que, junto com o pai, Gilmar, plantaram 165 mil pés nesta safra. “Pagaram bem melhor ano passado e a expectativa é de novamente ser valorizado. O fumo melhorou, então, por enquanto, mesmo com os aviários, vamos seguir com a lavoura, mas sem depender só dela”, informa o jovem.
Conforme dados da Emater, em 2005 o tabaco representava 83,53% do VBPA (R$ 106,9 milhões); depois caiu para 74,81% em 2010, para 60,36% em 2015 e chegando abaixo dos 50% em 2020. No entanto, mesmo com a queda na representatividade dentro do valor agrícola, em valores absolutos de receita a produção tabacaleira cresceu 156% nos últimos 18 anos.
Grãos
• No relatório parcial da Emater, também chama atenção o crescimento da soja e do arroz. Enquanto a soja cresceu de R$ 37,8 milhões em 2021 para R$ 40,4 milhões em 2022, o arroz cresceu 67% em valores – R$ 5,7 milhões para R$ 9,7 milhões.