Atualmente, é natural para o casal Gilmara Francke, 44 anos, e Rogério Jochims, 54 anos, de Potreiro Grande, interior de Passo do Sobrado, viver da venda de hortaliças, mas essa cultura foi entrando aos poucos na vida deles. Desde que casaram, há mais de 25 anos, eles plantavam tabaco, mas com a chegada da filha Emanuelly Francke Jochims, 7 anos, decidiram mudar o estilo de vida e se dedicar mais ao cultivo de alimentos saudáveis.
Eles recordam que na resteva cultivavam hortaliças, mas o foco principal da família era o tabaco. Em 2013, com o nascimento da filha, o casal decidiu parar com o tabaco e aumentar a produção das frutas e verduras. “No primeiro ano usamos um pouco de veneno, pois estávamos aprendendo ainda, mas com o tempo percebemos que para nossa saúde era melhor ter um pouco mais de serviço ao cuidar e fazer tudo sem veneno. A mudança começou primeiro na nossa mente, de ver que realmente era por saúde, pela nossa e pela dos outros”, relata Jochims.
Para preparar a terra e manter o espaço dos alimentos, o casal utiliza apenas roçadeira costal e máquina de cortar grama, sem nenhum tipo de trator ou outro maquinário. Além disso, é utilizado adubo químico, por isso a parte das hortaliças não é considerada orgânica, mas sim cultivo limpo. “Tem gente que nos chama de louco, porque faço tudo com a mesma máquina usada na grama normal. Tem brejo, muitas vezes, porque, como não colocamos veneno, nem sempre vencemos em estar tudo parelho. No primeiro ano eu me incomodava com isso, de ter brejo perto dos alimentos, mas hoje vejo que é a foma natural”, afirma Gilmara.
COTIDIANO
Pelas 6h, Jochims já está na horta, cuidando das plantas. Por não utilizar agrotóxicos, ele ressalta que corre maiores riscos de perda, em função dos fungos e larvas, e até mesmo do tempo. “Na última safra de melancia começamos a vender e estava um espetáculo. Depois começou a chover muito, em três dias perdemos tudo”, lembra o produtor.
No entanto, pelo aspecto positivo, Gilmara destaca que é muito fácil e bom poder colher, lavar e comer algo que a família mesmo plantou, pois tem qualidade e até o gosto muda. “É mais gostoso colher e comer na hora, sem agrotóxicos até fica mais saboroso o produto.”
Essa rotina de manter a horta sempre cheia, além de garantir o sustento da família pela comercialização, também assegura alimentos saudáveis na mesa em todas refeições. Durante a pandemia de Covid-19, a produtora afirma que isso ajudou a família, pois não havia a preocupação de faltar alimentos, caso não tivessem venda. “Com muitos alimentos eu não preciso me preocupar em comprar no supermercado. É só eu sair até o pátio para pegar”, observa.Além disso, essa rotina de ter o cultivo limpo (sem agrotóxicos), garante que a filha Emanuelly tenha uma infância mais saudável. “A gente aprendeu a comer coisas diferentes, a Manu sai pela horta, colhe um brote de caruru e come. As outras pessoas acham que é brejo, mas a gente sabe que são folhas boas. Muitas vezes pegamos o caruru, serralha, espinafre e fizemos uma farofa natural. E é uma opção de comer, por saúde”, conta a mãe.
APOIO
Desde que decidiu se dedicar apenas às hortaliças, o casal teve apoio da Emater do município. A preparação com estudo sobre o assunto e o suporte de profissionais da área ajudaram muito no desenvolvimento da propriedade. “Até hoje eles nos ajudam, mas no momento podemos dizer que já ‘caminhamos com as próprias pernas’, mas é um auxílio fundamental”, ressalta Gilmara.
Os clientes também são fundamentais, segundo o produtor que participa toda sexta-feira da feira municipal dos agricultores, chamada de Feira Ecológica. “A Gilmara coloca no Facebook uma noite antes da feira os produtos que vamos ter, pois ela também faz pães, cucas e outros. Muitas vezes, quando chego de manhã na feira, quase todos produtos já estão reservados para clientes. Temos uma saída boa”, avalia Jochims.
Outro incentivo que eles consideram importante são os da merenda escolar, Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e também pelo Programa de Aquisição Alimentar (PAA), que oferece cestas básicas de alimentos para famílias em vulnerabilidade social, dos quais o casal participa. Muitos produtos da propriedade acabam indo para as escolas municipais e são consumidos pelas crianças.
“Acredito que não dá mais dinheiro que o tabaco, mas garante uma vida mais saudável para nós, para nossos clientes e ainda trabalhamos com algo que dá prazer.”
GILMARA FRANCKe
Produtora
- Orgânicos
Uma parte da propriedade, onde a família planta árvores frutíferas, já recebeu a certificação orgânica. “Plantamos frutas, mas ainda não colhemos, pois faz dois anos. São citros e ameixa”, afirma o produtor.
HORTALIÇAS
- Conforme os agricultores, por não usar agrotóxicos, a época de cada planta deve ser ainda mais respeitada. Por isso, a produção varia bastante. São cultivados no momento do inverno brócolis, couve-flor, repolho, rúcula, couve e outros. Depois começam a cultivar as de verão, como melancia, vagem, milho verde, melão, tomate e outros.
- A Emater estima que são cerca de 25 família produzem hortaliças para comercialização em Passo do Sobrado. E a expectativa é de produzir por ano, 39 toneladas de alimentos. “O aumento do cultivo de alimentos tem sido uma boa opção de diversificação nas propriedades. As cadeias curtas de produção movimentam a economia dos municípios além de proporcionar alimentos de qualidade a população”, comenta a extensionista rural social da Emater de Passo do Sobrado, Ana Claudia Miotto,
- Emater incentiva a produção de alimentos através de assistência técnica em diversas áreas, desde o cultivo até a comercialização. Com visitas às propriedades, apoio à elaboração dos projetos e venda bem organização dos produtores para a comercialização.
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